Conforme laudo pericial divulgado pela Polícia
Federal, não foram encontrados sinais de envenenamento nos restos mortais do ex-presidente
brasileiro cassado em 1964.
Em cumprimento a pedido da Comissão Nacional da
Verdade, os exames dos restos mortais começaram em 2013, cujo resultado teria
sido prejudicado, segundo os peritos, pelo decurso de tempo entre a morte e a
perícia, conquanto não ter sido encontrado sinal de veneno, a hipótese de
envenenamento não pode ser descartada por completo.
A conclusão é no sentido de que "Nenhum medicamento tóxico ou veneno foi
identificado nas amostras analisados. Nessas amostras analisadas, nenhuma
substância tóxica ou medicamentosa foi encontrada. O resultado de todos os nossos exames que os dados clínicos, as
circunstâncias relatadas pela esposa, são compatíveis com morte natural. O
infarto agudo do miocárdio pode ter sido a morte do presidente como poderia ter
sido causada por outras patologias cardíacas.".
Os restos mortais do ex-presidente começaram a ser
exumados em novembro do ano passado, em São Borja (RS), sua cidade natal. O
resultado dos exames se torna, em princípio, confiável porque o material
coletado foi submetido à perícia da Polícia Federal e analisado por três
laboratórios diferentes, em São Paulo, Portugal e Espanha, não deixando a menor
dúvida sobre a seriedade dos exames.
Por ocasião da morte do ex-presidente, o laudo
oficial afirmava que ele teria se acometido de ataque cardíaco, mas não pararam,
desde então, as suspeitas de que ele tenha sido envenenado por cápsula colocada
no frasco de medicamentos que tomava para combater problemas no coração. Não
obstante, a família do ex-presidente acredita que ele teria sido assassinato por
ocasião da Operação Condor, aliança entre as ditaduras militares da América do
Sul, na década de 1970, para perseguição de opositores aos regimes militares.
A
alegação sobre a inconclusividade dos exames, de que não é possível comprovar
que a morte do ex-presidente tenha decorrido de infarto, como se encontra
registrado nos documentos oficiais, nem de que não é possível se afirmar a
morte natural somente demonstra o desperdício de recursos públicos, que foram
jogados pelos ralos do desperdício, ante a afirmação de que "... É conveniente a continuidade dos estudos",
ou seja, os altos custos poderiam pelos menos ter contribuído para que não
houvesse mais a mínima dúvida sobre as circunstâncias da morte em causa, mesmo
por que mais tempo somente irá diminuir ainda mais a possibilidade da
confirmação sobre o resultado pretendido de envenenamento.
Como não
foram encontradas substâncias tóxicas, os resultados teriam sido considerados,
necessariamente, conclusivos, com o imediato descarte da ridícula hipótese de
assassinato, caso o interessado pelos exames fosse um país com o mínimo de
seriedade, que teria a dignidade de pôr ponto final em questiúncula puramente
suscitada por capricho de comissão pretensamente desejosa de vasculhar as
entranhas do regime militar, sem a menor razão e ainda sem sopesar,
minimamente, os elevados custos e os desgastes de toda ordem correntes das
medidas implementadas.
O certo é
que, entre cerimoniais, exumação, mobilização das Forças Armadas, contratações
de perícias estrangeiras e demais providências pertinentes, fica a impressão de
que o resultado não passou de pantomima para não se chegar a lugar algum, salvo
para se jogar dinheiro pelo sorvedouro do desperdício.
À toda evidência, o relatório não passou de tremenda
peça frustrante para as pretensões do governo, ante a confirmação “por método
inclusivo” da ausência de veneno nos restos mortais do ex-presidente, o que
impossibilitou que o revanchismo pudesse se potencializar contra o regime militar,
mediante argumentos que possivelmente poderiam ter sido utilizado em situação
inversa, à vista da insistência para serem encontrados motivos para se manter
em permanente desconfiança alimentada pelo puro apelo mórbido do revide, apesar
se saber sobre a existência de mecanismo capaz de identificar, por exemplo, que
os restos mortais de Napoleão, enterrados há 200 anos, continha arsênico, mas a
equipe contratada pelo governo - à exceção da participação da Polícia Federal -,
constituída por múltiplos legistas de renomes internacionais não teve
competência para se manifestar conclusivamente sobre as análises, sob alegação
de pouca plausibilidade.
Certamente que a comissão da inverdade passará para
a história republicana muito mais pelo seu legado de marcante omissão sobre as investigações
acerca dos crimes cometidos pelos terroristas, guerrilheiros, que foram
igualmente bárbaros e cruéis contra a sociedade, mediante atos degradantes de
assassinatos, assaltos a bancos, sequestros de autoridades e outras alarmantes
violências, cuja omissão sobre o registro desses fatos lamentáveis constitui
vergonhosa e injustificável lacuna, que ficara marcada como indiscutível
irresponsabilidade que fere mortalmente o escopo da lei instituidora das
investigações, que se refere claramente sobre amplas apurações dos crimes, como
se os delitos praticados pelos terroristas não merecessem condenação e repúdio.
O fato se torna ainda mais grave e aviltante porque
as investigações tinham por finalidade o resgate da história recente, que não
comportaria a injustificável restrição promovida de forma tirana e arbitrária
pela comissão da inverdade, ao eleger os fatos relacionados à atuação dos
agentes do Estado, como se os crimes dos terroristas tivessem significado
efêmeros e de mero passatempo, sem a menor consequência grave e criminosa
contra a sociedade, ficando bastante claro que os estragos da barbárie simplesmente
foram jogados para debaixo dos enormes tapetes palacianos, com o beneplácito do
governo, que, à época, integrava, orgulhosamente, o terrorismo organizado, fato
que denigre ainda mais o resultado das questionáveis investigações, que
custaram montanhas de dinheiros públicos para o levantamento cercado de
cuidados de cunho revanchista e carregado de revides que não justificam tanto
empenho, em termos de custo-benefício, quando os fatos do presente e futuro
ficam à mercê da falta de prioridades governamentais.
Se o
Brasil fosse um país sério, certamente jamais teria mergulhado em enorme
esforço, com comprometimento de elevados recursos materiais, humanos e
financeiros para tamanho sacrifício que, mesmo que houvesse veneno envolvido na
morte do ex-presidente brasileiro, o resultado não teria o condão de
ressuscitá-lo e muito menos de indicar possível culpado pelo infortúnio.
Os fatos
em comento mostram, com muita clareza, o tamanho da pobreza da mentalidade político-administrativa
brasileira, que valoriza ao extremo o passado, sob altíssimo custo, deixando de
priorizar o presente e o futuro, em permanente e injustificável desperdício de
recursos dos contribuintes, que não se cansam de ser onerados com despesas
dispensáveis e inúteis, apenas para a satisfação de caprichos políticos e
oportunistas, apenas contribuindo com resultados infrutíferos para o subdesenvolvimento
do país. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 06 de dezembro de 2014
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