quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Programa de valorização e dignificação

Vocês acreditam na redistribuição, que é uma das razões para a pobreza... mas ensinar-lhes também a evitar o problema e a não permitir que o governo não os conduza a esse estado lastimável... Graças ao estado assistencialista, as famílias deixam de cumprir seus deveres para obterem seu bem-estar,... O povo empobrece e, logo em seguida, vota em quem o afundou na pobreza...”. Cardeal Jorge Mario Bergoglio
 
Na última campanha eleitoral, a candidata presidencial à reeleição colocou em evidência, com a maior intensidade e como nunca visto na história republicana, seu majestoso legado do programa Bolsa Família, ao expô-lo nos debates e nos programas eleitorais de rádio e televisão como sendo verdadeira panaceia capaz de ter, na sua visão, revolucionado o país tomado pela miséria em nação próspera e feliz.
Não à toa que o governo demonstrava-se orgulhoso ao extremo sobre o seu principal programa assistencialista, embora com nítido viés populista, que se destaca entre outros 17 em plena atividade, todos executados com recursos públicos, em que pese a sua feição de particularidade como se eles tivessem exclusiva origem no partido da presidente do país, ante a convicção quanto à sua paternidade.
Na verdade, estão em funcionamento e execução dezoito programas, como assim são denominados de transferência de renda às pessoas consideradas, em princípio, pobres e miseráveis que não possuem rendas próprias suficientes para se sustentarem nem têm outra espécie de ajuda financeira.
Conforme levantamentos oficiais, no total de pouco mais de 200 milhões de brasileiros, os aludidos programas propiciam assistência, de alguma forma, para aproximadamente 87 milhões de pessoas, sendo que somente o Bolsa Família concentra ajuda para mais de 56 milhões delas, sob a responsabilidade de mais de 13 milhões de famílias.
O Bolsa Família é programa que objetiva beneficiar famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza, com renda familiar per capita inferior a R$ 77,00 mensais, sob a forma de transferência de renda às classes pobres e também de acesso a direitos sociais básicos nas áreas de educação, saúde e assistência social e as ações e programas complementares que objetivam o desenvolvimento das famílias, de modo que os beneficiários consigam superar a situação de vulnerabilidade.
Todavia, no embalo da magistral onda de boatos espalhados pelo país, dando conta da possível extinção do pagamento do benefício em causa, as pessoas que acorreram às instituições bancárias aparentavam aspectos longe de extrema pobreza, à vista da excelente aparência, muito bem vestidas e transportadas, na maioria, por veículos e motos, dando nítida impressão contrária aos que deveriam ser os verdadeiros beneficiários de absoluta pobreza, a par dos aspectos bem joviais deles, contrapondo à representatividade de quem realmente dependia da ajuda dos contribuintes para sobreviver, por não terem trabalho permanente e renda suficiente para a sustentação da sua família.
Esse episódio representa contraste lamentável em relação à finalidade do programa, para o qual o governo simplesmente ignora, quando poderia ter aproveitado o ensejo para se promover o recadastramento, tão premente quanto necessário, com a finalidade de atualização e confirmação dos verdadeiros beneficiários, sob o prisma do preenchimento dos requisitos institucionais do programa, em cumprimento à indispensável eficiência na aplicação dos recursos dos contribuintes.
Outro fator bastante importante diz respeito à duração do pagamento do benefício, em conformidade com a idade dos membros da família e da sua renda, porque há benefícios específicos para famílias com crianças, jovens até 17 anos, gestantes e mães que amamentam, ou seja, há casos em que o pagamento do Bolsa Família poderá se estender por até 17 anos, sem que os beneficiários contribuam para absolutamente nada, deixando de produzir em atividades que poderiam participar do Produto Interno Bruto, dando clara impressão que se trata da maior potência do planeta em despreparo e ineficiência, ao permitir que gigantesca massa populacional seja colocada de propósito na ociosidade, sem o devido rigor na sua seleção, com vistas à aferição sobre as reais condições de pobreza, mantida à custa de quem efetivamente trabalha e produz com enorme sacrifício para pagar pesados tributos.
À toda evidência, constitui verdadeira irracionalidade e ineficiência administrativa não se atinar para o fato de que somente o país tupiniquim seja incapaz de perceber que, nas atuais condições, trata-se de programa de extrema falta de proveito em termos de satisfação do interesse público, porque os beneficiários são contemplados com pagamento sem necessidade sequer da contraprestação de que o dinheiro foi realmente gasto na finalidade primordial da sustentação familiar, quando se tem notícia da sua utilização até para a compra de roupa de marca e muitas superfluidades, que não condizem com o objetivo primacial do programa.
Não há dúvida de que a pujança descomunal do Bolsa Família, que atende, repita-se, mais de 56 milhões de beneficiários, representando mais de um quarto dos brasileiros, certamente não poderia funcionar, por parte do controle oficial, com a eficiência tal qual o programa vem atendendo aos fins eleitoreiros, porquanto, segundo a Controladoria Geral da União, a deficiência de controle na fiscalização e no cadastramento tem propiciado, entre muitas precariedades, que políticos, servidores públicos e familiares deles, empresários, comerciantes e outras pessoas com renda superior ao limite estabelecido legalmente vêm recebendo benefícios de forma indevida, em contraposição aos objetivos primordiais do atendimento às famílias estritamente carentes.
Essa constatação também contribui para o inevitável desperdício de recursos públicos, que são jogados mensalmente pelos ralos da incompetência administrativa, em virtude do despreparo e da falta de capacidade para a execução de programa tão importante, em termos de transferência de renda, que o governo tanto se vangloria de manter em plena vigência, embora não tenha a mínima ideia de que não basta simplesmente expandir o universo do atendimento aos beneficiários sem que haja devida e indispensável habilidade e aptidão gerencial para ser aferida a real efetividade quanto ao custo-benefício, na forma do atendimento com a eficiência preconizada na instituição do programa.
Também é inaceitável a constatação de que não vem sendo fiscalizada pelo governo a frequência escolar das crianças, por se tratar de obrigação prevista na legislação de regência, que teria por escopo a confirmação do atendimento de uma das finalidades primordiais do programa.
          Não obstante, a verdadeira satisfação do governo resulta exatamente da maciça votação dos nordestinos na candidata petista, dando a entender que houve reconhecimento dos bolsistas ao esforço dele em manter e fomentar o programa que tem a sublime finalidade da transferência de renda, mas também da formação de espécie de curral eleitoral, para assegurar tranquila e considerável maioria em favor da candidata oficial contra os demais candidatos, que foram acusados indevida e injustamente de acabar o programa em caso da vitória de qualquer um deles, em flagrante terrorismo comparável às terríveis ditaduras, porque propaganda mentirosa e assustadora como essa não condiz com os saudáveis princípios da honestidade, dignidade e democracia.
É induvidoso que o resultado do último pleito eleitoral deixou muito clara a vinculação do voto do bolsista ao programa assistencialista, ficando evidente e indiscutível o ferimento do princípio da dignidade política, por conta do uso do dinheiro público em benefício de pessoa e de partido político, como se os recursos não fossem dos bestas dos contribuintes, mas sim do próprio partido do governo, em espúrio desvio de finalidade das verbas públicas, que poderiam ter melhor e racional aplicação, sem a ostensiva chancela de que é a candidata a única pessoa capaz de manter as conquistas e os programas assistencialistas, em demonstração de menosprezo e de desvalorização da capacidade e da sensibilidade humana dos demais candidatos.
Certamente que, se os recursos do Bolsa Família fossem aplicados com as devidas eficiência, decência e efetividade, não haveria a menor possiblidade de desvirtuamento da finalidade primacial do programa, uma vez que o resultado da sua execução demonstra falhas terríveis de pagamentos a pessoas com renda acima do limite estabelecido legalmente.
Para que o Bolsa Família se torne programa de Estado sério e dignificante, ele deve passar por radical transformação e aperfeiçoamento no formato atual, notadamente no que diz respeito ao premente estabelecimento de duração de permanência dos beneficiários no programa, com, no máximo, dois ou três anos, conforme planejamento apropriado, honesto e decente, em cujo interregno o bolsista titular, além de receber um salário mínimo nacional, deve passar, obrigatoriamente, por programa de treinamento de aprendizagem de alguma profissão digna, a exemplo de motorista, pedreiro, padeiro, costureira, confeiteira etc., cuja capacitação profissional o habilitará ao emprego que o próprio governo cuidará de organizar para atender, com tranquilidade, os bolsistas qualificados e preparados para terem seu trabalho e puderem sustentar sua família, de forma digna e humana, ante a demonstração da capacidade de trabalhar e produzir, por que em condições também de contribuir para a previdência social e se aposentarem no futuro.
Convém atentar ainda para a situação do morador rural, que poderá ser igualmente beneficiado, caso ele prefira continuar no cultivo da sua terra, onde receberá treinamento para melhorar as condições de plantio e de colheita da sua produção agrícola, também recebendo o benefício, em igual período ou enquanto esteja sendo devidamente capacitado para o atendimento digno da sua família. 
Não há dúvida de que somente a incompetência gerencial e administrativa não consegue perceber que o Bolsa Família, como programa assistencial, representa mera ajuda de governo de caráter paliativo e efêmero, que tem muito pouca contribuição para o país e até mesmo para os titulares do benefício, porquanto o seu potencial humano pode ser plenamente aproveitado como importante força de trabalho, indispensável à produção e ao desenvolvimento da nação, mediante a criação de atividades dignas para os bolsistas, que certamente se sentirão muito mais valorizados e dignificados se eles tiverem condições de preencher sua ociosidade com algo que represente o seu reconhecimento como cidadão capaz, inclusive recebendo salário compatível com o seu trabalho e a sua produção.      
Não há dúvida de que a eficiência administrativa tem condições de tornar o Bolsa Família um programa sério e realmente importante como forma de contribuir para a dignificação do titular do benefício, que terá condições de aprender uma profissão enquanto estiver cadastrado nele, na expectativa de que ele tem a duração tão somente para habilitá-lo à construção de nova vida de dignidade e de valorização, sem a menor vinculação ou preocupação quanto à possível mudança de governo, que não é o caso que se verifica na atualidade, em que, de forma indigna e deprimente, o partido da candidata oficial não só exigiu a paternidade ou maternidade do programa, como ainda disseminou aos quatro cantos do país a ideia absurda de que seus adversários, caso eles fossem eleitos, iriam extinguir tão importante instrumento de transferência de renda, que vem sendo terrivelmente utilizado para fins eleitoreiros, em benefício pessoal e partidário, apesar de ser mantido com expressivos recursos dos brasileiros.
          Postergar a modernização e a racionalidade do Bolsa Família é prova de ineficiência e ineficácia administrativas na aplicação de recursos públicos e mais ainda de contribuição para o seu desperdício, que somente convém ao subdesenvolvimento condizente com a falta de iniciativa proativa de melhoria e de aperfeiçoamento das políticas e instituições públicas.
          Urge a adoção de soluções racionais e eficientes para tema de suma importância no contexto social, político e econômico, por envolver aportes expressivos de verbas públicas, que atualmente são gastas de maneira dispersiva e sem os indispensáveis planejamento e controle que se impõem na realização das despesas públicas dessa magnitude.
          No caso sob exame, há premência da reformulação do programa, para a adaptação de suas novas conceituação e formulação operacionais, com limite de permanência nele e obrigatoriedade de capacitação e encaminhamento do titular ao emprego, além do recadastramento dos beneficiários, como forma da indispensável atualização e enxugamento das pessoas que efetivamente não se enquadram nos requisitos institucionais exigidos.
          Como forma absolutamente salutar de atendimento aos novos propósitos de verdadeira assistência às famílias carentes, convém que o programa passe a ter denominado mais apropriadamente à nova realidade, com a substituição do “Programa Bolsa Família” por “Programa Social de Assistência, Capacitação e Emprego”, como medida benfazeja de eliminação da cruel estigmatização de sua vinculação com a finalidade de cunho meramente eleitoreiro, que tanto denigre a sua atual imagem.
          Além do eficiente sistema de controle e fiscalização a ser instituído para aferir a efetividade dos dispêndios públicos com o atendimento desse importante programa, compreendendo abrangente e confiável cadastramento, imprescindível capacitação dos titulares, constatação da frequência escolar, encaminhamento dos capacitados ao emprego e aplicação das verbas ao programa, convém que haja incentivo à sociedade, ao contribuinte, para participar também da fiscalização sobre o emprego do dinheiro público nessa importante empreitada de essencial brasilidade, como forma de contribuição para o seu efetivo sucesso de assistência e valorização da população mais necessitada do amparo do Estado.
À toda evidência, as presentes propostas tratam da consolidação de verdadeiro programa de dignidade do cidadão, que objetiva a valorização e a dignificação do ser humano, principalmente do sertanejo, que foi estigmatizado em razão da banalização e incompetência na execução do programa Bolsa Família, por ter sido transformado, de forma indevida e irresponsável, em instrumento de cunho eleitoreiro, com finalidade absolutamente contrária ao interesse público, ante a utilização de recursos públicos para o atendimento de objetivos pessoais ou partidários, em nítida inversão dos conceitos democrático e republicano, diante da alarmante irresponsabilidade do Estado, por não ter a iniciativa de transformar o Bolsa Família em instrumento verdadeiramente capaz de contribuir para a melhoria das condições de vida das pessoas que têm perfeitas capacidades não somente para o trabalho e a contribuição ao desenvolvimento do país, mas, sobretudo, de sentirem-se felizes com o reconhecimento da sua valorização, por serem úteis e capazes, em contraposição à atual fama que eles carregam de povo morto para o Estado, que se obriga ao ônus da manutenção de pesado fardo de massa social, sem nenhuma contraprestação ou retribuição ao interesse público.
O país tem urgência na implantação de medidas sérias e dignas compatíveis com a sua grandeza, em especial no que diz respeito ao aperfeiçoamento, à modernização e à revitalização desse relevante programa de transferência de renda aos efetivamente carentes, que, no momento, tornou-se objeto e alvo de intensos questionamentos e severas críticas, que são inexplicavelmente ignorados pelo governo, por apenas aparentar se sentir no conforto da recompensa pelo reconhecimento do seu “esforço” com os votos maciçamente recebidos na última eleição, fato este que não condiz com a finalidade pública, stricto sensu, que tem por escopo a exclusiva satisfação do interesse público.
          Como a administração pública está em dívida para com os contribuintes, é preciso que a eficiência e a modernidade do programa Bolsa Família sejam pensamento vibrante de imprescindível e urgente responsabilidade do Estado, na forma aqui apresentada, cujos delineamentos e objetivos possam atender perfeitamente aos anseios da sociedade quanto ao aprimoramento e à modernidade que se impõem aos gastos públicos, sob pena da continuidade do enorme desperdício de recursos públicos e da degeneração dos princípios humanitários, pela cristalina contribuição da administração pública à ociosidade e à falta de aproveitamento da preciosa participação da força de trabalho à construção de um país cônscio da sua responsabilidade com o seu progresso. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 02 de dezembro de 2014

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