Sem o menor senso de espírito público e até
humanitário, por contrariar os comezinhos princípios de racionalidade
administrativa, a alimentação do governador do Distrito Federal está planejada
para um ano, pasmem, com o consumo de “apenas” 21 toneladas de carne, como filé
mignon, picanha, coxão mole, camarão grande, médio, sem cabeça, bacalhau do
porto, pato, hambúrguer, badejo, atum, filhote em postas e de enorme quantidade
de seletos gêneros de primeiríssimas qualidades. Afora os absurdos como a
compra de 360 caixas de ovos de codorna, com 30 unidades cada, 312 pacotes de
canela em pau, tapioca, iogurte natural e cremoso e todo tipo de alimentos, num
total de 464 itens, conforme pregão promovido pela Casa Civil do governo de
Brasília. A alimentação do governador e de seu staff tem orçamento previsto para R$ 1,4 milhão, tendo havido
acréscimo das despesas de 18% em relação à licitação do ano anterior. Não
fossem as excentricidades com as qualidades e quantidades dos produtos, há
ainda inexplicáveis exigências, a exempla dos 840 pacotes de café, o qual terá que
ser torrado e moído do tipo superior, de primeira qualidade, em pó homogêneo,
constituídos de grãos tipo 6 COB, com no máximo 10% em peso de grãos com
defeitos pretos, verdes e ou ardidos (PVA) e ausente de grãos preto-verdes e
fermentados. Terá de ter gosto de café arábico e laudo de avaliação emitido por
laboratório credenciado nos Ministérios da Saúde ou da Agricultura, realizado
há no máximo três meses a contar da data de entrega do produto. O governo do
Distrito Federal esclareceu que a quantidade de comida é baseada no consumo do
ano anterior, as compras somente são feitas em conformidade com as necessidades
e, além do governador e sua família e das autoridades que frequentam a
residência oficial, existe seu staff
de 70 funcionários (pra que tanta gente?), que se alimentam diariamente. Segundo
o governo de Brasília, em 2013 foram servidas 123,3 mil refeições, com a média diária
de 338 refeições, ao custo unitário de R$ 9,74. A farra e o exagero das
despesas somente com alimentação, à custa do dinheiro dos bestas dos
contribuintes, tiveram justificativas, embora absurdas e esfarrapadas, de que
"as alterações de itens e
quantitativos em relação ao processo licitatório do ano anterior encontram
justificativa no fato de que Brasília será uma das sedes da Copa do Mundo este
ano, o que levou o GDF a, preventivamente, adotar medidas para recepcionar
autoridades e delegações estrangeiras na capital federal". O governo
que presa e zela pelo patrimônio da sociedade deve se preocupar ainda mais com
a economia de seus gastos, quanto mais no ano da Copa do Mundo, para a qual o
Distrito Federal teve o maior desperdício com a construção do maior elefante
branco da história brasileira, ao gastar aproximadamente R$ 1,5 bilhão em obras
que não terão a menor serventia depois da copa, além dos enormes gastos de
manutenção do estádio inútil. O que mais intriga as pessoas sensatas e com um
pouco mais de cultura política é a tremenda insensibilidade dos petistas, com
relação aos gastos públicos, porquanto, no discurso muito bem ensaiado, tendo
por base a enganosa e mentirosa ideologia pública do partido, de que eles são o
"partido dos pobres e dos oprimidos", que conseguiu revolucionar a
vida dos miseráveis do país, em demonstração de pioneirismo, com suas políticas
meramente assistencialistas, apesar de, sabidamente, elas terem finalidades
exclusivamente eleitoreiras, mas mantidas com substanciais recursos oriundos
dos escorchantes tributos, cobrados sem o menor pudor quanto aos princípios de
racionalidade dos gastos públicos, em termos de efetividade acerca das
finalidades primaciais do Estado, que são de atendimento ao interesse público,
sem qualquer distinção nem preferência na aplicação das verbas públicas. Na
realidade, os socialistas da atualidade e de ocasião são verdadeiros gastadores
em mordomias, regalias e esbanjamentos com dinheiros públicos, e se comportam
em extrema contemplação com o elitismo, por terem vida encastelada e cercada de
completo esbaldo à custa impiedosa do dinheiro público. Trata-se de verdadeiro
partido que se acostumou a pregar, na teoria, o melhor discurso do planeta,
mas, na prática, é aquele que se apresenta com a manutenção da melhor gastança,
a exemplo da bem abastecida despensa do palácio residencial do governador candango,
abastecida com os melhores gêneros e as absurdas e injustificáveis quantidades,
em absoluta incoerência com o que se alardeia como sendo o partido dos pobres,
dos trabalhadores e dos oprimidos. O serviço público, não somente na capital da
República, não faz a mínima ideia do que seja racionalidade, economicidade e
principalmente parcimônia com a execução das despesas públicas, justamente pela
maléfica cultura consolidada e errônea de que a dotação para esse tipo de gasto
consta do orçamento e, por isso, o administrador tem o direito de empenhar os
recursos e gastá-los à vontade, sem o menor pudor quanto aos princípios que
deveriam inspirar o gerenciamento com vistas a se evitar desperdício. É preciso
que o administrador público tenha a consciência sobre o efetivo custo-benefício
das despesas públicas. O episodio de Brasília evidencia a verdadeira ética do
socialismo brasileiro, que defende com a maior intransigência a distribuição de
renda aos pobrezinhos e aos necessitados, mas, em compensação, a sua mordomia
palaciana é invariavelmente de primeira qualidade, sem limites com as melhores
e até exóticas comidas. Não se tem notícia de que os socialistas,
principalmente os petistas, tenham dispensado as mordomias palacianas, os
aviões, os carrões, as seguranças, as bajulações e as exigências das regalias e
das benesses, para se igualarem aos pobres desvalidos e assistidos. São, na
verdade, cobras criadas, que tentam se passar por coitadinhos na vida pública,
mas vivem no mundo do bem bom, à custa das ilimitadas verbas públicas. Compete
à sociedade, repudiando as excrescências e os escárnios com recursos públicos,
eliminar da vida pública, com urgência, os políticos inescrupulosos,
insensíveis, esbanjadores e gastadores sem o mínimo critério sobre os
princípios de austeridade e economicidade, em demonstração de incoerência com o
pregam, de contrariedade à realidade da situação de penúria do povo brasileiro
e de confrontando com as verdadeiras finalidades de satisfação do interesse
público. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 15 de março de 2014
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