quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Cadê a verdade?

A Comissão Nacional da Verdade entrega à presidente da República o relatório conclusivo sobre as apurações levadas a efeito durante mais de dois anos, cujo documento, que contém aproximadamente duas mil páginas, recomendará punição civil, administrativa e criminal para possíveis responsáveis por violação de direitos humanos durante o regime militar.
A aludida comissão foi criada pela Lei 12.528/2011 e instituída em maio de 2012, tendo por objetivo claro, nos termos dessa lei, apurar os crimes de violações de direitos humanos entre 1946 e 1988, período que abrange o regime militar.
Não obstante, de forma absurda, injustificável e arbitrária, somente foram investigados os fatos protagonizados pelos agentes do Estado, deixando de apurar os crimes igualmente violentos praticados por terroristas e assassinos contrários ao regime militar, não que eles deixassem de representar crueldade ou barbaridade contra a sociedade, mas sim porque não interessava que eles fossem revisados e mostrados às claras, com a transparência que a comissão vai tentar apresentar no relatório, com relação aos militares, que têm sido objeto de marcação cerrada pelo governo, com a finalidade de denegrir a imagem deles, tanto que foram colhidos 1.120 depoimentos, sendo 132 de agentes militares e o resto de civis, produzidos 21 laudos periciais e realizadas 80 audiências públicas em 15 estados.
Não há a menor dúvida de que a exclusão dos terroristas e revolucionários das investigações deixa muito evidente que o espírito da comissão era de salvaguardá-los, posto que muitos estão no poder e não ficaria bem que a sua imagem fosse objeto de esmiuçamento sobre suas atitudes no passado de destruição, assassinatos, assaltos, sequestros etc., porque isso não condiz com os princípios de civilidade e de humanidade. 
O coordenador da comissão disse que o relatório pedirá a punição aos agentes do Estado, em razão da existência de provas “robustas” da participação deles em casos de tortura, execuções e ocultação de cadáveres. Na avaliação desse integrante, os trabalhos da comissão foram positivos, cujos documentos estão além de questões político-ideológicas. Essa assertiva parece ser contraditória com a finalidade das investigações, que deveriam centrar-se justamente no cerne das causas que desaguaram nas violências dos militares e dos terroristas, que se insurgiram contra o regime de então.
Segundo o coordenador, as cerca de duas mil páginas do relatório "deixarão claro" que os trabalhos da comissão não tiveram viés ideológico. Todavia, há enorme clareza no sentido de que os trabalhos pecam de morte pela parcialidade e principalmente pelo direcionamento das investigações, com o foco exclusivo na atuação dos militares, alvo primordial como peça fundamental para o posicionamento sobre quem somente foi capaz, na visão dos idealizadores da comissão, de ter cometido os piores crimes contra os direitos humanos, quando se sabe que, não fossem os terroristas contrarrevolucionários, que também praticaram ações criminosas contra a sociedade, possivelmente a violência dos agentes do Estado não tivesse sido tão alarmante e motivadora das apurações em apreço.
Não obstante, não se justifica que o relatório exclua, sem a mínima justificativa plausível, esses fatos igualmente repugnáveis e lamentáveis, também passíveis de extrema importância para o esclarecimento da verdade, que somente ganham relevo as atrocidades cometidas pela parte de quem tem sido merecedora de verdadeiro e permanente massacre perante a opinião pública, que se encontra decepcionada com a parcialidade intencional dos trabalhos, cuja história há de lamentar a pequenez da mentalidade dos idealizadores de tamanha injustiça e irresponsabilidade, pela narração incompleta de episódios de suma importância para as futuras das gerações.
A sociedade, a par de considerar importante o resultado das investigações levadas a efeito, manifestar-se completamente decepcionada pela falta de vontade política de se apurar a fundo todos os fatos deploráveis ocorridos no regime militar, ante o enorme esforço material e humano, comprometendo substancial quantia de recursos dos brasileiros, que poderiam ter sido aproveitados se a verdade tivesse sido revelada com a transparência normal, como acontece nos regimes verdadeiramente democráticos, que não conseguem omitir os fatos do interesse público. Acorda, Brasil!
 
          ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
          Brasília, em 09 de dezembro de 2014
 

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