domingo, 7 de dezembro de 2014

Revanchismo ou caprichos políticos?

Conforme laudo pericial divulgado pela Polícia Federal, não foram encontrados sinais de envenenamento nos restos mortais do ex-presidente brasileiro cassado em 1964.
Em cumprimento a pedido da Comissão Nacional da Verdade, os exames dos restos mortais começaram em 2013, cujo resultado teria sido prejudicado, segundo os peritos, pelo decurso de tempo entre a morte e a perícia, conquanto não ter sido encontrado sinal de veneno, a hipótese de envenenamento não pode ser descartada por completo.
A conclusão é no sentido de que "Nenhum medicamento tóxico ou veneno foi identificado nas amostras analisados. Nessas amostras analisadas, nenhuma substância tóxica ou medicamentosa foi encontrada. O resultado de todos os nossos exames que os dados clínicos, as circunstâncias relatadas pela esposa, são compatíveis com morte natural. O infarto agudo do miocárdio pode ter sido a morte do presidente como poderia ter sido causada por outras patologias cardíacas.".
Os restos mortais do ex-presidente começaram a ser exumados em novembro do ano passado, em São Borja (RS), sua cidade natal. O resultado dos exames se torna, em princípio, confiável porque o material coletado foi submetido à perícia da Polícia Federal e analisado por três laboratórios diferentes, em São Paulo, Portugal e Espanha, não deixando a menor dúvida sobre a seriedade dos exames.
Por ocasião da morte do ex-presidente, o laudo oficial afirmava que ele teria se acometido de ataque cardíaco, mas não pararam, desde então, as suspeitas de que ele tenha sido envenenado por cápsula colocada no frasco de medicamentos que tomava para combater problemas no coração. Não obstante, a família do ex-presidente acredita que ele teria sido assassinato por ocasião da Operação Condor, aliança entre as ditaduras militares da América do Sul, na década de 1970, para perseguição de opositores aos regimes militares.
A alegação sobre a inconclusividade dos exames, de que não é possível comprovar que a morte do ex-presidente tenha decorrido de infarto, como se encontra registrado nos documentos oficiais, nem de que não é possível se afirmar a morte natural somente demonstra o desperdício de recursos públicos, que foram jogados pelos ralos do desperdício, ante a afirmação de que "... É conveniente a continuidade dos estudos", ou seja, os altos custos poderiam pelos menos ter contribuído para que não houvesse mais a mínima dúvida sobre as circunstâncias da morte em causa, mesmo por que mais tempo somente irá diminuir ainda mais a possibilidade da confirmação sobre o resultado pretendido de envenenamento.
Como não foram encontradas substâncias tóxicas, os resultados teriam sido considerados, necessariamente, conclusivos, com o imediato descarte da ridícula hipótese de assassinato, caso o interessado pelos exames fosse um país com o mínimo de seriedade, que teria a dignidade de pôr ponto final em questiúncula puramente suscitada por capricho de comissão pretensamente desejosa de vasculhar as entranhas do regime militar, sem a menor razão e ainda sem sopesar, minimamente, os elevados custos e os desgastes de toda ordem correntes das medidas implementadas.
O certo é que, entre cerimoniais, exumação, mobilização das Forças Armadas, contratações de perícias estrangeiras e demais providências pertinentes, fica a impressão de que o resultado não passou de pantomima para não se chegar a lugar algum, salvo para se jogar dinheiro pelo sorvedouro do desperdício.
À toda evidência, o relatório não passou de tremenda peça frustrante para as pretensões do governo, ante a confirmação “por método inclusivo” da ausência de veneno nos restos mortais do ex-presidente, o que impossibilitou que o revanchismo pudesse se potencializar contra o regime militar, mediante argumentos que possivelmente poderiam ter sido utilizado em situação inversa, à vista da insistência para serem encontrados motivos para se manter em permanente desconfiança alimentada pelo puro apelo mórbido do revide, apesar se saber sobre a existência de mecanismo capaz de identificar, por exemplo, que os restos mortais de Napoleão, enterrados há 200 anos, continha arsênico, mas a equipe contratada pelo governo - à exceção da participação da Polícia Federal -, constituída por múltiplos legistas de renomes internacionais não teve competência para se manifestar conclusivamente sobre as análises, sob alegação de pouca plausibilidade. 
Certamente que a comissão da inverdade passará para a história republicana muito mais pelo seu legado de marcante omissão sobre as investigações acerca dos crimes cometidos pelos terroristas, guerrilheiros, que foram igualmente bárbaros e cruéis contra a sociedade, mediante atos degradantes de assassinatos, assaltos a bancos, sequestros de autoridades e outras alarmantes violências, cuja omissão sobre o registro desses fatos lamentáveis constitui vergonhosa e injustificável lacuna, que ficara marcada como indiscutível irresponsabilidade que fere mortalmente o escopo da lei instituidora das investigações, que se refere claramente sobre amplas apurações dos crimes, como se os delitos praticados pelos terroristas não merecessem condenação e repúdio.
O fato se torna ainda mais grave e aviltante porque as investigações tinham por finalidade o resgate da história recente, que não comportaria a injustificável restrição promovida de forma tirana e arbitrária pela comissão da inverdade, ao eleger os fatos relacionados à atuação dos agentes do Estado, como se os crimes dos terroristas tivessem significado efêmeros e de mero passatempo, sem a menor consequência grave e criminosa contra a sociedade, ficando bastante claro que os estragos da barbárie simplesmente foram jogados para debaixo dos enormes tapetes palacianos, com o beneplácito do governo, que, à época, integrava, orgulhosamente, o terrorismo organizado, fato que denigre ainda mais o resultado das questionáveis investigações, que custaram montanhas de dinheiros públicos para o levantamento cercado de cuidados de cunho revanchista e carregado de revides que não justificam tanto empenho, em termos de custo-benefício, quando os fatos do presente e futuro ficam à mercê da falta de prioridades governamentais.
Se o Brasil fosse um país sério, certamente jamais teria mergulhado em enorme esforço, com comprometimento de elevados recursos materiais, humanos e financeiros para tamanho sacrifício que, mesmo que houvesse veneno envolvido na morte do ex-presidente brasileiro, o resultado não teria o condão de ressuscitá-lo e muito menos de indicar possível culpado pelo infortúnio.
Os fatos em comento mostram, com muita clareza, o tamanho da pobreza da mentalidade político-administrativa brasileira, que valoriza ao extremo o passado, sob altíssimo custo, deixando de priorizar o presente e o futuro, em permanente e injustificável desperdício de recursos dos contribuintes, que não se cansam de ser onerados com despesas dispensáveis e inúteis, apenas para a satisfação de caprichos políticos e oportunistas, apenas contribuindo com resultados infrutíferos para o subdesenvolvimento do país. Acorda, Brasil!
 
          ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
          Brasília, em 06 de dezembro de 2014

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