O
Congresso Nacional aprovou, depois da explícita e aviltante chantagem do
Executivo imposta aos congressistas sobre o condicionamento da liberação das
verbas pertinentes às emendas parlamentares à flexibilização da meta fiscal, o
texto principal do projeto de lei que altera a meta de superávit primário deste
ano, numa sessão tumultuada que configurou espetáculo próprio da questionada
decisão de mandar para o espaço sideral princípio de fundamental importância para
a seriedade e moralidade da execução do Orçamento da União, que tinha como
cerne, nos termos da Lei de Responsabilidade Fiscal, o máximo equilíbrio entre
as receitas e as despesas, impondo a obrigação de o governo não poder gastar
além dos recursos arrecadados.
Na
prática, pela primeira vez, desde que houve a aprovação da citada Lei de
Responsabilidade Fiscal, o projeto libera o governo, que teria gastado de forma
irresponsável além do arrecadado, da responsabilidade de cumprir, neste ano, qualquer
meta de economia para pagamento de juros da dívida pública.
Diante
da aprovação do projeto em causa, o governo demonstra, de maneira inequívoca, que
se houve muito mal quanto ao desempenho da economia, tendo como consequência forte
impacto negativo na arrecadação e nos meios que contribuiriam para o cumprimento
da meta fiscal deste ano, causado pelos descontrolados gastos com os programas vinculados
à reeleição da presidente do país, que provocaram completo desajustamento das contas
públicas, com inevitável reflexo no desequilíbrio fiscal, cuja
irresponsabilidade administrativa passa a ser perdoada por medida legislativa, absurdamente
imoral e indigna para os padrões de moralidade que se exigem para a grandeza do
país como o Brasil, que não merece os homens públicos com tamanha mentalidade
capaz de passar borracha sobre ato indiscutivelmente grave e prejudicial ao
conceito de seriedade e de dignidade junto ao concerto das nações.
Depois
desse lastimável episódio, a presidente da República disse ter ficado "muito satisfeita" com o resultado
da votação pelo Congresso Nacional, o que não era para menos, porquanto a flexibilização da meta de
superávit fiscal
autoriza o governo a fechar as contas públicas, neste ano, com superávit
primário, ou seja, com poupança para o pagamento da dívida pública bem menor
que o previsto na Lei de Diretrizes Orçamentárias.
Ao que tudo indica, isso somente acontece no Brasil,
onde a mandatária do país se sente satisfeita com a prática de barbaridade e
ilegitimidade, ao mandar para os ares norma essencial de administração
orçamentária, que obrigava o cumprimento do equilíbrio entre as receitas e
despesas, logo depois de o governo ter gastado muito além do arrecadado, como
demonstração de falta de sensibilidade quanto à necessidade da fiel observância
dos princípios constitucionais e legais, inclusive dos conceitos fundamentais
sobre diretrizes orçamentárias.
Por
sua vez, os parlamentares governistas demonstraram, de forma cristalina e
inconsequente, ser absolutamente cediços aos "afagos" generosos do
Palácio do Planalto, por terem decidido pela flexibilização do superávit
primário, sem o menor escrúpulo e completa falta de pudor com relação à gestão
dos recursos públicos, à vista de o governo ter extrapolado,
injustificadamente, a meta fiscal estabelecida na Lei de Diretrizes
Orçamentárias.
Não
há a menor dúvida de que os poderes Executivo e Legislativo protagonizaram, com
a aprovação da liberação da meta fiscal, cenas imagináveis e lastimáveis em pleno século XXI,
que provavelmente isso jamais poderia ocorrer nas piores republiquetas, onde as
leis sequer são observadas, mas, no país tupiniquim, isso não faz a menor
diferença nem fere o menor conceito de pudor se jogar para as calendas o que de
mais puro existia quanto à necessidade do cumprimento da meta fiscal, ou seja,
do respeito aos já consagrados limites dos gastos públicos, que obrigavam o
equilíbrio entre receitas e despesas.
Na
verdade, o governo deu péssimo exemplo de como se administra um país com a
grandeza do Brasil, que merece, no mínimo, competência no que diz respeito à
observância do regramento constitucional e legal, à vista do compromisso de
posse do presidente da República, que agora foi completamente ignorado pela
mandatária do país, com o respaldo do Congresso Nacional, com o emprego de
expedientes deploráveis e ofensivos aos princípios da dignidade e da
honorabilidade.
Compete
à sociedade repudiar e censurar, com extrema veemência, a forma inescrupulosa e
espúria como o princípio da meta fiscal foi soterrada solenemente sob os
tapetes do Palácio do Planalto e do Congresso Nacional, sem o menor sentimento
de responsabilidade pela res publica,
que merece ser tratada com o máximo de dignidade. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 08 de dezembro de 2014
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