segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Insensibilidade administrativa?

Recentemente, aposentou-se, no Tribunal Superior Eleitoral, o ministro encarregado da apreciação das contas referentes à campanha da candidata petista à Presidência da República, cujo processo foi redistribuído para outro ministro, bem antes mesmo da nomeação do substituto daquele, ao qual as aludidas contas deveriam ser repassadas, em consonância com a praxe existente naquela corte. 
Comenta-se que a citada medida teria ocorrido porque a presidente da República não contemplou a indicação feita pelo presidente do TSE, para a nomeação do substituto do ministro aposentado, fato que propiciou a redistribuição do processo apenas oito horas úteis depois da demora havida pelo Palácio do Planalto. 
Segundo um famoso articulista do site IG, isso poderá desencadear crise política, que terá o seguinte desdobramento: “1. Gilmar tratará de buscar todos os elementos para rejeitar as contas de Dilma. Provavelmente tentará encontrar alguma ligação entre o Caixa 1 da campanha e a Operação Lava Jatos. 2. Nesse período, inundará os grupos de mídia com boatos, notas, escândalos ou factoides, visando criar o clima político adequado para a cassação. 3. Rejeitada a conta, Dilma será empossada. Mas o mandato poderá ser suspenso, dependendo da votação do pleno do TSE. Dos 7 conselheiros, 3 são voto certo contra Dilma - Gilmar, João Otávio Noronha (ligado a Aécio) e Luiz Fux. Outros três votos dependerão da consistência ou não do relatório de Gilmar e da pressão da mídia: Maria Tereza Assis Moura, Luciana Lóssio e Henrique Neves ou Admar Gonzaga, seu substituto. O desempate ficará com Toffoli. Amigos antigos julgam que suas investidas são para espicaçar o governo, não para feri-lo de morte. Mas não colocam a mão no fogo. Haverá apelações ao STF. De qualquer modo, não se espere início tranquilo de governo, que permita a volta à normalidade econômica. O terceiro turno ainda demorará para terminar.”. 
A matéria em comento causa enorme surpresa, por haver nisso leviandades e insinuações sobre fatos que não passam de meras fantasias, com fortes implicações na administração do país, por consistirem em acusações graves, sem a menor fundamentação e ainda com viés políticos da maior importância, inclusive comprometendo a credibilidade do Tribunal Superior Eleitoral, ante a forma pouco escrupulosa como se houve a distribuição do processo sobre as contas do partido do governo.
Na verdade, é absolutamente possível se especular à vontade sobre tudo, inclusive sobre os fatos políticos, mas não se pode fazer afirmação de tamanha gravidade sem a indispensável comprovação dos fatos e elementos que sirvam de base para tanto.
A questão se torna ainda mais emblemática pela forma como a acusação foi pulverizada, a torto e a direito, sem a menor cautela profissional, que se recomendaria, em situações relevantes como essa, para o resguardo da dignidade das pessoas envolvidas.
Ao que a notícia deixa antever, o presidente da Justiça Eleitoral teria agido como criança mimada, que não aceita ser contrariada nos seus interesses e, por conta disso, teria revidado com a redistribuição, rapidinho, do processo das contas para outro ministro, com o intuito de mostrar independência e autoridade, que, no seu entender, não teriam sido reconhecidos dessa maneira pela autoridade do Planalto.
Não há a menor duvida de que os poderes da República são independentes e harmônicos, o que vale dizer que eles não podem ser contrariados por mera indisposição momentânea de autoridade de plantão ou por capricho pessoal, sob a ótica do simples revide.
No Estado Democrático de Direito, as opiniões devem ser sempre respeitadas, porém convém sejam evitados os casos susceptíveis de equívocos, notadamente em se tratando de articulista que tem a missão de ser formador de opinião, por ter o cuidado e a obrigação de redobrar as cautelas por ocasião das análises e opiniões, para se evitar interpretações igualmente equivocadas e inconsequentes, inclusive podendo contribuir para o descrédito das instituições e do próprio país.
Sob o prisma dos princípios democráticos, são admissíveis as mais acaloradas discursões, inclusive sobre política, onde são permitidas ilações as mais diversas e até absurdas, podendo abranger a possibilidade da formação de conluio contra o desempenho das autoridades da República, como no caso aclimatado pelo autor da denúncia em discussão, mas isso não parece desejável à contribuição do aprimoramento das discussões democráticas.
Quem sabe se no final da contenda alguém esteja com a razão, porque o caminho a ser percorrido sobre as análises da contas é bastante longo, mas, no final do túnel, sempre há uma luzinha que poderá iluminar os sublimes destinos da nação, que, infelizmente, no momento se encontra entremeados de armadilhas e empecilhos de enormes encruzilhadas político-administrativas.
No caso em comento, as discussões deverão ser acaloradas e demoradas e cada lado deverá utilizar suas melhores armas para acusar, se defender e, ao final, se salvar, mesmo porque as alternativas utilizadas pela classe política dominante lhe são sempre favoráveis e o resultado da contenda já é previamente conhecido, com o povo tomando a paulada de misericórdia na cabeça.
Convém que a elucubração sobre a possível manipulação em comento sirva de real contribuição para que os homens públicos, imbuídos do espírito democrático e republicano, cumpram com fidelidade as suas missões constitucionais e legais, com exclusivo benefício para o interesse público, à vista do sentimento de dignidade cultuado nos corações dos brasileiros que anseiam pela moralização dos princípios basilares do Estado brasileiro. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
                            
          Brasília, em 30 de novembro de 2014                                        

Nenhum comentário:

Postar um comentário