segunda-feira, 27 de abril de 2015

Projeto de poder pelo poder?

O presidente nacional do PDT e ex-ministro dos governos petistas deu fortes declarações contra o PT, afirmando, in verbis: “O PT exauriu-se, esgotou-se. Olha o caso da Petrobras. A gente não acha que o PT inventou a corrupção, mas roubaram demais. Exageraram. O projeto deles virou projeto de poder pelo poder”. Ele confirmou ao Estado de S.Paulo o discurso que foi feito para correligionários, com esse teor.
Além de ter sido incisivo sobre o câncer da corrupção no governo petista, o pedetista também atacou os programas dele, a exemplo do Bolsa Família, considerando-o como avanço que teve desfecho com viés de “criação de dependência”. Embora tivesse feito críticas ao desempenho dos governos petistas, ele elogiou os avanços sociais operados neles.
Ele disse que “O governo do PT tirou milhões da miséria, isso é bom pra caramba. O Nordeste é outro avanço, quem não vê isso é mentiroso, nojento. Mas o governo criou também uma dependência. Eu vejo gente que não quer trabalhar pra manter o Bolsa Família. Isso é errado”.
As críticas do pedetista respingaram no próprio partido, uma vez que ele considera que o PDT se “acomodou” por fazer parte da estrutura do poder, sendo obrigado, agora, a buscar outros caminhos.
Os fatos e as investigações não deixam dúvidas quanto às irregularidades com recursos públicos constatadas na Petrobras, mas os petistas insistem em afirmar que as entradas de dinheiro no cofre do seu partido se deram de forma legal, sob o argumento de que elas foram recebidas mediante a expedição de recibos, cujos valores foram contabilizados e confirmados pela Justiça Eleitoral, em conformidade com a legislação aplicável à espécie.
 Contudo, toda essa armação faz o maior sentido tão somente na tentativa de convencer ingênuos e fanatizados a acreditar nessa farsa que não passa de lavagem de dinheiro em altíssimo esquema de corrupção, numa muito bem bolada trama para transformar dinheiro sujo de propina proveniente de contratos celebrados pela Petrobras com empreiteiras em doações limpas, contando com a ajuda da Justiça Eleitoral, que ainda não atentou para o espírito das falcatruas, engendradas de forma maquiavélica por quem arquitetou o pioneiro esquema de quadrilha do mensalão, conforme reconhecimento como tal pelos ministros do Supremo Tribunal Federal.
Não há dúvida de que essa farsa de doações legítimas não resistirá à quebra dos sigilos fiscal, bancário, patrimonial etc. dos envolvidos na indiscutível quadrilha investigada pela eficiente Operação Lava-Jato, mediante a qual dever-se-iam ser rastreadas, de forma abrangente e rigorosa, as atividades econômicas e financeiras havidas nos últimos dez anos, de modo que a verdade viria facilmente à tona e revelaria, enfim, o tanto do recebimento de recursos sem o devido amparo legal.
É induvidoso que o ex-ministro do governo petista disse meia verdade, quando teria afirmado que o "PT roubou demais...", porquanto ele tem bastante autoridade para reconhecer esse fato, que apenas se coaduna com os resultados das competentes e eficientes investigações da Operação Lava-Jato, mas ele é completamente incompetente para afirmar que a referida agremiação "se esgotou", à vista da lastimável reincidência do mensalão, que se agigantou em termos de volume e de partidos envolvidos na nova estrutura do petrolão, cujas práticas se mantiveram fiéis àquelas que alicerçaram o famigerado mensalão, pois ambas as indústrias da corrupção com recursos públicos se revestiram de idêntico propósito, qual seja, o abastecimento dos cofres do partido com dinheiro sujo, fruto de propina proveniente dos bestas dos contribuintes, com a exclusiva finalidade de continuidade no poder.
Certamente que o ex-ministro do Trabalho somente se atreveu a ser tão contundente com duras assertivas contra o partido que ele tanto se "sacrificou" para que ele atingisse o ápice das roubalheiras – afirmadas pelo pedetista - depois de esgotadas as possibilidades de ele assumir qualquer cargo no governo, conquanto o seu lúcido reconhecimento funciona como claro corte das relações amistosas e promíscuas, à vista da sua saída do governo pelas portas dos fundos, quando caiu em desgraça diante da avalanche de denúncias de corrupção cuja responsabilidade lhe foi atribuída à época, mas jamais justificada ou esclarecida por ele nem por ninguém.
É salutar que os fatos venham à luz do dia, conforme estão surgindo por intermédio de aliados do governo, como as declarações sinceras do leal presidente do PDT, de modo a contribuir para a consolidação dos princípios constitucionais da verdade, moralidade, decência e transparência, tão necessários à reconstrução da dignidade na administração do país. Acorda, Brasil!
         
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 27 de abril de 2015

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