O pontífice voltou a barrar a indicação da França de
seu embaixador na Santa Sé, sob a alegação de que ele é homossexual assumido,
embora também seja católico convicto, mas mesmo assim não poderá representar
seu país, segundo o entendimento do papa.
Segundo a imprensa, a França e o Vaticano decidiram
travar batalha que já se arrasta há três meses, envolvendo a nomeação do
francês pelo presidente dessa nação, que não foi admitida pelo papa, apesar de
suas credenciais para o relevante cargo.
Embora o francês seja católico fervoroso, ele jamais
omitiu a sua homossexualidade, como também nunca quis se casar ou celebrar união
civil, fatos que teriam causado o repetido veto papal. Entendidos da diplomacia
vaticanista garantem que a negativa papal é a maneira de se exigir que o
governo francês resolva adotar a lei do casamento homossexual, aprovada ainda
em 2013.
Salvo
uma regra draconiana de preconceito e de discriminação ao ser humano, o que
seria também censurável não há a menor norma ou princípio com capacidade para
limitar a capacidade do homossexual de desempenhar qualquer cargo ou função,
porque os seres humanos devem ser compreendidos e tratados com dignidade e respeito,
não sendo justo que alguém padeça ou sofra qualquer restrição pelo simples fato
ou condição de ser homossexual ou heterossexual ou qualquer forma de sentimento
pessoal.
A
situação se torna ainda mais delicada por envolver a figura da maior autoridade
católica, que demonstra graciosa hostilidade contra seu semelhante, como se a
condição de ser homossexual se tornasse expurgo da sociedade, que nada mais é
do que o resultado da vontade de Deus de conceder aos homens o direito de ser e
de viver apenas segundo as suas convicções religiosas, culturais, ambientais,
sexuais etc., porquanto causa afronta aos princípios social e humano qualquer
forma de discriminação, censura, preconceito ou julgamento que não levem em consideração
motivos plausíveis e justos.
Convém
que haja entendimento, compreensão e respeito mútuos, como forma de
consolidação dos princípios cristãos de aceitação e de convivência pacíficas
entre os filhos de Deus, porque ninguém tem o direito de julgar sob medida sem
o devido amparo humanitário, sob pena de se cometer irreparável injustiça.
Causa a maior estranheza a notícia de o papa ter a
insensibilidade de decidir em contrariedade aos princípios cristãos, no que diz
respeito ao amor ao próximo, conforme ensinou o grande Mestre, que somente foi
capaz de condenar a falta de amor, porque o desamor é contra o consagrado
sentimento da vida.
Ao negar o exercício do cargo de embaixador a ser
humano plenamente habilitado para tal, o papa simplesmente comete grave pecado,
porque ele não tem competência para julgar ninguém a não ser a si próprio, que,
nesse episódio, ele se houve como Deus, que é o único ser capaz de dizer se o
francês tem alguma mácula incapacitante tão somente por ser convicto
homossexual, como se isso fosse algo capaz de causar prejuízo a qualquer ser ou
instituição da face da terra, muito menos do Vaticano, mesmo porque não se pode
afirmar ou negar, com absoluta convicção, que ele esteja imune a qualquer
sentimento humano, nem mesmo quanto ao da existência de homossexualidade no
âmbito da Igreja Católica.
A atitude do papa, se realmente fundamentada na
condição da homossexualidade, é completamente questionável, justamente por ela não
se coadunar com a liturgia do principal cargo exercido na terra em nome de
Deus, que, apesar de ele ser o sumo pontífice, jamais poderia se expor por tão
pouco, conquanto a sua missão seja exatamente de acolhimento a todos indistintamente
ao rebanho das ovelhas de Jesus Cristo, mesmo porque ele não tem o direito de agir
diferentemente disso, sob pena de não corresponder às expectativas que todos
esperam que ele seja compreensivo e justo para com o seu semelhante.
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 24 de abril de 2015
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