domingo, 12 de abril de 2015

Demonstração de insensibilidade

Diante da polêmica envolvendo a redução da maioridade penal, a partir da discussão da matéria pelo Congresso Nacional, a presidente da República resolveu se manifestar sobre o tema, para dizer que se posiciona contrariamente à proposta que reduz de 18 para 16 a idade mínima pela responsabilização criminal.
A petista disse, in verbis: “Não é a solução: os adolescentes não são responsáveis por grande parte da violência praticada no país. Os atos infracionais cometidos por eles não chegam a 10% do total dos crimes praticados no Brasil há décadas”.
A decisão de se manifestar sobre o tema em tela é fruto de aconselhamento do conselho político da presidente, que houve por bem dizer que o governo deveria se posicionar em contraposição à proposta sob exame, conquanto o vice-presidente da República entenda que o Planalto deveria se manter neutro devido à polêmica em torno do assunto.
Com a finalidade de dar continuidade ao posicionamento ora adotado, o ministro da Justiça foi incumbido pela presidente de se manifestar em nome da petista, para defender a manutenção do status quo da maioridade penal.
À vista do alto interesse da presidente do país sobre a imutabilidade da maioridade penal, o Ministério da Justiça deverá ser pungente defensor do interesse presidencial sobre o tema em referência, atuando como espécie de porta-voz da petista nesta matéria.
Especula-se que o projeto de redução da maioridade penal, que conta com o apoio do presidente da Câmara dos Deputados – desafeto do governo -, tem possibilidade de ser aprovado até junho próximo vindouro, após o que será enviado ao Senado Federal e, se aprovado, ele será promulgado, obviamente sem a participação da presidente brasileira, que não tem poder de veto, em se tratando de Emenda à Constituição.
Causa enorme estranheza que a mandatário do país, que não se cansa de dizer que governa para os brasileiros, se posicione diametralmente contrária à vontade quase soberana deles, que, em pesquisas de opinião pública, não deixaram dúvida alguma de que são favoráveis, em mais de 90% dos entrevistados, à redução da maioridade penal, ante a falta de alternativa para cuidar de causa tão preocupante, que é a delinquência na menoridade.
Também não deixa de ser bastante preocupante a posição contrária da presidente do país, por se escudar em argumentos fragilíssimos, de que “... os adolescentes não são responsáveis por grande parte da violência praticada no país. Os atos infracionais cometidos por eles não chegam a 10% do total dos crimes praticados no Brasil há décadas”.
Essa ridícula e insustentável alegação demonstra, à luz solar, o quanto o governo não consegue contrapor com elementos plausíveis à visível falta de medidas capazes de justificar a defesa de vontade soberana manifestada por expressiva parcela dos brasileiros, superior a 90%, inclusive daqueles que a reelegeram.
Ocorre que a população não está preocupada somente com a baixa ou alta incidência comparativa da criminalidade praticada por menores, que pode não atingir determinado percentual, porque ela já ser alarmante e intolerável, mas sim com o efetivo combate, de forma concreta e responsável, à violência que grassa descontrolada e impune envolvendo menores de idade.
Por sua vez, causa perplexidade se perceber que a presidente tem a insensibilidade de se posicionar contra a redução penal, mas, em contraposição, não teve capacidade de anunciar nenhuma medida, por minimamente que fosse, capaz de minimizar a situação caótica que se encontram os menores infratores, completamente à mercê da ausência de programas socioeducativos e de apoio específico em projetos de dignificação do menor, que poderia ser amparado e apoio bem antes do seu ingresso no mundo da criminalidade.
Diante da indiscutível gravidade evidenciada com envolvimento de menores de idade no mundo da violência e da criminalidade, cuja incidência tende a progredir em escala sempre crescente, ante a inércia e a incapacidade governamental já demonstradas de nada ter sido feito ou de ainda poder ser implementado, seria muito mais elegante e coerente com a realidade sobre a matéria que a presidente da nação se mantivesse neutra nesse episódio, para que a sua responsabilidade no caso não se tornasse ainda mais questionada, justamente por ter sido omissa por tanto tempo sobre situação de extrema gravidade, notadamente com gravíssimos prejuízos para a sociedade, que se mantém cada vez mais insegura e desprotegida, e os menores infratores, que estão desorientados e livres para seus planos de barbaridades no cenário do submundo da criminalidade, também padecendo à mercê da indiferença das autoridades púbicas. Acorda, Brasil!                           
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 12 de abril de 2015

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