domingo, 26 de abril de 2015

Demonstração de insensibilidade

A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados aprovou a admissibilidade da proposta de emenda à Constituição, versando sobre a redução da maioridade penal no Brasil, de 18 para 16 anos.
Em razão disso, a presidente da República afirmou que essa medida não resolverá o “problema da delinquência juvenil” no país e que, se aprovada a proposta em causa, significará “grande retrocesso” para o país.
A presidente brasileira disse que “Reduzir a maioridade penal não vai resolver o problema da delinquência juvenil. Isso não significa dizer que eu seja favorável à impunidade. Menores que tenham cometido algum tipo de delito precisam se submeter a medidas socioeducativas, que nos casos mais graves já impõem privação da liberdade. Para isso, o país tem uma legislação avançada: o Estatuto da Criança e do Adolescente, que sempre pode ser aperfeiçoado”.
A petista ressaltou que precisa se ampliar o debate sobre a matéria para alterar a legislação penal, tendo defendido “endurecer a lei”, mas, segundo ela, para punir com mais rigor os adultos que aliciam menores para o crime organizado.
Ela disse que “Eu já orientei o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a dar início a uma ampla discussão com representantes das entidades e organizações da sociedade brasileira para aprimoramento do Estatuto da Criança e do Adolescente. É uma grande oportunidade para ouvirmos em audiências públicas as vozes do nosso país durante a realização deste debate”.
A presidente foi enfática na insistência de que não se pode permitir a redução da maioridade penal, porque “Lugar de meninos e meninas é na escola. Chega de impunidade para aqueles que aliciam crianças e adolescentes para o crime”.
A presidente se diz contrária à redução da maioridade penal não por ser favorável à impunidade, porquanto os menores que cometem algum delito, no entendimento dela, já estão sujeitos às medidas socioeducativas e, nos casos mais graves, os infratores ficam privados da liberdade, mas ela não levou em conta que essa punição é branda de mais, ante aos crimes violentos praticados por menores, que não podem ser punidos por mais de três anos de ressocialização.
É bastante cômodo para a presidente do país opinar sobre matéria que ela tem conhecimento vagamente e a distância dos fatos em si, a exemplo da enorme incidência de casos de violência praticados por menores, que deixam de frequentar escola justamente pelas péssimas condições oferecidas pelo próprio governo, que nada ou pouco faz para melhorar o sistema de ensino público, as instalações físicas das escolas e a remuneração dos professores, não permitindo que as crianças se interesses com vigor por sua formação educacional.
É muito fácil se posicionar contrariamente ao status quo do país, quando se imagina que tudo funciona às mil maravilhas e ainda não sente na pele as agruras pelas quais passam, no cotidiano, a população, que não tem a quem recorrer para demonstrar a sua indignação e insatisfação pela omissão e inércia quanto às responsabilidades de atender e satisfazer às necessidades essenciais do povo, no que diz respeito à prestação de serviços públicos satisfatórios e de qualidade.
Também há clara demonstração de insensibilidade por parte da autoridade pública, quando deixa de ouvir a opinião da sociedade sobre as mazelas existentes na sua administração, a exemplo da ampla e absoluta maioria favorável dos brasileiros à redução da maioridade penal, que ultrapassa a 90% das pessoas ouvidas sobre o assunto em comento.
A presidente do país precisa saber que retrocesso é a insensibilidade das autoridades incumbidas de proteger a sociedade quanto aos crescentes índices de criminalidade praticada por menores de idade, sem que suscite a menor preocupação por parte da governante da nação, a exemplo da inexistência de medidas em combate à violência e ainda por confiar que a mera existência do Estatuto da Criança e do Adolescente, com os graves defeitos de execução, seja suficiente para não se alterar o calamitoso estado de insegurança nacional, salvo para aqueles que vivem devidamente protegidos nos palácios, com plenos segurança e conforto proporcionados pelas mordomias e regalias, capazes de blindar a luz das deficiências e das mazelas existentes além-muros do poder.
Na verdade, retrocesso mesmo é a sociedade ser obrigada, diante dos massacres do dia a dia, a se trancar em suas casas, com medo da violência que grassa no país e ainda ficar tudo por isso mesmo, porque o governo somente se digna a se manifestar sobre o caso quando algo é proposto para mostrar as deficiências administrativas, a exemplo da medida em apreço, em que fica bastante visível a insensibilidade de quem, diante da mobilização sobre o assunto, se diz contrária à vontade dos brasileiros, muitos dos quais votaram pela continuidade da precariedade das políticas públicas.
Não há dúvida de que retrocesso é o governo ficar mais de doze anos esperando que a situação ganhe destaque negativo para simplesmente se manifestar contrariamente a quem teve a iniciativa de dizer que basta de impunidade e de leniência com a bandalheira patrocinada pelos menores de idade.
Trata-se de verdadeiro retrocesso se permitir que a barbárie continue imperando, em nome da impossibilidade da redução da maioridade penal, visto que o menor não infrator vai continuar normalmente não sendo alcançado por qualquer medida punitiva, mas é importante que o governo promova políticas públicas visando à melhoria das condições necessárias ao apoio aos menores, como forma de contribuir para a redução da criminalidade.
A redução da menoridade penal existe normalmente nos países desenvolvidos, como nos Estados Unidos da América, na Itália, na França etc. como forma de se prevenir a alarmante incidência da criminalidade, cujas medidas punitivas, obviamente, somente são aplicadas sobre quem comete infração penal.
À toda evidência, a mentalidade da presidente está coerente com a ideologia do seu partido, segundo a qual a culpa do menor que comete crime é do aliciador e não do próprio autor do ato infracional. Ou seja, para a presidente sempre há um aliciador para que o menor pratique crime. Essa infeliz teoria guarda coerência com o sentimento petista de que a culpa pelas "maldades" constatadas no atual governo é do governo anterior, dando sempre a impressão de que é muito cômodo se atribuir culpa a outrem antes do que assumi-la.
Um país que tem seu mandatário com essa mentalidade não pode avançar e muito menos ainda se desenvolver, visto que é mais cômodo se atribuir a culpa pelos infortúnios a outrem do que assumi-la e nada fazer para, pelo menos, minorá-los.
É induvidoso de que retrocesso é a presidente do país se fazer de mouca para a opinião de mais de 90% dos brasileiros que são favoráveis à redução da maioridade penal, sendo que expressiva parcela teria votado nela.
Para a presidente e alguns políticos que estão conformados com a calamitosa situação da criminalidade juvenil, há a justificativa de que eles têm 100% de proteção e de guarda nos seus palácios, à custa exatamente daqueles que estão desprotegidos e não têm a quem recorrer e, quando se cogita em acabar com a impunidade, surgem os argumentos estapafúrdios de quem teve mais de 12 anos para criar condições para que os menores não se tornassem delinquentes, mas nada fizeram para minorar a lamentável situação de gritante retrocesso social.
Convém que a sociedade proclame como efetivo retrocesso a presidente do país se declarar contrária à redução da menoridade penal, sem que tenha, em mais de década de governo, esboçado a menor preocupação com a calamitosa situação submetida aos menores alvo das medidas objetivas pelo Legislativo, justamente em razão da omissão e da inércia das autoridades públicas incumbidas de promover as condições necessárias à melhoria de vida dos menores que se tornam infratores justamente devido à falta de políticas públicas voltadas para apoiá-los nessa idade da maior vulnerabilidade. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 26 de abril de 2015

Nenhum comentário:

Postar um comentário