Há
pouco tempo, o mundo foi barbaramente surpreendido com a violência ao extremo,
protagonizada pelo injustificado fanatismo religioso, atingindo de forma letal
importantes vidas humanas, de profissionais que se encontravam em pleno
exercício de suas atividades jornalísticas.
Trata-se
de declarada e explícita intolerância religiosa, que, em si, não se justifica pelo
ato de tamanha magnitude de irascibilidade, a par de as religiões se assentarem
primariamente nos princípios da fraternidade, da compreensão, do amor e da
tolerância, que são sentimentos humanos, a princípio, capazes de contribuir
para a construção do bem comum e da felicidade, como forma de apego ao
desenvolvimento e à elevação espiritual da humanidade.
É
provável que o sentimento de intolerância possa explicar, com total clarividência,
a atitude estapafúrdia e de extrema barbárie perpetrada em nome ou em defesa do
sentimento ao culto à religiosidade, que devia ser empregada somente para a
construção do bem e do fortalecimento das relações entre as pessoas, que
poderiam ser beneficiadas justamente pela prática do credo religioso, na sua
forma apenas verdadeira de ser, com vistas à pacificação e à harmonia na face da
terra.
Não
se pode negar que a defesa da liberdade religiosa tem o mesmo sentimento da
defesa da liberdade de expressão, por serem princípios inerentes ao ser humano,
que tem necessidade ao culto dos conceitos que ele acredita, como forma de
fortalecimento de sua cresça, tudo em harmonia com o entendimento de democratização,
que é pilar fundamental dos direitos humanos e que devem ser consolidados por
meio da concórdia, da compreensão, do entendimento e do respeito aos
sentimentos inerentes ao homem.
Não
obstante, é deveras comum os críticos utilizarem a liberdade de expressão para
imiscuir-se nas relações sociais, notadamente no credo religioso, como forma de
se expressarem sobre algo que poderia simplesmente ser ignorado, no sentido até
mesmo de não se realçar a existência de religião que, à toda evidência, não
mais condiz com seus princípios humanitários e de civilidade, de vez que muitos
seguidores fanatizados, com pouca informação sobre os verdadeiros sentimentos
religiosos deturpam a missão humanitária de paz e amor ao próximo, preferindo,
de forma inexplicável, a selvageria e o terrorismo como instrumento de
enfrentamento, que são a antítese do espírito de confraternização que deve
imperar nas relações entre povos de diferentes culturas religiosas.
Neste
mundo conturbado, somente pode reinar a paz caso o homem se conscientize sobre
a necessidade de mudança da mentalidade quanto ao indispensável entendimento
acerca do respeito mútuo, que deve prevalecer entre os povos, como forma de se
possibilitar a construção e a preservação das tão almejadas harmonia e paz nas
relações humanas.
A
afirmação desses princípios no seio dos povos tem sido perseguida de priscas
eras, mas a sua persecução não tem sido possível, graças à persistente
intolerância dos homens, que entendem cada vez mais que somente suas posições e
seus sentimentos devam prevalecer uns sobre os outros, impossibilitando a convergência
de ideias e de opiniões, inclusive e principalmente no que se refere às
religiosas, como no caso aqui enfocado.
A
violência contra as liberdades individuais é a inequívoca demonstração da
quebra da salutar corrente que contribui para alimentar o importante processo
de valorização dos princípios humanistas, que deveria se harmonizar com o
espírito ínsito de tolerância religiosa, que se fundamenta na essencialidade da
preservação das liberdades individuais e do pluralismo religioso, como forma de
enriquecimento dos valores humanitários.
Qualquer
forma de censura, truculenta ou não, é absolutamente inaceitável, por ser
incompatível com a dignidade humana, que precisa possuir o poder do usufruto de
todas as liberdades imagináveis e permitidas ao seu majestoso pensamento
criativo, certamente emanado e inspirado pelos deuses, não importando qual seja
a sua fonte de religiosidade.
O
assassinato das ideias não é a vã tentativa de mostrar que o pensamento
religioso está morto dentro das pessoas, mas sim da sua perversa
materialização, por meio de ataque a sangue e fogo, simplesmente com a
intimidação à beleza do riso e à espontaneidade da produção do humor, que não
têm o menor poder de interferir, de forma prejudicial, na capacidade do credo
religioso, por mais expressivo que eles sejam caracterizados.
A
barbárie motivada por sentimento descontrolado não aumenta ou diminui o poder
daquele a quem se devota veneração divina. Isso, ao contrario, apenas
representa a fraqueza da intolerância e da intransigência com o livre
pensamento e a liberdade de expressão, conceitos estes de amplo domínio dos
fundamentalistas que tentam transformar uma religião em instrumento de medo,
terror e ameaça ao mundo moderno de pensamento, que não concebe à
intocabilidade da imagem de nenhum Deus, por mais poderoso que a ele se procure
atribuir esse valor divino.
Não
adianta o mundo bradar que somos Charlie ou algo semelhante, como forma meramente
de repúdio à barbárie e ao terrorismo tresloucados e inconsequentes, se não
houver atitudes concretas dos homens de boa vontade, desejosos do entendimento e
da concórdia, que devem prevalecer entre os povos, respeitando mutuamente seus
sentimentos de religiosidade e de limites de informação e expressão, sem que
haja interferência de opiniões prejudiciais entre ambas, como forma capaz de
contribuir para a convivência pacífica e construtiva entre os homens.
Não é correto nem justo somente se pronunciar “Je Sui
Charlie”, mas sim “Somos todos seres humanos”, independentemente de pensamento
religioso, cultural, artístico, intelectual ou dogmático defendido por quem
quer que seja, como forma ideal e aconselhável de convivência pacífica, harmoniosa e amorosa entre os
homens, que devem se esforçar para a valorização dos princípios construtivos da tolerância e da humanização.
ANTONIO
ADALMIR FERNANDES
Brasília,
em 17 de abril de 2015
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