quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Gastança, a doença dos congressistas

O Senado Federal, em contraste com a chamada pauta ética estabelecida pelo seu presidente, gastou, em apenas seis meses, a “bagatela” de R$ 5,1 milhões com despesas médicas no Sírio-Libanês, superando 70% do valor despendido durante o ano de 2012, na cifra de R$ 3 milhões, com consultas, emergências e atendimentos complementares a diagnósticos e tratamentos diversos a congressistas, dependentes, servidores e até ex-senadores e seus cônjuges. O atual presidente do Senado prometeu economizar R$ 6 milhões com a extinção do serviço médico ambulatorial, mas essa expectativa fica longe de se confirmar devido ao expressivo aumento das despesas com o plano de saúde, em razão do pagamento das consultas médicas, fato que evidencia a falta de racionalidade na adoção daquela medida. Os políticos não escondem a preferência pelo aludido hospital, em especial nos casos de checkups, tratamentos e cirurgias. Essa preferência se torna ainda mais acentuada pelos parentes dos congressistas e ex-senadores que também têm direito ao plano de saúde do Senado, sem o pagamento de nenhuma contrapartida. Sem disfarçar a hipocrisia diante da precária assistência médica à população, um senador, que foi atendido no Sírio, disse: "Nessa questão de saúde, quando você tem cobertura é melhor ser atendido lá do que em centros menos desenvolvidos". As despesas com assistência médica dão a impressão de que a Câmara Alta está no país das mil maravilhas, onde o sistema de saúde pública funciona em absoluta harmonia com a perfeição, não havendo necessidade de esforço para propiciar satisfatório tratamento médico-hospitalar à população, nos padrões de qualidade compatíveis aos países desenvolvidos. Causa enorme desânimo para a sociedade brasileira ter que enfrentar a realidade cruel e desesperadora, ao perceber que existe assistência médica abundante para pouquíssimos, de qualidade, mas falta o mínimo para o restante da população, que é relegada à eterna penúria, embora seja quem paga a fatura da bonança. Este é país dos contrastes e das irrealidades, onde os senhores do poder abusam dos recursos públicos, sem o menor pudor e despreocupação quanto à necessidade de austeridade e de prestação de contas sobre seus atos à sociedade, que os elege e paga a sua manutenção. A função legislativa se tornou também independente na “nobre” missão do absolutismo esbanjador de verbas públicas, em desatinado ímpeto de gastar visando tão somente ao conforto dos congressistas, sem se atinar para as reais necessidades da população desassistida e carente dos tratamentos médicos dispensados fartamente à casta do poder. A sociedade não pode permitir a continuidade dessa forma irresponsável de esbanjar verbas públicas, porque isso representa acinte à realidade de miserabilidade do povo brasileiro, que recente em muito da assistência médico-hospitalar, ante a precariedade do atendimento à saúde pública, justamente pela carência dos recursos gastos de forma desregrada pelo Senado. O abuso com recursos públicos, ignorando a sua escassez quanto à execução de políticas públicas essenciais, contradiz com as atividades parlamentares, que não correspondem aos altíssimos dispêndios com vencimentos, auxílios diversos, verba de representação, ajudas abundantes e demais mordomias, se comparados à produtividade legislativa, que não atende aos objetivos de beneficiar o país e a sociedade. Urge que os parlamentares se conscientizem sobre a necessidade da parcimônia na realização das despesas públicas destinadas às atividades legislativas, evitando que o esbanjamento extrapole a racionalidade e a austeridade que se exigem na gestão dos recursos públicos, a par da notória carência de meios financeiros e materiais para o povo brasileiro, tão necessitado de semelhantes tratamentos médicos dispensados aos congressistas. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 07 de agosto de 2013

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