sexta-feira, 28 de março de 2014

Urgência nas apurações das irregularidades

Já não há mais dúvida de que o governo pretende articular verdadeiro contra-ataque à CPI da Petrobras, ao ameaçar retaliações aos partidos de oposição, com a inclusão dos episódios da Alstom e Siemens nas investigações objeto dos trabalhos apuratórios. Em que pesem os fatos escabrosos envolvendo os prejuízos causados à Petrobras, nos últimos anos, decorrentes de transações temerárias e da má gestão dos contratos e de aquisições de refinarias, o Palácio do Planalto ainda tem a indignidade de considerar que há articulação da mídia-oposição em torno da CPI, ao dar destaque aos noticiários e às chamadas sobre os fatos relacionados à petrolífera nacional, principalmente quanto à ênfase à perda do valor de mercado da empresa, abrindo espaço para especulações sobre a sua importância para a economia nacional. Na avaliação do governo, há muita irresponsabilidade no noticiário e na mídia, por haver desconsideração sobre as reais contribuições da Petrobras ao país, em seus 60 anos de existência, por ter desenvolvido o setor petroquímico, a produção interna de combustíveis, a prospecção petrolífera, e as riquezas do Pré-sal, que, só no campo de Libra, teria gerado aproximadamente US$ 15 bilhões para o país, como se tudo isso fosse capaz de acobertar as irresponsabilidades e as incompetências que levaram à súbita quebradeira da empresa, uma vez que os primeiros dizem respeito à normalidade perseguida estatutariamente por ela, enquanto a mau gerenciamento deve-se ser evitados, sob pena de responsabilidades. O governo também entende que há intenção da mídia de enfraquecer a Petrobras, com vistas à sua possível futura privatização. Não há a menor dúvida de que urge também se investigar os escândalos envolvendo as empresas Alstom e Siemens, por haver forte indício de corrupção com recursos públicos, em que já foi identificada a participação nas irregularidades de trinta altos funcionários do governo de São Paulo. Agora, não deixa de ser vergonhoso que os governistas somente se interessaram pelas apurações desses indecentes casos após os oposicionistas conseguirem a instalação da CPI, no Senado Federal, quando a gravidade dos fatos já exigia investigação independentemente de qualquer outro fato, até mesmo dos inadmissíveis desfalques dos cofres da Petrobras, que também não pode ser jogado para debaixo do tapete. No Estado Democrático de Direito, todos os atos administrativos devem ser transparentes e resistentes ao zoom da legalidade. Não obstante, o governo federal prefere esconder da sociedade a verdade sobre os fatos administrativos, como forma de evitar julgamento acerca da sua legitimidade. Num país evoluído político-democraticamente, esse desastroso imbróglio referente à aquisição, por preço superfaturado, da refinaria de Pasadena, nos EUA, não somente seria motivo suficiente para imediatas investigações, como os envolvidos já teriam sido responsabilizados pelos prejuízos causados ao patrimônio da petrolífera brasileira. Infelizmente, no país tupiniquim, o Congresso Nacional sente-se aprisionado, sem autonomia para promover investigação da sua competência institucional, ante as manobras e as chantagens governistas, que deveriam ser os primeiros a incentivar e contribuir para os esclarecimentos dos fatos denunciados como irregulares. No caso das apurações pretendidas pelos governistas, os principais envolvidos são oposicionistas, mas os recursos repassados para obras contratadas são oriundos do governo, o que pode evidenciar a sua responsabilidade na malversação dos dinheiros públicos, justamente pela falta de eficiente controle sobre as aplicações decorrentes. Ou seja, pode ter havido irregularidade com o dinheiro repassado para os Estados, fato esse que não exime a responsabilidade de o governo acompanhar a sua boa e regular aplicação, de modo a ter a certeza de que a execução da despesa obedeceu às normas aplicáveis à administração orçamentária e financeira. Embora os avanços e as conquistas da humanidade já alcançaram patamares de modernidade compatíveis com a indispensável transparência dos atos administrativos, os políticos tupiniquins ainda se posicionam com a mentalidade do passado bem distante da realidade, que se assenta na necessidade da dignificação, da honestidade e da transparência dos atos da administração pública, como forma de contribuir positivamente para o fortalecimento da democracia. Compete ao povo exigir maior transparência sobre os atos administrativos e a devida e imediata apuração das denúncias de irregularidades com recursos públicos, de modo que seja possível, se for o caso, a indispensável responsabilização dos envolvidos e a adoção de medidas capazes de ser evitada a reincidência de casos semelhantes ao aqui referidos. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 27 de março de 2014

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