O programa Fantástico
da Rede Globo de Televisão, mais uma vez, mostra o retrato fiel do abandono do
ensino público no Brasil. No local onde deveriam funcionar escolas, a
reportagem registrou o estado mais lastimável imagináveis das condições de
atendimento ao ensino público, sem a mínima estrutura para funcionamento como
unidades escolares, por faltar absolutamente tudo, desde o local ou sala, água
potável, energia elétrica, esgoto, banheiro, merenda e demais instalações
compatíveis com, pelo menos, o mínimo elementar de civilidade e de humanidade.
A reportagem mostrou, com letras garrafais, as verdadeiras condições pelas
quais as escolas públicas, principalmente do Nordeste, tiveram as médias mais
baixas no Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (Pisa). Na
realidade, a situação das chamadas escolas públicas é comparável ao estado de
calamidade pública, para os padrões desejáveis de ensino. Os depoimentos das
pessoas envolvidas evidenciam a real situação de tristeza e de abandono
daquelas escolas, a exemplo desses: “A
rua é assim desse jeito. Os meninos, a gente atravessa eles no braço, porque
não quer ver eles molhado. Caderno, eles não dão”; “Essa água não é ideal para ser tomada e, principalmente dar ela para as
crianças. Isso aí tem um germe total. Eu trabalho aqui, mas dela eu também não
bebo (água barrenta)”; “Tem aluno que
até cai da carteira, principalmente os menores, da educação infantil”; “Quando temos a necessidade de irmos para o
banheiro, nós vamos para o mato. Os alunos e a professora”; “As crianças da gente são desprezada aqui dentro”;
“Quando chove, a água invade, e chegam
molhados, tudo sujo. Aí a situação. Aí não tem. Um bebedor bom não tem. Papel
higiênico não tem”; “A situação, como
vocês estão vendo, desde o ano passado que a gente está desse jeito. A falta de
cadeira senta e não tem o braço da cadeira. Eles estão com dificuldade para
escrever. E eu estou utilizando a minha mesa, para que eles fiquem mais à
vontade. O que eu posso fazer eu estou fazendo”; “Eu gostaria que tivesse
cadeiras boas e que não fossem quebradas”; “Já teve caso de criança perder
aula, porque não tinha cadeira”; “Para
beber água, a gente pega água com a dona da terra. Pega uma garrafa de água e
trago para cá, porque também está faltando filtro”; “A escola toda estava alagada. Não é goteira,
é chuva mesmo. Eu afasto todas as cadeiras, boto todo mundo pro canto, e coloca
baldes aqui. A água desce todinha pela parede. Inclusive eu já perdi trabalhos
que a gente realiza trabalhos com os alunos, coloca nas paredes em exposição,
mas aí desce tudo, molha tudo.”; “O
piso da escola não é adequado para o tipo de carteira, porque as carteiras,
como é você pode ver, é um cano. Então, elas afundam no chão. E aí tem aluno
que até cai. Aí chora, devido ao chão batido, que aqui não sabe se aqui é uma
subida, ou ali é uma descida. É um desnível total. Porque aqui era uma casa de
moradia. Era uma pessoa que morava aqui. Aí montou essa escola aqui para eles”.
Apesar da situação de extrema penúria, a reportagem colheu manifestação de
amabilidade de carinho de uma professora, que disse aos alunos: “Vocês são guardados no lado esquerdo do meu
coração. Então, sejam bem-vindos mais este ano que nós temos aqui para
trabalhar, para melhorar, para ver os nossos acertos”. A reportagem mostra
escolas em que falta tudo e por isso elas não podem, de forma alguma, ser
consideradas escolas, por não lembrar nem de longe unidades de ensino escolar.
No entanto, a força de vontade de alunos, professores e pais, que sofrem com as
péssimas condições de ensino, ainda consegue superar o sofrimento e a indignidade
que são obrigados a passar diante da insensibilidade das autoridades públicas,
que têm a incumbência de propiciar as mínimas condições humanitárias para que
os brasileirinhos possam ter tratamento digno, no que diz respeito a um dos bens
mais importantes das pessoas, que são o ensino público, com o mínimo de
condições de decência e de civilidade. Muitos outros depoimentos foram tomados
pela reportagem, todos contribuindo para sintetizar a derrocada do ensino
público na periferia e também na proximidade das grandes cidades. Esse triste
relato do Fantástico é absolutamente inadmissível em pleno século XXI, por ser
completamente incompatível diante das grandes conquistas da humanidade e ainda
pelo fato de o Brasil continuar desprezando segmento da sociedade tão carente
de apoio na educação básica. O estado deplorável de muitas escolas do Nordeste
contradiz a arrogância e empáfia do governo federal, que não se cansa de bradar
que o Brasil foi mudado nos últimos anos, diante das conquistas na área social,
mas os fatos mostrados pelas imagens põem por terra todo esforço meramente
argumentativo, por não se sustentar diante da cruel realidade, que desmente
tudo que vem sendo alegado como sendo realizado de bondade e de benefício da
sociedade. O Brasil não pode ser leniente nem complacente com tamanha
irresponsabilidade de seus governantes, que não podem deixar que os serviços
públicos e muito menos o ensino público se nivele aos das piores e paupérrimas
republiquetas, ao permitir que crianças passem por situação constrangedora e
frustrante de precariedade e miserabilidade da educação, situação essa que é incompatível
com a evolução da humanidade e ainda contribui para diminuir as perspectivas de
dias melhores para elas, diante do completo abandono jamais imaginável para o
país considerado a sexta economia mundial, que tem a obrigação de valorizar a
educação no seu conjunto, abrangendo investimentos nas melhorias dos salários
dos professores e da infraestrutura das unidades escolares, em conformidade com
a tecnologia capaz de beneficiar a aprendizagem. Urge que a população
brasileira se mobilize com vistas a mostrar aos governantes que os atos de irresponsabilidade,
de insensibilidade e de incompetência já atingiram o limite de tolerância
possível e promova verdadeira revolução capaz de transformar a evidente
precariedade dos serviços públicos em políticas públicas de qualidade, compatíveis
com a dignidade que o povo merece, em contraposição aos altíssimos tributos que
são, na sua maioria, destinados à manutenção da máquina pública inchada, pesada
e enferrujada, diante a irracionalidade da excessiva quantidade de órgãos e
entidades públicos, muitos dos quais inúteis e dispensáveis. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 16 de março de 2014
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