segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Cadê a vontade política?

De forma categórica, a entrevista da ex-gerente de Abastecimento da Petrobras aumenta a pressão pela substituição da diretoria da estatal, notadamente no que diz respeito à sua presidência, à vista da contundência das afirmações que são capazes de enfraquecer o seu comando, que perde continuamente credibilidade.
A ex-gerente afirmou ao Fantástico da Rede Globo que teria alertado pessoalmente a presidente da estatal e enviado e-mail para ela sobre irregularidades que estavam ocorrendo especificamente nas contratações pertinentes à área de comunicação da empresa.
No entanto, é de se estranhar que a Petrobras descartou os alertas, por considerá-los simplesmente genéricos e fazerem referência a expressões como “esquartejamento de projeto” e “licitação ineficiente”, que, segundo a presidente da estatal, não possibilitavam se conhecer exatamente o seu significado.
Ocorre que as mensagens alertavam para a existência de irregularidades, que jamais deveriam ter sido descartadas, in limine, porquanto, o bom senso administrativo recomendaria, no mínimo, o aprofundamento das conversas sobre a matéria, com vistas a escoimar possíveis dúvidas, caso houvesse interesse em se informar acerca da obviedade de algo que se encontrava errado na estatal, independentemente das conveniências administrativas de então.
Não há dúvida de que teria sido muito importante para a história da estatal se os alertas em causa tivessem sido levados em conta e, consequentemente, investigados os fatos, caso houvesse interesse por parte da direção da empresa. Ao contrário disso, tudo foi feito para desacreditar a então gerente, como estratégia para a continuação das irregularidades, que beneficiavam inescrupulosa quadrilha que se apoderou dos cofres da estatal, conforme as investigações realizadas pela Justiça Federal.
Por seu turno, a presidente da República demonstra total confiança na atual diretoria, não acreditando nas lúcidas e seguras afirmações da ex-gerente da estatal, por resistir ao que poderia ser salutar para a empresa, caso fosse viabilizada a mudança da chamuscada e desacreditada diretoria, diante da falta de atenção aos alertas em comento, que continham claro indicativo que realmente a situação de algumas contratações já era preocupante, quanto à falta de regularidade acerca dos fatos denunciados.
À época dos alertas, conviria a imediata investigação dos fatos, como forma de mostrar zelo para com a coisa pública, em consonância com a competência constitucional e legal que se impõe ao administrador público, que jamais poderia alegar falta de compreensão sobre o objeto da denúncia, à vista da possibilidade de poder ser considerado cúmplice com as irregularidades, mesmo que elas sejam apuradas posteriormente.
Não há dúvida de que o questionamento agora vindo à lume sobre a diretoria da estatal tem o condão de enfraquecê-la, sob a ótica da falta de presteza quanto às diligências indispensáveis ao saneamento de fatos suspeitos de irregularidades, justamente porque as justificativas apresentadas sobre as denúncias são pouco convincentes e esclarecedoras, suscitando ainda mais descrédito sobre a gestão da empresa, diante da constatação, somente pelas investigações levadas a efeito pela Justiça Federal, dos gigantescos prejuízos causados aos cofres da estatal.
Existe velho, mas sábio ditado que diz que cego é aquele que não quer ver. No caso, o governo não quer enxergar o caos que ainda persiste em prejudicar os interesses da Petrobras e do país, exatamente pela manutenção da diretoria com o ranço viciado em decorrência das falcatruas que tanto contribuíram para dificultar a limpeza da sujeita remanescente.
Trata-se de situação indiscutivelmente contraditória do governo, quando a presidente do país alega que combate a corrupção, mas ela tem sido bastante insensível à realidade dos fatos, por não se dignar concordar com a completa substituição da diretoria da estatal, como forma de mostrar coerência com suas afirmações, que, no caso da Petrobras, não passam de falácias sem consistência, eis que as investigações das irregularidades na estatal somente tiveram continuidade e resultados substanciais sob a competente batuta do magistrado paranaense, que merece as melhores honrarias dos brasileiros que primam pela moralização e dignidade na administração pública.
Enquanto houver dificuldade de se entender que a situação da Petrobras diz respeito ao interesse nacional e não ao partidário, como faz questão de defender nesse sentido o governo e seus simpatizantes, dificilmente terá fim esse dramático e escandaloso caso da estatal, que vem sendo alimentado pela incompetência e falta de interesse político em reconhecer a realidade dos fatos tão prejudiciais às causas nacionais.
Convém que a sociedade se manifeste contrariamente à falta de iniciativa do governo em resistir à contribuição para a efetiva moralização da Petrobras, diante das pletoras irregularidades que deveriam também ser combatidas com ações promovidas pelo Executivo, em clara demonstração da vontade política para a completa limpeza da sujeira que insiste em se manter impregnada nas entranhas da estatal. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 21 de dezembro de 2014

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