quarta-feira, 26 de março de 2014

A contabilização da incompetência

A Secretaria do Tesouro Nacional informa que a dívida pública federal, compreendendo os endividamentos interno e externo do governo, teve crescimento de 1,03% no mês de fevereiro, chegando a atingir a cifra de R$ 2,06 trilhões. No mês anterior, o endividamento público representava o montante de R$ 2,04 trilhões. Em fevereiro, segundo dados oficiais, houve a emissão líquida - acima do volume de vencimentos de títulos públicos - no valor de R$ 6,47 bilhões na dívida pública federal. No mesmo mês, foi contabilizada despesa com juros no valor de R$ 14,5 bilhões, cujos fatores contribuíram para a elevação do endividamento público nesse deplorável patamar. A aludida secretaria ainda vaticinou ao afirmar que a dívida pública pode chegar ao patamar máximo de R$ 2,32 trilhões no fim de 2014, ou seja, R$ 198 bilhões a mais em relação ao valor contabilizado no fechamento de 2013. Causa estranheza se verificar que o Plano Anual de Financiamento da dívida pública, organizado pelo Tesouro Nacional, estabelece o piso de R$ 2,17 trilhões para o débito público no fim deste ano, o que representaria alta de R$ 48 bilhões em comparação com dezembro do ano passado, quando o normal, à luz da eficiência e da competência administrativa, deveria ser o governo estabelecer metas para redução ao máximo a incontrolável dívida do Estado. Não há a menor dúvida de que o crescimento da dívida pública é altamente prejudicial aos interesses da sociedade, porque evidencia a falta de interesse do governo, representada por sua leniência com a triste situação da dívida, nada fazendo para que haja alguma medida de efetivo combate ao desperdício e o esbanjamento na administração pública, em especial em termos da obrigatoriedade da contenção de despesas. É evidente que a precariedade dos serviços públicos tem o beneplácito da sociedade, que não a repudia nem a recrimina, aceitando, ao contrário, passivamente a expansão das despesas públicas, que são executadas de forma desmedida, em consonância com a incompetência gerencial, que grassa livremente na administração pública, em prejuízo da eficiência administrativa. A eficiência da administração do país poderia ser demonstrada mediante o cuidado e o zelo no equilíbrio entre as receitas e despesas, de modo que estas jamais pudessem ultrapassar aquelas, caso em que fica evidenciada a promiscuidade na execução do orçamento público, que tem por finalidade precípua a satisfação do interesse público, que passa a ser prejudicado quando o governo gasta muito mais do que arrecada, quando então é obrigado recorrer aos bancos, que se beneficiam com o pagamento de juros da dívida pública em juros de mercado. É lamentável que, no Brasil, ainda exista a cultura da ineficiência dos gastos públicos, quando as nações evoluídas primam pela eficiência e eficácia da aplicação dos recursos públicos. O descalabro da dívida pública, com seu incontrolável crescimento, não chega a surpreender ninguém nem constitui novidade quanto ao seu exagerado tamanho, tendo em vista, principalmente, o descontrole das contas públicas, ante a falta de racionalidade e objetividade com relação à obtenção dos resultados primaciais do Estado, que não se preocupa em se modernizar e se tornar eficiente, mediante a reformulação da sua arcaica, obsoleta e ultrapassada estrutura, que contribui negativamente para o fortalecimento do subdesenvolvimento. Compete ao governo se preocupar com a contenção de suas despesas e de reformular suas estruturas, tão precárias e antiquadas, que ainda funcionam em contrariedade aos avanços da modernidade do conhecimento da humanidade, que já se encontram ano-luz da forma como a administração pública brasileira ainda se encontra engatinhando, a exemplo dessa astronômica dívida pública. Certamente que o Brasil nunca esteve cercado potencialmente de tanta desgraça acontecendo a um só tempo, a exemplo do crescimento da dívida pública; do déficit na balança comercial; da manipulação das contas pelo governo, envolvendo a Caixa Econômica Federal e o BNDES; o sensível aumento da inflação; o pífio desempenho da economia, como mostra o Pibinho; o rebaixamento da avaliação do Brasil, quanto ao risco de investimentos externos (BBB-); a quebra do patrimônio da Petrobras, Eletrobrás etc., que passou a valer a metade do seu valor de mercado; a escandalosa e injustificável aquisição superfaturada de refinaria deficitária; o perdão da dívida de bilhões de países comandados por ditadores, que desrespeitam os direitos humanos e os princípios democráticos; o aumento de tributos, apesar da astronômica carga tributária; a realização de obras superfaturadas para a Copa do Mundo, em detrimento de obras prioritárias; o investimento na construção de porto em Cuba, quando o Brasil é carente de modernos portos; o aumento incontrolável da violência e da criminalidade; a nítida e acentuada piora e precariedade dos serviços públicos, a exemplo da educação, da saúde, do saneamento básico, dos transportes, entre tantas precariedades que contribuem positivamente para o crescimento da dívida pública. Esse conjunto de deficiências e de mazelas da administração e do gerenciamento do país obriga necessariamente que a sociedade deva pensar, com o máximo de urgência, sob o prisma da inteligência e da sensatez cívicas e patrióticas, se realmente vale a pena continuar com a administradora do país, em evidente demonstração de desprezo aos princípios da eficiência e da economicidade, cujos governantes foram capazes de conduzir a nação aos níveis comparáveis aos países acéfalos e completamente incapazes de vislumbrar horizontes de progresso e de desenvolvimento social, econômico, político e democrático. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 25 de março de 2014

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