sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

O fim da impunidade na Igreja Católica?


Nos últimos tempos, têm sido comuns as notícias sobre escândalos de abusos sexuais na Igreja Católica, a ponto de o seu vazamento, em nível mundial, exigir a realização de encontro inédito da cúpula da instituição, com a finalidade de se discutir medidas que possam contribuir para a solução de tão grave problema.
          As denúncias sobre abusos surgem com muita frequência, em ritmo galopante e de igual modo preocupante, conquanto os especialistas em Vaticano, os chamados vaticanistas, já se manifestaram sobre o entendimento segundo o qual essa crise é a mais grave da instituição desde a Reforma Protestante, eclodida há cinco séculos.
Diante de forte pressão vinda do mundo inteiro, o papa se viu obrigado a convocar encontro que reúne aproximadamente duzentos líderes religiosos, na maioria bispos, no Vaticano, que vão se debruçar e se debater, no período de quatro dias, em conferência para se vislumbrar medidas capazes de coibir os abusos contra crianças e jovens, tendo também a finalidade de restabelecer a credibilidade da Igreja Católica.
Espera-se que o encontro seja o mais produtivo possível, de modo que possam surgir medidas concretas, com capacidade para o estabelecimento de regras claras quanto à definitiva implantação do princípio da tolerância zero para com os crimes de abusos sexuais e da imediata aplicação de penalidades duras contra seus autores, tanto no âmbito da própria igreja, quanto no que tange ao aspecto penal, na esfera civil.
Não se pode olvidar que até então tem havido uma espécie de banalização dos abusos no seio da igreja, exatamente protagonizados por quem tem a obrigação de dar bons exemplos de evangelização e ensinamentos da doutrina cristã, sob o manto da batina, usada por demônios trasvestidos de padres pedófilos e estupradores de freiras a religiosos, sem o menor escrúpulo quanto ao seu juramento diante Deus, de contribuírem para dignificação dos princípios religiosos.
A verdade é preciso que seja dita que, no pontificado do atual papa, os fatos sobre abusos na igreja são tratados com maior responsabilidade, mostrando exatamente que as autoridades eclesiásticas não podem compactuar com a promiscuidade que se percebia com relação às gestões anteriores da instituição, que preferiram fechar os olhos para a sujeira moral, como maneira absurda de esconder do mundo a realidade nua e crua, quando os fatos perniciosos somente contribuíam para o descrédito e a desmoralização da igreja.
À toda evidência, a conferência que se realiza no Vaticano tem o condão de pôr à prova a capacidade e a autoridade do papa, cujo resultado há de indicar a dimensão da credibilidade das medidas que forem aprovadas, que não podem se restringir à simples contemplação da lastimável situação, sem recado duro aos criminosos vestidos de batina.
Há que se ressaltar que, em tempo algum, houve, como agora, papa disposto a ouvir os rosários das vítimas de abusos de religiosos, o que demonstra maior interesse para a compreensão sobre o sofrimento delas, quando antes muitas sequer eram ouvidas e seus casos nem serviam para as estatísticas oficiais da igreja, ficando impunes os autores das monstruosidades perpetradas sob a cumplicidade de autoridades eclesiásticas.
É notório que o papa pode ser considerado verdadeiro baluarte nessa batalha inglória, por lutar praticamente sozinho contra terríveis resistências ostensivas no seio da poderosa Cúria Romana, sob o comando da ala considerada ultraconservadora da igreja, que insiste bravamente à transparência do que acontece dentro da instituição.
Exemplo claro da disposição papal sobre o enfrentamento solitário do conservadorismo veio com a expulsão do sacerdócio, em decisão inédita, de um cardeal que foi arcebispo de Washington (EUA), o mais alto posto da Igreja Católica, obviamente depois do próprio papa, tendo sido destituído da instituição depois de comprovadas as práticas de abusos sexuais no exercício de atividades religiosas.
Com esse gesto de coragem e maturidade papal, foram quebradas, enfim, as correntes da impunidade, ficando o cristalino recado da igreja de que ninguém é intocável, com a visível sinalização de que é saudável a transparência nas relações entre eclesiásticos e comunidade, de modo a se permitir se vislumbrar que a desgraçada impunidade de religiosos abusadores de inocentes pode estar muito próximo da eliminação no âmbito da Santa Igreja Católica e que isso aconteça o mais breve possível, para o bem e o revigoramento da  importante instituição edificada por Jesus Cristo.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 22 de fevereiro de 2019

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