sexta-feira, 24 de abril de 2015

Sentimento de desumanidade?

O pontífice voltou a barrar a indicação da França de seu embaixador na Santa Sé, sob a alegação de que ele é homossexual assumido, embora também seja católico convicto, mas mesmo assim não poderá representar seu país, segundo o entendimento do papa.
Segundo a imprensa, a França e o Vaticano decidiram travar batalha que já se arrasta há três meses, envolvendo a nomeação do francês pelo presidente dessa nação, que não foi admitida pelo papa, apesar de suas credenciais para o relevante cargo.
Embora o francês seja católico fervoroso, ele jamais omitiu a sua homossexualidade, como também nunca quis se casar ou celebrar união civil, fatos que teriam causado o repetido veto papal. Entendidos da diplomacia vaticanista garantem que a negativa papal é a maneira de se exigir que o governo francês resolva adotar a lei do casamento homossexual, aprovada ainda em 2013.
Salvo uma regra draconiana de preconceito e de discriminação ao ser humano, o que seria também censurável não há a menor norma ou princípio com capacidade para limitar a capacidade do homossexual de desempenhar qualquer cargo ou função, porque os seres humanos devem ser compreendidos e tratados com dignidade e respeito, não sendo justo que alguém padeça ou sofra qualquer restrição pelo simples fato ou condição de ser homossexual ou heterossexual ou qualquer forma de sentimento pessoal.
A situação se torna ainda mais delicada por envolver a figura da maior autoridade católica, que demonstra graciosa hostilidade contra seu semelhante, como se a condição de ser homossexual se tornasse expurgo da sociedade, que nada mais é do que o resultado da vontade de Deus de conceder aos homens o direito de ser e de viver apenas segundo as suas convicções religiosas, culturais, ambientais, sexuais etc., porquanto causa afronta aos princípios social e humano qualquer forma de discriminação, censura, preconceito ou julgamento que não levem em consideração motivos plausíveis e justos.
Convém que haja entendimento, compreensão e respeito mútuos, como forma de consolidação dos princípios cristãos de aceitação e de convivência pacíficas entre os filhos de Deus, porque ninguém tem o direito de julgar sob medida sem o devido amparo humanitário, sob pena de se cometer irreparável injustiça.
Causa a maior estranheza a notícia de o papa ter a insensibilidade de decidir em contrariedade aos princípios cristãos, no que diz respeito ao amor ao próximo, conforme ensinou o grande Mestre, que somente foi capaz de condenar a falta de amor, porque o desamor é contra o consagrado sentimento da vida.
Ao negar o exercício do cargo de embaixador a ser humano plenamente habilitado para tal, o papa simplesmente comete grave pecado, porque ele não tem competência para julgar ninguém a não ser a si próprio, que, nesse episódio, ele se houve como Deus, que é o único ser capaz de dizer se o francês tem alguma mácula incapacitante tão somente por ser convicto homossexual, como se isso fosse algo capaz de causar prejuízo a qualquer ser ou instituição da face da terra, muito menos do Vaticano, mesmo porque não se pode afirmar ou negar, com absoluta convicção, que ele esteja imune a qualquer sentimento humano, nem mesmo quanto ao da existência de homossexualidade no âmbito da Igreja Católica.
A atitude do papa, se realmente fundamentada na condição da homossexualidade, é completamente questionável, justamente por ela não se coadunar com a liturgia do principal cargo exercido na terra em nome de Deus, que, apesar de ele ser o sumo pontífice, jamais poderia se expor por tão pouco, conquanto a sua missão seja exatamente de acolhimento a todos indistintamente ao rebanho das ovelhas de Jesus Cristo, mesmo porque ele não tem o direito de agir diferentemente disso, sob pena de não corresponder às expectativas que todos esperam que ele seja compreensivo e justo para com o seu semelhante.
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
          Brasília, em 24 de abril de 2015

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