Com
a nítida marca da fidelidade ao processo de escolha, apenas em reedição, do censurável
loteamento da Esplanada dos Ministérios, e ainda com o exclusivo propósito de
conseguir consolidar a força da base do governo no Congresso Nacional, a
presidente da República vem anunciando, em gota-gotas, os novos ministros,
todos originários de partidos que participaram da campanha da sua reeleição,
como absoluta forma de recompensa e de fortalecimento da aliança formalizada
com base no recíproco entendimento do espúrio toma lá, dá cá, que representa
notório menosprezo aos princípios da dignidade e da moralidade na administração
pública, que deve primar pelo respeito à legalidade e probidade, por cuja
responsabilidade se encaixa a execução do Orçamento da União.
Somente
ao PMDB, a presidente do país fez entrega de seis ministérios, sendo um a mais
na nova gestão, com destaque para o controle do setor elétrico e de
infraestrutura da nação, tudo para agradar o maior partido que vem sendo o
principal apoiador do governo, ficando claro o loteamento dos ministérios entre
os partidos aliados, segundo a sua importância estratégica quanto ao apoio
político.
Com
a saída do cenário político nacional do ainda senador maranhense, que resolveu
abandonar a vida pública, seu grupo partidário ficou sem representação no novo
ministério, dando provas do velho ditado popular de que rei morto, rei posto, significando que, pela
primeira vez nos governos petistas, ele não terá o prestígio que sempre teve.
Em contraprestação, o vice-presidente da República - que se tornou o principal “bombeiro”
político do governo para apagar os incêndios nas crises com o Congresso e tem
sido o contraponto ao “dissidente” líder do partido na Câmara dos Deputados – ganhou
prestígio no Planalto e passou a ter muito mais influência no governo, que foi
contemplado com a escolha de dois ministros do PMDB com ligação a ele, como os
novos titulares da Aviação Civil e dos Portos.
Causa
espécie que a presidente petista esteja agradando os caciques dos partidos
aliados com a escolha de candidatos derrotados em eleições majoritárias do
último pleito, como prova de que os fiéis aliados, mesmo tendo sido derrotados,
serão recompensados no próximo governo com novos ministérios, muitos dos quais têm
exatamente senão essa finalidade de sustentação das alianças e do apoio
político.
Exemplo
clássico desse esforço presidencial se encontra na escolha do novo ministro da
Pesca, em nítido preito de gratidão ao clã de um senador paraense, ficando claro
que, embora o filho dele tenha perdido a eleição no estado do Pará, o
reconhecimento sobre o apoio dele se materializa com o cargo, forma compensatória
pela derrota, independentemente de qualquer comprovação de competência ou
experiência indispensável para o exercício do cargo indicado.
As
escolhas dos novos ministros teriam causado alguma espécie de surpresa se a
presidente do país tivesse a capacidade de fazê-las em estrita obediência aos
salutares critérios da competência administrativa, em consonância com a comprovação
da experiência nas respectivas áreas dos ministérios, a qual teria correspondido
ao atendimento do requisito da eficiência que deve sempre se exigir na
administração pública.
Não
obstante, contrariamente, mais uma vez o critério da competência, as escolhas vêm
prevalecendo pela falta de critério apropriado às finalidades da administração
pública, dando-se prioridade ao anacrônico e ineficiente loteamento dos
ministérios entre os fiéis aliados, em comprometimento da competência e da
eficiência da execução das políticas públicas, por serem distribuídos os cargos
públicos mais importantes do Executivo tão somente pelo indigno critério da
fidelidade política, mediante o reconhecimento e o prestígio conquistados nas
campanhas políticas, que têm sido capazes de contribuir para a perenidade no
poder, em evidente detrimento dos interesses nacionais.
A
sociedade tem a obrigação de se insurgir contra as formas espúrias de escolhas
de ministros senão pelo recriminável critério de apoio político, como forma de
fidelidade ao projeto de perenidade no poder e de contribuição decisiva à
reeleição da presidente da República, em pura demonstração de reconhecimento,
conquanto haja nisso ilegítimo emprego de recursos públicos para a consecução
de projetos políticos, em evidente contraposição à eficiência da administração
do país, ante a escolha de políticos sem o perfil, os requisitos e a
qualificação desejáveis para prestação dos serviços públicos de qualidade, em
dissonância com o princípio da dignidade na administração pública. Acorda,
Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 29 de dezembro de 2014
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