quinta-feira, 27 de março de 2014

Tentativa de ressuscitar a censura

Uma deputada do Partido Comunista do Brasil, eleita pelo Rio de Janeiro, teve recente encontro com o procurador-geral da República, para tratar da representação que ela pretende promover contra a intrépida, lúcida e competente jornalista apresentadora do jornal do SBT e a própria rede de televisão SBT, por suposição do fazimento de apologia e incitamento ao crime, à tortura e ao linchamento, em decorrência de opinião emitida por ela, quando um suposto bandido foi acorrentado num poste. Com certeza, a deputada carioca poderia ter tido ideia bem mais feliz se a sua iniciativa de se reunir com o procurador-geral da República fosse para viabilizar mecanismos capazes de encontrar algum caminho favorável ao efetivo combate à delinquência, atacando suas causas e propiciando necessárias condições para a valorização do ser humano, de modo que as pessoas possam ser acolhidas no seio da sociedade, com fraternidade, mediante, entre outras medidas, a implantação de políticas públicas destinadas à qualificação, à profissionalização e ao encaminhamento das pessoas ao mercado de trabalho. Na verdade, a opinião da jornalista reflete exatamente o pensamento de significativa parcela da sociedade, que elege muitos parlamentares que não têm nenhum compromisso com a busca da dignidade das pessoas que vivem no mundo da criminalidade, mas, certamente, poderia contribuir, de forma efetiva, para a diminuição da violência, uma vez que seria resolvida a principal causa dessa chaga social: a falta de condições para se evitar o ingresso na delinquência. A opinião da jornalista tem o respaldo da sociedade que não aguenta tanta indiferença das autoridades públicas com a situação de calamidade pública que abrange também a segurança pública. Não somente a deputada, mas os demais parlamentares até que poderiam ser pouquinho mais inteligentes para se espelharem na competência e na preocupação manifestadas pela jornalista com as causas sociais, com vistas a vislumbrar a precariedade que grassa na segurança pública do país e perceberem que a desgraça imposta à sociedade não pode persistir, devido à incompetência, à omissão e ao comodismo de quem tem a responsabilidade de adotas as medidas capazes de solucionar esse câncer da violência. Há milhares de questões a serem enfrentadas e questionadas, com urgência, mas a parlamentar pretende penalizar a excelente jornalista que emitiu correta opinião acerca da violência exposta na Cidade Maravilhosa, em demonstração de censura à profissional da imprensa, que vem prestando relevantes serviços com a informação dos fatos do dia a dia à sociedade, inclusive relacionados à deprimente criminalidade. Na realidade, a intenção da deputada não passa de censurar o livre exercício da democracia, em que o cidadão dispõe de amparo constitucional de se expressar com liberdade, inclusive para mostrar as deficiências da administração do país, como é o caso da insegurança e da intranquilidade da população, que jamais deveria ser constrangida a passar por situação tão humilhante, em virtude de ser submetida a uma das mais pesadas cargas tributárias do mundo, que seria, inclusive, justamente para ter assegurada a dignidade de ir e vir, com absoluta certeza de voltar em paz para o seu lar. É inadmissível que o país, grandioso como o Brasil, considerado a sexta economia do mundo, ainda tenha políticos que desconhecem a essencialidade objetivada pelo nobre exercício das funções públicas, quanto à necessidade de ser propiciado o bem comum pelo Estado, que, no caso, seria a adoção de ações públicas com a finalidade de melhorar as condições de vida da população, com consequente arrefecimento da violência. Não obstante, é impossível o atingimento do sonhado bem comum com atitudes nada condizentes com a sua consecução, como é o caso pretendido pela deputada, que apenas preconiza calar a boca de quem tem coragem de se indignar contra o descalabro da violência, em todas suas formas de crueldade e de maldade. Nos termos da Constituição Federal, o cidadão brasileiro tem o direito de se expressar livremente, podendo opinar sobre qualquer assunto, desde que não fira a honra e a dignidade das pessoas, porque isso não se coaduna com os salutares princípios democrático e de civilidade. No caso da jornalista, a sua opinião foi feita sobre fato lamentável de violência que vem infernizando a vida da população brasileira, justamente em decorrência do completo desprezo das autoridades públicas incumbidas de cuidar do combate à criminalidade e à violência, que se banalizaram no país, cujos governantes são lenientes com a recrudescência da delinquência, exatamente por nada fazerem para propiciar segurança e proteção à sociedade. A parlamentar, que, na forma constitucional, é lídima representante do povo, ao invés de se indignar contra correta e corajosa opinião da jornalista, que exerce com muita competência e inteligência a sua nobre missão de informar, deveria mobilizar seus nobres pares no sentido de atualizar a vetusta legislação penal do país, que tanto desmerece e envergonha a grandeza do Brasil, que não demonstra nenhum interesse em acompanhar a modernidade e os avanços do conhecimento humano, quanto à necessidade de ter instrumentos capazes de controlar e combater a criminalidade, como forma de acabar em definitivo a indecente impunidade, que tanto contribui para que a violência seja disseminada em detrimento da segurança e da tranquilidade da sociedade, se não bastasse a sua responsabilidade de manter o funcionamento dos poderes da República, que têm a incumbência constitucional de manter, em nível de qualidade e confiabilidade, a ordem pública e a proteção da sociedade. Não há dúvida de que não é com punição à destemida profissional que a segurança pública vá se tornar eficiente e muito menos que a parlamentar consiga justificar nem de longe o fiel cumprimento da sua função legislativa, porque a precariedade da segurança pública continua inoperante como sempre, desprezada pelas autoridades públicas, que deveriam instrumentalizá-la com a melhoria do seu aparelhamento, mediante salários dignos para o policiamento e aumento do seu contingente, além do seu indispensável aperfeiçoamento e da atualização e reformulação do Código Penal e demais legislações que permitam ajustar o combate à criminalidade e à violência de forma efetiva e eficiente, observada a urgência que o precioso bem da vida exige dos homens públicos, que são eleitos justamente para a consecução do bem comum e do interesse público. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 26 de março de 2014

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