De
forma categórica, a entrevista da ex-gerente de Abastecimento da Petrobras aumenta
a pressão pela substituição da diretoria da estatal, notadamente no que diz
respeito à sua presidência, à vista da contundência das afirmações que são
capazes de enfraquecer o seu comando, que perde continuamente credibilidade.
A
ex-gerente afirmou ao Fantástico da
Rede Globo que teria alertado pessoalmente a presidente da estatal e enviado
e-mail para ela sobre irregularidades que estavam ocorrendo especificamente nas
contratações pertinentes à área de comunicação da empresa.
No
entanto, é de se estranhar que a Petrobras descartou os alertas, por
considerá-los simplesmente genéricos e fazerem referência a expressões como “esquartejamento
de projeto” e “licitação ineficiente”, que, segundo a presidente da estatal,
não possibilitavam se conhecer exatamente o seu significado.
Ocorre
que as mensagens alertavam para a existência de irregularidades, que jamais
deveriam ter sido descartadas, in limine,
porquanto, o bom senso administrativo recomendaria, no mínimo, o aprofundamento
das conversas sobre a matéria, com vistas a escoimar possíveis dúvidas, caso
houvesse interesse em se informar acerca da obviedade de algo que se encontrava
errado na estatal, independentemente das conveniências administrativas de então.
Não
há dúvida de que teria sido muito importante para a história da estatal se os
alertas em causa tivessem sido levados em conta e, consequentemente,
investigados os fatos, caso houvesse interesse por parte da direção da empresa.
Ao contrário disso, tudo foi feito para desacreditar a então gerente, como estratégia
para a continuação das irregularidades, que beneficiavam inescrupulosa
quadrilha que se apoderou dos cofres da estatal, conforme as investigações
realizadas pela Justiça Federal.
Por
seu turno, a presidente da República demonstra total confiança na atual diretoria,
não acreditando nas lúcidas e seguras afirmações da ex-gerente da estatal, por resistir
ao que poderia ser salutar para a empresa, caso fosse viabilizada a mudança da chamuscada
e desacreditada diretoria, diante da falta de atenção aos alertas em comento, que
continham claro indicativo que realmente a situação de algumas contratações já
era preocupante, quanto à falta de regularidade acerca dos fatos denunciados.
À
época dos alertas, conviria a imediata investigação dos fatos, como forma de mostrar
zelo para com a coisa pública, em consonância com a competência constitucional
e legal que se impõe ao administrador público, que jamais poderia alegar falta
de compreensão sobre o objeto da denúncia, à vista da possibilidade de poder ser
considerado cúmplice com as irregularidades, mesmo que elas sejam apuradas
posteriormente.
Não
há dúvida de que o questionamento agora vindo à lume sobre a diretoria da
estatal tem o condão de enfraquecê-la, sob a ótica da falta de presteza quanto
às diligências indispensáveis ao saneamento de fatos suspeitos de
irregularidades, justamente porque as justificativas apresentadas sobre as
denúncias são pouco convincentes e esclarecedoras, suscitando ainda mais
descrédito sobre a gestão da empresa, diante da constatação, somente pelas
investigações levadas a efeito pela Justiça Federal, dos gigantescos prejuízos
causados aos cofres da estatal.
Existe
velho, mas sábio ditado que diz que cego é aquele que não quer ver. No caso, o
governo não quer enxergar o caos que ainda persiste em prejudicar os interesses
da Petrobras e do país, exatamente pela manutenção da diretoria com o ranço
viciado em decorrência das falcatruas que tanto contribuíram para dificultar a
limpeza da sujeita remanescente.
Trata-se
de situação indiscutivelmente contraditória do governo, quando a presidente do
país alega que combate a corrupção, mas ela tem sido bastante insensível à
realidade dos fatos, por não se dignar concordar com a completa substituição da
diretoria da estatal, como forma de mostrar coerência com suas afirmações, que,
no caso da Petrobras, não passam de falácias sem consistência, eis que as
investigações das irregularidades na estatal somente tiveram continuidade e
resultados substanciais sob a competente batuta do magistrado paranaense, que
merece as melhores honrarias dos brasileiros que primam pela moralização e dignidade
na administração pública.
Enquanto
houver dificuldade de se entender que a situação da Petrobras diz respeito ao
interesse nacional e não ao partidário, como faz questão de defender nesse
sentido o governo e seus simpatizantes, dificilmente terá fim esse dramático e escandaloso
caso da estatal, que vem sendo alimentado pela incompetência e falta de
interesse político em reconhecer a realidade dos fatos tão prejudiciais às
causas nacionais.
Convém
que a sociedade se manifeste contrariamente à falta de iniciativa do governo em
resistir à contribuição para a efetiva moralização da Petrobras, diante das
pletoras irregularidades que deveriam também ser combatidas com ações
promovidas pelo Executivo, em clara demonstração da vontade política para a completa limpeza da sujeira
que insiste em se manter impregnada nas entranhas da estatal. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 21 de dezembro de 2014
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