quarta-feira, 12 de março de 2014

Evento contrário ao interesse público

O todo-poderoso presidente da Fifa afirmou que, na cerimônia da abertura da Copa do Mundo, não terão discursos, nem seu ou da presidente da República brasileiro, embora ela irá ocorrer normalmente antes do confronto entre Brasil e Croácia, no dia 12 de junho vindouro. Ele disse que “Vamos fazer a cerimônia de uma maneira que não aconteçam discursos”. A iniciativa cautelar da Fifa se deu em virtude das calorosas vaias dirigidas à mandatária tupiniquim, por ocasião do discurso dela na abertura da Copa das Confederações. Na oportunidade, o presidente da Fifa tentou dissimular o impacto dos surpreendentes apupos, tendo indo ao seu socorro pedindo respeito aos torcedores, que resultou infrutífero, por ter, ao inverso, o condão de aumentar ainda mais o coro dos torcedores. Ele acredita que, no período da Copa do Mundo, não surgirão novos protestos no Brasil, por entender que a situação no país "já se acalmou". Em sua opinião, a competição será revestida de sucesso. Não há a menor dúvida de que essa decisão não foi adotada por espontâneas vontade e iniciativa do presidente da Fifa, que não tem nada a perder, em termos de desgaste político, com o episódio, havendo ou não discursos. Certamente que não fazer discursos tem o dedo mágico do Palácio do Planalto, pela absoluta certeza de que a mandatária tupiniquim poderia passar, mais uma vez, pelo vexame e constrangimento de perder a voz e a compostura na abertura de evento de suma importância para seus planos de reeleição. É evidente que o mundo vai deixar de ouvir discursos certamente cheios de inverdades sobre a Copa do Mundo que não agrada expressiva parcela da população brasileira, que não concorda com os abusivos e absurdos gastos com recursos públicos para as obras de construção e reformas dos estádios, quando foram desprezadas as reais prioridades que somente a incompetência de homens públicos impede o vislumbre da verdadeira dimensão das enfermidades que infernizam a vida de muitos brasileiros, que não pode dispor da prestação de serviços públicos nem de longe comparável à qualidade das obras providenciadas, com o indispensável zelo, segundo as orientações da Fifa, para o acolhimento da Copa do Mundo. Não há dúvida de que o anúncio parece se harmonizar com a sabedoria popular, segundo o qual gato escaldado tem medo de água fria, a confirmar o pavor da presidente de que algo semelhante possa se repetir, como os fatos horripilantes ocorridos na abertura da Copa das Confederações, quando ela foi alvo de sonoras vaias e não conseguiu pronunciar seu discurso, naturalmente preparado com os floreios para enaltecer o esplendor das obras custeadas com o suor dos bestas dos contribuintes. Na verdade, a experiência traumática e desagradável parece que trouxe importante ensinamento para a presidente, que prefere se precaver, receosa de que poderia entrar novamente numa saia susta imperdoável para seus planos políticos de reeleição. Ou seja, a experiência pode ter valido como precisa advertência para que não se repitam situações semelhantes ocorridas no passado não muito distante. O presidente da Fifa tem generoso e sábio gesto de altíssima sensibilidade, ao anunciar que não haverá discursos por ocasião da abertura da Copa do Mundo, pois só assim o mundo vai ficar livre de ouvir inverdades totalmente dispensáveis para o povo civilizado, que não suporta, com razão, ouvir, nem mesmo em solenidade desportiva, discursos sem o mínimo de conteúdo, que também não teria qualquer contribuição para coisa alguma. Até para isso a Copa das Confederações prestou relevantes serviços, ao poupar os telespectadores do desgaste de se ouvir discursos ridículos de sempre, constituídos por nenhum conteúdo. O mundo agradece a sensibilidade, embora induzido por sentimentos alheios, demonstrada pelo presidente da Fifa, cujo anúncio se harmoniza com o bom sendo e a civilidade. Não obstante, o presidente da Fifa acaba de mostrar que é antipovão e contra os sentimentos dos brasileiros que não suportam mais as precariedades dos serviços públicos prestados pelo governo, por não permitir que a galera se manifeste para todo mundo ouvir a confirmação dos atos de insatisfação e de inconformismo do povo contra a administração do país, cuja gestão, antes de promover a Copa do Mundo, padrão Fifa, teria a obrigação de cuidar do saneamento das mazelas nacionais. O certo é que, mesmo sem discursos na cerimônia inaugural da copa, o povão deverá se manifestar do mesmo jeito e com igual intensidade quanto à sua insatisfação diante da realização de evento totalmente dispensável e contrário aos interesses da sociedade. A ausência de discursos na abertura da copa é, induvidosamente, a confirmação antecipada de que o povo continua insatisfeito e precisa gritar ao mundo sobre ela, para que não reste a menor dúvida acerca da sua indignação contra o que realmente se encontra fora dos trilhos e no rumo completamente incerto. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 11 de março de 2014

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