sábado, 4 de abril de 2015

A farra aérea vai para os ares?

  Segundo informação divulgada pela assessoria de imprensa do Palácio do Planalto e veiculada pelo site da Folha de S.Paulo, a presidente do país vai decretar medida acabando com a liberalidade de seus ministros poderem viajar para seus Estados de origem, normalmente nos finais de semana, fazendo uso das aeronaves da Força Aérea Brasileira, sob o argumento da necessidade de corte de gastos.
Nos termos da norma que regulamenta a espécie, as aeronaves da Força Aérea Brasileira podem ser usadas pela cúpula dos três poderes da República, mediante requisição por essas autoridades, incluindo os ministros de Estado e observadas as situações de motivo de segurança, emergências médicas, viagens a serviço e nos "deslocamentos para o local de residência permanente.”.
A assessoria do governo disse que, com a nova medida, os ministros somente poderão requisitar aeronaves para se deslocarem para seus Estados de origem em casos excepcionais, quando houver compromisso de trabalho nos mesmos locais e nas mesmas datas.
Sob a premência no ajuste das contas públicas federais, o governo houve por bem promover corte orçamentário, inicialmente estimado da ordem de R$ 80 bilhões, que terá a contribuição com essa medida de restrição do uso das aeronaves oficiais.  
Na verdade, a medida em referência já vem com anos-luz de atraso, tendo em vista que não há a menor justificativa para respaldar que ministros ainda no século XXI usufruam o privilégio de ter avião oficial, custeado a preço de ouro pelos contribuintes, à sua disposição para deslocamento aos seus estados de origem, em verdadeira e escandalosa farra em forma de mordomia a preço incalculável e totalmente incompatível com as suas produções nos cargos, que são normalmente exercidos por força do prestígio no seio do partido que dá apoio político aos projetos do governo, ou seja, sem o menor critério técnico.
O país que se apresenta há algum tempo falido, em termos de competência administrativa, onde as políticas públicas são executadas sem a menor prioridade, não pode se dar o luxo de manter transportes aéreos especiais, com exclusividade, para uma plêiade de funcionários públicos, sob a forma de mordomia absolutamente inaceitável, quando se sabe que há transportes regulares para os estados deles, por meio de linhas comerciais, com preços bem acessíveis, cujas passagens devem ser arcadas normalmente pelos usuários e não pelos contribuintes.
Não há menor dúvida de que o bom senso e a sensatez aconselham que o governo tem enorme obrigação de promover urgente enxugamento das injustificáveis e indecentes regalias e mordomias esparramadas na administração pública e bancadas com o dinheiro do cidadão, a exemplo, entre tantas, da concessão de cartões corporativos, carros oficiais, moradias, passagens aéreas, inclusive especiais para ministros, além de uma série de benefícios que representam altíssimo custo para a sociedade, cuja retirada apenas se compatibiliza com a necessidade de se imprimir parcimônia na gestão dos recursos públicos, que devem ser despendidos com o máximo de austeridade, à vista das sérias dificuldades econômicas e políticas que grassam no país.
Nos países desenvolvidos, até que poderia se justificar a existência de alguns privilégios para excepcionais servidores públicos, mas o alto nível da conscientização político-administrativa dos homens públicos converge para que o Estado tenha o menor gasto com despesas estapafúrdias e desnecessárias como as autorizadas sem o menor questionamento no país tupiniquim, onde os ocupantes de cargos públicos de primeiro escalão não têm o menor escrúpulo em fazer uso da máquina pública em proveito próprio, sem a menor piedade.
Caso o governo pretenda realmente mostrar interesse e compromisso com o enxugamento de despesas inúteis e contrárias ao interesse público, os poderes da República são pródigos de casos de desperdícios de recursos que são jogados pelos ralos do esbanjamento e dos abusos, que são simplesmente praticados em nome da tradição de se manter o Estado na penúria da incompetência e da irresponsabilidade político-administrativas, mas este é o momento ideal para verdadeira limpeza das absurdas e injustificáveis mordomias e regalias, concedidas, de forma inexplicável e imerecida, a determinadas classes privilegiadas do serviço público, cuja eliminação das benesses, por certo, não há de atrapalhar em nada a continuidade das precariedades reinantes na prestação dos serviços públicos, mas haverá significativa economia dos gastos absolutamente dispensáveis. Acorda, Brasil!         
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 04 de abril de 2015

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