quarta-feira, 8 de abril de 2015

A legitimação da propina

O tesoureiro do PT, que já é réu em processo da Operação Lava-Jato, decidiu responder às perguntas formuladas pelos integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito da Petrobras, segundo informação prestada pela assessoria da Secretaria de Finanças do partido. Por estar na condição de investigado na referida operação e também como já se tornou praxe entre os acusados de corrupção, o petista poderia usar o injustificável direito de ficar calado. 
O petista responde na Justiça Federal por suspeita de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, graças às informações prestadas por delatores da Lava-Jato, que apura desvio de dinheiro da Petrobras, de que ele teria participado da intermediação para a obtenção das doações para o PT, provenientes de propina incluída em contratos celebrados pela Petrobras.
Tanto o petista como a direção do PT negam as suspeitas de desvio de recursos e garantem que as doações ao partido são legítimas.
A assessoria da Secretaria de Finanças do partido afirma que o tesoureiro petista irá manter, em seu depoimento à CPI, a versão já reiteradamente declarada de que não teria participado de nenhum esquema destinado à arrecadação de propina para o partido, ou seja, ele simplesmente vai tentar convencer os parlamentares que o dinheiro sujo provenientes dos contratos superfaturados da Petrobras somente é sujo antes de ser recebido pelos cofres do PT, que o transforme e contabiliza como doação legítima, que posteriormente recebe o sinete da pureza pela Justiça.
A presença do tesoureiro na CPI é excelente oportunidade não para revelações bombásticas, porque ele jamais iria contribuir para tal, mas sim para serem quebrados os sigilos bancário e fiscal dele e principalmente do PT, tendo por finalidade se verificar a real destinação do dinheiro sujo que teria sido desviado por meio de contratos superfaturados, bem assim se comprovar que a dinheirama de propina vem sendo limpa e esquentada de forma igualmente espúria junto à Justiça eleitoral, que vem prestando lastimável e ridículo desserviço ao país, por contribuir para legitimar doações ilegais, em indiscutível afronta às normas segundo as quais a Justiça eleitoral tem o dever constitucional de zelar pelo seu fiel cumprimento. Ou seja, no entendimento da cúpula do partido, as doações, que têm origem ilegítima, estão sendo consideradas legais, posteriormente e sem problemas, pela Justiça.
A propósito, convém assinalar que, no dia que a Polícia Federal foi à casa do Tesoureiro, buscá-lo para depor, ele se fez de mouco e não abriu a porta para ninguém, fato que obrigou a polícia a pular o muro da casa dele. Superado esse ridículo episódio, ele foi levado para depor. Logo após o depoimento, ele declarou, por meio de nota, que estava aliviado diante da enorme ansiedade para prestar importantes informações à Justiça.
Agora, é provável que ele venha com conversa enganosa similar, para afirmar a felicidade de estar na CPI para dizer a verdade de que o dinheiro que entrou nos cofres do PT, desviado de contratos celebrados pela Petrobras, é absolutamente legal, por ter sido devidamente contabilizado como doação e chancelado, nessas condições, pela Justiça eleitoral.
Nos países sérios e desenvolvidos econômico, político e democraticamente, os homens públicos se afastam voluntariamente de seus cargos quando são acusados de cometerem irregularidades com dinheiro do contribuinte, como forma de se permitir que as apurações sejam realizadas com a maior lisura possível.
Contudo, no país tupiniquim, mesmo que as acusações sejam da maior gravidade, em volume e grandeza, e se tornem cada vez mais insustentáveis, quanto às repercussões negativas, ainda assim os políticos se aferram aos seus cargos, em verdadeira afronta aos princípios da dignidade e da honestidade, que jamais deveriam se afastar da gestão de recursos públicos.
Esse princípio deveria se aplicar, necessariamente e com mais propriedade, sempre que os congressistas fossem acusados de praticar atos irregulares, como forma de se possibilitar amplas e abrangentes investigações sobre os fatos denunciados e de se contribuir para a beneficência da dignidade que deve imperar no âmbito das atividades político-administrativas.
A sociedade espera que o tesoureiro petista tenha a maior generosidade ao deponha na Comissão Parlamentar de Inquérito da Petrobras e seja imbuído dos princípios da ética e do caráter, com vistas a contribuir para o aperfeiçoamento da dignidade humana, com o oferecimento de elementos e informações fidedignas sobre os fatos irregulares cuja responsabilidade lhe é atribuída, com relação às propinas destinadas aos cofres do seu partido, considerando que a sociedade já fez juízo de valor sobre a verdadeira origem delas. Acorda, Brasil!   
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 08 de abril de 2015

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