quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Injustificável orçamento ordenatório

Uma comissão especial da Câmara dos Deputados aprovou Proposta de Emenda à Constituição – PEC, instituindo o orçamento impositivo, com a finalidade de obrigar o Executivo a liberar os recursos referentes às emendas parlamentares constantes do Orçamento da União. Na forma orçamentária vigente, essas emendas são apenas medidas autorizativas, não tendo o efeito coercitivo pretendido pelos “nobres” congressistas. Na prática, o modelo atual permite que o governo somente repasse os recursos das emendas parlamentares quando há necessidade de aprovação de projeto de seu interesse, em sintonia com o costumeiro jeitinho brasileiro do vergonhoso “toma lá, dá cá”, em que os inescrupulosos parlamentares impõem o seu poder legislador sobre os interesses da nação e da sociedade, infringindo os comezinhos princípios da moralidade e da honestidade. É consabido que as emendas parlamentares se destinam à realização de projetos de interesse paroquianos, quando realizados nas bases eleitorais, mas quase sempre ninguém conhece o benefício resultante da aplicação das verbas pertinentes. Caso seja aprovada a PEC em causa, as emendas parlamentares serão obrigatoriamente liberadas, por constituir imposição constitucional ao Executivo, que compete defini-las previamente como prioritárias. Quando se esperava que os congressistas tivessem a dignidade de raciocinar sobre a realidade brasileira, aproveitando os sinais de alerta disponibilizados pela população, que deixou muito clara a falta de responsabilidade dos políticos, eis que os parlamentares vislumbram invadir a exclusiva competência do Executivo de gestor do Orçamento da União, como principal órgão incumbido, na forma da Constituição Federal, de arrecadar as receitas e realizar as despesas, à luz dos programas, projetos e atividades consubstanciados no aludido orçamento, não cabendo ao Congresso se apoderar senão do quinhão orçamentário que diz respeito à sua manutenção constitucional, que já extrapola em muito à normalidade funcional, por constituir ultrajante absurdo em termos de gastos desmedidos e esbanjadores, totalmente injustificáveis, considerado o custo-benefício em relação às atividades legislativas, que não correspondem às expectativas da sociedade e às obrigações de satisfazer com produtividade os interesses nacionais. A aprovação do orçamento impositivo certamente poderá contribuir, de modo significativo, para aprofundar ainda mais o fosso da desmoralização e do descrédito quanto à atuação dos “denominados” representantes do povo, que são pródigos em aprovar medidas em benefício próprio, contrastando com os princípios da ética, da moral, do decoro e da democracia, que não poderiam ser desprezados no contexto da modernidade e dos avanços da humanidade. Os parlamentares apenas confirmaram a indecorosa coerência de contradição no exercício do mandato eletivo - quando atuam em exclusiva defesa de seus interesses - com a real finalidade da função de representar o povo. Esse indecente orçamento impositivo contrapõe às reclamações da sociedade, que invadiu as ruas para protestar contra o desgoverno, as incompetências administrativas e principalmente a desmoralização dos congressistas, que não têm o menor escrúpulo em trabalhar em benefício das suas causas, sem o sentimento e a consciência democráticos de serem úteis à sociedade, cuidando da melhoria e do bem-estar do povo. A sociedade tem o dever patriótico de se sentir indignada diante da prepotência e dos abusos praticados pela pura arrogância dos parlamentares, que são incapazes de enxergar os reais fins para os quais foram eleitos, que seriam prestar serviços exclusivamente ao cidadão, não podendo jamais aprovar medida que os beneficiem, sob pena de extrapolação do poder legislador para o qual foi investido pelo sufrágio universal. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 06 de agosto de 2013

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