quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Atos indigestos e Indignos

O governo do Estado do Ceará protagonizou a maior polêmica com a contratação de bufê para servir autoridades, conforme edital que prevê cardápios e serviços abrangendo até 495 pratos diferentes, incluindo receitas preparadas à base de caviar, escargots, bacalhau, salmão, presunto de Parma, funghi, vieiras, frutos do mar, pães exóticos, croissants, toucinho do céu ou trufas etc. Diante dos questionamentos e da censura por parte dos seus opositores, reclamando do absurdo contrato de R$ 3,4 milhões para custear a “farra do caviar”, o governador daquele estado ironizou, em tom de deboche e menosprezo, dizendo que “Posso até tirar os práticos exóticos do buffet, aliás, vou fazer isso, se querem demagogia, vou mandar retirar coisas exóticas desse cardápio. Tudo o que for com nome francês, com nome inglês e com nome russo vai sair. Vai ficar só nome em português”, mas, segundo ele, a mudança não garante que o valor do contrato vai diminuir. Ao classificar a atitude do denunciante de demagógica, o governador disse que “O estado é demandado para fazer eventos e para isso tem que ter um fornecimento. Acho que fizeram uma caricatura, uma demagogia, eu, por exemplo, nunca comi caviar. Em um buffet eu como carne, arroz, feijão, um frango, lamento por isso.”. Correligionário do governador aprova o cardápio, dizendo que "O contrato é lícito, feito através de um processo licitatório. O governador não pode oferecer paçoca, panelada, buchada e sarrabulho somente porque internacionalmente tem pessoas que só se alimentam daquilo que é ofertado pelo buffet". O homem público que não demonstra o menor zelo com a coisa pública, conforme as atitudes de indiferença e de escarnecimento às cobranças de parcimônia com os gastos públicos, não deveria merecer apreço por parte da sociedade, que tem a dever de eleger pessoas compromissadas em administrar os recursos públicos com eficiência e priorização das ações destinadas à resolução das mazelas existentes. No caso do Ceará, é notório que o povo do interior sofre terrivelmente com a inclemência da pior seca da contemporaneidade, mas os gabinetes e o palácio do governador esbanjam comidas excêntricas, finas e fartas, na felicidade do mundinho socialista. A pobreza intelectual do governador cearense é tamanha que ele não percebe que não é somente condenável, à luz dos salutares princípios da moralidade, legalidade e economicidade, a contratação da culinária exótica, francesa, inglesa, russa etc., mas a despesa com alimentos e bebidas e outras mordomias totalmente incompatíveis com a austeridade que deve primar com rigor na administração pública, que tem por exclusiva finalidade satisfazer o interesse público, na forma dos preceitos constitucionais e legais. Cadê o povo que protestou contra vinte centavos e não se manifesta contra milhões gastos com mordomias exageradas e injustificáveis?  Se o Estado do Ceará integrasse país sério e responsável, com certeza os órgãos de controle, como o Ministério Público e o Tribunal de Contas do Estado, determinariam, no estrito cumprimento da sua competência constitucional e legal, o ressarcimento aos cofres públicos dos valores das despesas decorrentes do fornecimento dos produtos e da prestação dos serviços a que se refere o questionado contrato, tendo em conta que o objeto do ajuste não se coaduna com a satisfação do interesse público, sendo incompatíveis com a legalidade e a economicidade que devem imperar na administração pública. A atitude do governador do Ceará demonstra o retrato fiel da pobreza moral e da falta de dignidade dos políticos brasileiros, diante de situação de extremo menosprezo à situação não somente do povo cearense, mas de toda nação, que, em muitos casos, sequer tem o que comer e beber. Não obstante, o governador se acha no direito de contratar bufê com a melhor e mais selecionada culinária para servir seu gabinete e o palácio residencial. O mais triste e deplorável é que ele ainda debocha dos que consideraram a medida afrontosa à dignidade do povo do seu Estado e aos princípios da administração pública. Tudo não passa de pura arrogância e prepotência desse socialismo que somente ilude as pessoas de boa vontade, porque, na realidade, a classe dominante esbanja, esbalda e esnoba em nome do social. Assim como vão ser tirados os nomes estrangeiros do contrato da vergonha, os cearenses deveriam ter dignidade para, na hora de votar, tirar o nome do seu governador da vida pública, como forma de moralizar a democracia e dar bons exemplos às pessoas que ainda acreditam em esperança e honestidade na gestão dos recursos públicos. A sociedade, a par de repudiar a indignidade e indecência em causa, anseia por que o homem público tenha a grandeza, humildade e sensibilidade de reconhecer que os atos administrativos devam se ajustar não somente ao formalismo da norma legal, mas sobretudo à realidade socioeconômica do país, em homenagem aos princípios fundamentais da democracia. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 21 de agosto de 2013

Nenhum comentário:

Postar um comentário