sexta-feira, 17 de abril de 2015

Apelo à tolerância e ao amor

Há pouco tempo, o mundo foi barbaramente surpreendido com a violência ao extremo, protagonizada pelo injustificado fanatismo religioso, atingindo de forma letal importantes vidas humanas, de profissionais que se encontravam em pleno exercício de suas atividades jornalísticas.
Trata-se de declarada e explícita intolerância religiosa, que, em si, não se justifica pelo ato de tamanha magnitude de irascibilidade, a par de as religiões se assentarem primariamente nos princípios da fraternidade, da compreensão, do amor e da tolerância, que são sentimentos humanos, a princípio, capazes de contribuir para a construção do bem comum e da felicidade, como forma de apego ao desenvolvimento e à elevação espiritual da humanidade.
É provável que o sentimento de intolerância possa explicar, com total clarividência, a atitude estapafúrdia e de extrema barbárie perpetrada em nome ou em defesa do sentimento ao culto à religiosidade, que devia ser empregada somente para a construção do bem e do fortalecimento das relações entre as pessoas, que poderiam ser beneficiadas justamente pela prática do credo religioso, na sua forma apenas verdadeira de ser, com vistas à pacificação e à harmonia na face da terra.
Não se pode negar que a defesa da liberdade religiosa tem o mesmo sentimento da defesa da liberdade de expressão, por serem princípios inerentes ao ser humano, que tem necessidade ao culto dos conceitos que ele acredita, como forma de fortalecimento de sua cresça, tudo em harmonia com o entendimento de democratização, que é pilar fundamental dos direitos humanos e que devem ser consolidados por meio da concórdia, da compreensão, do entendimento e do respeito aos sentimentos inerentes ao homem.
Não obstante, é deveras comum os críticos utilizarem a liberdade de expressão para imiscuir-se nas relações sociais, notadamente no credo religioso, como forma de se expressarem sobre algo que poderia simplesmente ser ignorado, no sentido até mesmo de não se realçar a existência de religião que, à toda evidência, não mais condiz com seus princípios humanitários e de civilidade, de vez que muitos seguidores fanatizados, com pouca informação sobre os verdadeiros sentimentos religiosos deturpam a missão humanitária de paz e amor ao próximo, preferindo, de forma inexplicável, a selvageria e o terrorismo como instrumento de enfrentamento, que são a antítese do espírito de confraternização que deve imperar nas relações entre povos de diferentes culturas religiosas.
Neste mundo conturbado, somente pode reinar a paz caso o homem se conscientize sobre a necessidade de mudança da mentalidade quanto ao indispensável entendimento acerca do respeito mútuo, que deve prevalecer entre os povos, como forma de se possibilitar a construção e a preservação das tão almejadas harmonia e paz nas relações humanas.
A afirmação desses princípios no seio dos povos tem sido perseguida de priscas eras, mas a sua persecução não tem sido possível, graças à persistente intolerância dos homens, que entendem cada vez mais que somente suas posições e seus sentimentos devam prevalecer uns sobre os outros, impossibilitando a convergência de ideias e de opiniões, inclusive e principalmente no que se refere às religiosas, como no caso aqui enfocado.   
A violência contra as liberdades individuais é a inequívoca demonstração da quebra da salutar corrente que contribui para alimentar o importante processo de valorização dos princípios humanistas, que deveria se harmonizar com o espírito ínsito de tolerância religiosa, que se fundamenta na essencialidade da preservação das liberdades individuais e do pluralismo religioso, como forma de enriquecimento dos valores humanitários.
Qualquer forma de censura, truculenta ou não, é absolutamente inaceitável, por ser incompatível com a dignidade humana, que precisa possuir o poder do usufruto de todas as liberdades imagináveis e permitidas ao seu majestoso pensamento criativo, certamente emanado e inspirado pelos deuses, não importando qual seja a sua fonte de religiosidade.
O assassinato das ideias não é a vã tentativa de mostrar que o pensamento religioso está morto dentro das pessoas, mas sim da sua perversa materialização, por meio de ataque a sangue e fogo, simplesmente com a intimidação à beleza do riso e à espontaneidade da produção do humor, que não têm o menor poder de interferir, de forma prejudicial, na capacidade do credo religioso, por mais expressivo que eles sejam caracterizados.  
A barbárie motivada por sentimento descontrolado não aumenta ou diminui o poder daquele a quem se devota veneração divina. Isso, ao contrario, apenas representa a fraqueza da intolerância e da intransigência com o livre pensamento e a liberdade de expressão, conceitos estes de amplo domínio dos fundamentalistas que tentam transformar uma religião em instrumento de medo, terror e ameaça ao mundo moderno de pensamento, que não concebe à intocabilidade da imagem de nenhum Deus, por mais poderoso que a ele se procure atribuir esse valor divino.
Não adianta o mundo bradar que somos Charlie ou algo semelhante, como forma meramente de repúdio à barbárie e ao terrorismo tresloucados e inconsequentes, se não houver atitudes concretas dos homens de boa vontade, desejosos do entendimento e da concórdia, que devem prevalecer entre os povos, respeitando mutuamente seus sentimentos de religiosidade e de limites de informação e expressão, sem que haja interferência de opiniões prejudiciais entre ambas, como forma capaz de contribuir para a convivência pacífica e construtiva entre os homens.
Não é correto nem justo somente se pronunciar “Je Sui Charlie”, mas sim “Somos todos seres humanos”, independentemente de pensamento religioso, cultural, artístico, intelectual ou dogmático defendido por quem quer que seja, como forma ideal e aconselhável de convivência pacífica, harmoniosa e amorosa entre os homens, que devem se esforçar para a valorização dos princípios construtivos da tolerância e da humanização.
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 17 de abril de 2015

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