O anúncio de parcela dos novos titulares da
Esplanada dos Ministérios tem servido apenas como balão de ensaio, para se auscultar
a sua repercussão e as críticas no âmbito do mundo político.
Depois disso, a presidente
do país pretende anunciar nos próximos dias os demais nomes dos titulares do
primeiro escalão que ainda passam pelo dificílimo teste de “qualidade”
estabelecido por ela, que tem como principal exigência que o candidato integre
a base aliada de sustentação do governo no Congresso Nacional, atendendo assim o
rigoroso e tradicional requisito que satisfaça o critério estabelecido para o
loteamento dos órgãos públicos entre os partidos da coalizão de
governabilidade.
Embora haja a injustificável enormidade de 39
ministérios, o citado loteamento não tem sido tarefa das mais fáceis para a
petista, conquanto a presidente não consiga satisfazer plenamente a base
aliada, que considera insuficientes os ministérios contemplados, ante a sua
importância na contagem dos votos da sua bancada no Parlamento. É o caso específico do
próprio PT, cuja tendência majoritária do partido reclama de não se sentir
representada no Palácio do Planalto, por entender que teria perdido espaço no
governo, principalmente no que se refere ao grupo mais próximo do ex-presidente
da República, com evidente diminuição da influência dele nas escolhas dos novos
ministros.
Já
o PMDB, principal aliado político, que teria passado de cinco para seis
ministérios, entende que não foi contemplado com ministério com visibilidade à
altura da sua importância política. Por sua vez, o PR, que deve continuar comandando
o Ministério dos Transportes, acha-se incomodado em face de não ter sob seu
controle os cargos desse órgão.
Enquanto
a disputa esquenta, o Partido Progressista não consegue digerir seu
deslocamento do Ministério das Cidades para o da Integração Nacional. Caso
parecido acontece com o PC do B, que manifestou preferência na continuidade do
comando o Ministério do Esporte, ao invés da sua mudança para o Ministério da
Ciência e Tecnologia.
O
caso bastante emblemático ficou por conta da indicação do PRB de um deputado, quase
desconhecido do mundo político, para o Ministério do Esporte, quando a preferência
do partido seria a nomeação para o cargo de um senador carioca. Já o PROS
assegura que a indicação do governador do Ceará, para o Ministério da Educação,
não faz parte da cota do partido.
Na
verdade, fica muito claro que a insatisfação dos partidos deve continuar
incomodando a presidente do país, ante a forte evidência de que o imbróglio em
torno do loteamento político está apenas no início, porque a fiel base de
sustentação do governo no Congresso se organiza e se mobiliza para conquistar
mais espaço na Esplanada, como forma de se firmar politicamente com a
recompensa da distribuição de ministérios e garantir seu propósito da
manutenção do indecente fisiologismo ideológico.
É
bastante lamentável que a presidente da República seja contestada por seus
próprios correligionários acerca da composição do seu ministério, que vem sendo
formado indiscutivelmente por aliados políticos, notadamente em atendimento ao
censurável critério fisiológico que contraria os conceitos da decência e da dignidade,
em evidente dissonância com os princípios fundamentais da administração
pública.
A
sociedade tem o dever de se posicionar contrariamente sobre a composição do novo
ministério, tendo em vista que os princípios republicanos condizem exatamente
com a necessidade da transparência que deve haver na administração do país, a
par de ser da maior imprescindibilidade que, na nomeação dos principais
assessores da presidente da República, sejam observados, necessariamente, os
requisitos de competência e eficiência administrativas, à vista do envolvimento
e da responsabilidade inerentes à gestão de recursos públicos e ao zelo da res publica, à luz dos princípios da
administração pública. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 29 de dezembro de 2014
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