domingo, 14 de dezembro de 2014

Leviandades e indignidades

O ex-presidente da República petista teve a iniciativa de conclamar seus companheiros a sair da defensiva e ajudar a sua sucessora, por entender que ela enfrenta tentativa de golpe. Ele disse que o partido é a "bola da vez", previu tempos difíceis pela frente e afirmou que ninguém deve pensar agora na eleição de 2018. Como de costume, o petista criticou a elite e os meios de comunicação e pediu aos companheiros que não aceitassem a pecha de corruptos.
Diante de auditório repleto, o ex-presidente solicitou que os petistas se transformem em "Dilma" para defendê-la em todos os cantos, porque "Ninguém aguenta uma passeata um dia sim e outro também. Deixem a mulher trabalhar, gente! Ela tem que se preocupar em governar o país".
O petista declarou que a elite não aceita o PT porque o partido cometeu o "crime" de melhorar a vida da população: "Querem sistematicamente destruir o nosso partido. Eles começaram a ficar apavorados com a perspectiva de quinto mandato, mas ninguém tem de pensar em 2018. Eu não sou melhor do que ninguém, mas se enfiar todos eles um dentro do outro eles não são mais honestos do que eu.".
          Na avaliação do ex-presidente, a imprensa já condenou o PT na Operação Lava Jato. E disse que: "A gente reclama das investigações? Não. A gente reclama da interpretação das investigações. Daqui a pouco vão querer saber a cor e a qualidade do papel higiênico que se usa no Palácio".
O ex-presidente recomendou que os petistas dissessem exaustivamente que a sigla foi quem mais combateu a corrupção, a par de se manifestar preocupado com a imagem do PT, tendo orientado os companheiros para não "aceitarem calados" os "desaforos" da oposição.
Não é verdade que a imprensa tenha condenado o partido do governo que, de forma melancólica e indiscutível, afundou o país com a sua ganância e agressividade contra o patrimônio público, a exemplo da perversidade praticada contra a Petrobras, que foi impiedosa destruída mediante malévolos esquemas de desvio de recursos públicos jamais vistos na história republicana.
É induvidoso que o PT foi condenado por suas próprias atitudes, em razão de ter, de forma inescrupulosa, promovido o audacioso reaparelhamento da estatal com políticos da base de sustentação do governo, tendo por finalidade a construção de “dutos” para a canalização de dinheiros para os cofres de partidos do PT, PMDB e PP, segundo os depoimentos à Justiça Federal pelo ex-diretor da estatal, em flagrante desmoralização dos princípios da dignidade e da honorabilidade.
Ao atribuir a pecha de ter condenado pela imprensa, em face das graves irregularidades protagonizadas na Petrobras, o PT comete graves crimes de injustiça e prepotência, pela tentativa de transferir a culpa da delinquência a quem apenas cumpre o dever de informar e denunciar os fatos delituosos contra a administração pública, que, no caso em comento, são altamente prejudiciais aos interesses petistas, porquanto falta dignidade para o reconhecimento sobre a sua culpa pelas falcatruas, que foram capazes simplesmente de arrasar o elevado conceito da principal empresa brasileira.
Ao declarar que a imprensa já condenou as graves irregularidades cometidas pelo PT, o ex-presidente simplesmente demonstra, de maneira reiterada, prepotência e arrogância de quem não tem humildade para reconhecer a culpa pelos desastres gerenciais de seu governo, que são absolutamente notórios, à vista dos fatos cristalinos, incontestáveis e robustamente comprováveis pelas investigações amplamente divulgadas, mostrando que integrantes dos mencionados partidos se uniram para golpear os cofres da estatal.
A imprensa é totalmente incapaz de condenar fatos, haja vista que essa competência é privativa da Justiça, que vem cumprindo sua missão constitucional e legal, embora os corruptos passivos, compostos por dezenas de políticos inescrupulosos, segundo afirmação do ex-diretor da estatal, ainda estejam ao largo das investigações sobe esse escandaloso caso de desvio de recursos público.
Somente a Justiça tem competência para julgar os crimes contra a administração pública e, quando chegar esse momento, certamente ficará provado que a imprensa apenas divulga os fatos irregulares protagonizados pelo PT e alguns partidos aliados, em clara demonstração de que houve gestão irresponsável do patrimônio da Petrobras, que foi dura e impiedosamente castigado por quem tinha a obrigação de zelar por sua integridade.
Não há a menor dúvida de que teria sido muito mais elegante e justo se o petista tivesse tido a dignidade de reconhecer os erros e as incivilidades protagonizadas pela gestão do seu partido na estatal e de mostrar as medidas efetivamente adotadas para combatê-los.
À vista dos fatos trazidos à lume, fica claro que governo não soube honrar a representatividade delegada pelos brasileiros, que, na sua maioria, têm sido completamente irresponsáveis e lenientes com as irregularidades e as corrupções sistêmicas e endêmicas, por respaldarem a continuidade de administração temerária e deletéria, conforme demonstram as investigações objeto da Operação Lava Jato, com a clara indicação do desvio de bilhões de reais.
É de se lamentar que importante político tenha a insensibilidade de exigir de seus correligionários a defesa da corrupção no governo, pedindo que eles não “aceitem desaforos”, como se irregularidades, corrupções, com graves prejuízos aos cofres públicos não passassem de meros atrevimentos, ofensas, dando a entender, com clareza, o grau da falta de responsabilidade para com a res publica, ou seja, nenhum sentimento de zelo pelo patrimônio dos brasileiros.
Também não é verdade que o PT tenha sido capaz de combater, mesmo minimamente, a corrupção, visto que não há uma só medida que demonstre a assertiva do petista, à vista da manutenção do status quo na direção da estatal, mesmo após as denúncias de irregularidades, que implicariam a exoneração completa dela, e à falta de resultado das investigações que deveriam ter sido promovidas pelas Comissões Parlamentares de Inquérito, a cargo do Congresso Nacional, compostas por maioria de governistas, que paralisaram os trabalhos pertinentes no período da campanha eleitoral e depois dele, cujos resultados não indicaram nenhuma culpabilidade pelas irregularidades.
          É muito estranho que, apesar das evidências das falcatruas, ainda apareça importante político para se passar de vítima e culpar a elite de não aceitar que o partido tenha cometido o "crime" de melhorar a vida da população, como se esse “crime” representasse algo sobrenatural e fosse motivo mirabolante capaz de abonar as irregularidades na administração do país.
O certo é que, além de não haver combate a coisa nenhuma, no governo petista, as colunas policiais nunca deixaram de publicar irregularidades na administração pública, cujas denúncias sempre surgiram da imprensa, da Polícia Federal e do Ministério Público, mas jamais o governo teve a iniciativa de apurar ou combater qualquer ato irregular, fato que contraria as reiteradas alegações governistas de que nunca houve tanto combate à corrupção, quando as evidencias são apenas no sentido que, na história republicana, é alarmante a reincidência das irregularidades com dinheiros públicos no governo petista, justamente pela falta de efetividade e eficiência de controles e fiscalização sobre os gastos públicos.
A sociedade, no âmbito da sua responsabilidade cívica e patriótica, tem o dever de repudiar e recriminar, com veemência, as desatinadas afirmações de haver combate às corrupções, de condenação do partido pela imprensa e de apologia à corrupção, quando se orienta correligionários para não aceitarem “desaforos”, porquanto isso, à toda evidência, não corresponde à realidade dos fatos, que são, ao contrário, absolutamente desalentadores e prejudiciais aos interesses nacionais, que deveriam ser analisados sobre a responsabilidade exatamente na forma da extensão da sua materialidade e dos seus reflexos na gestão da Petrobras, que não pode ficar à mercê de discursos levianos, na tentativa de atribuir à imprensa a condenação do PT por fatos notoriamente da inteira culpabilidade desta agremiação, que não tem a dignidade de assumi-la, de fato e de direito, eis que o seu envolvimento é indiscutível, conforme mostram os resultados das investigações, que são incontestáveis, à vista da robusteza dos fatos apurados e divulgados à sociedade. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 13 de dezembro de 2014

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