sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Em nome da dignidade política


Quase sem surpresa, a condenação aplicada pela Justiça ao ex-presidente da República petista, a 12 anos e 11 meses de prisão, pela prática de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, na ação referente ao sítio de Atibaia (SP), dá xeque-mate ao PT, em termos de pretensões políticas, quando o resultado da defesa do político, mais uma vez, não passou de verdadeiro fiasco, pela fragilidade dos argumentos jurídicos, que não conseguiram demover as robustas provas coligidas pela força-tarefa da Operação Lava-Jato, à luz da sentença condenatória.
Vejam-se que as provas da corrupção elencadas pela juíza são, em princípio, fortes, consistentes, inequívocas, consistentes em e-mails, notas fiscais, depoimentos, roupas e objetos pessoais e da família, bote, adega etc., fatos estes com caracterização de difíceis despistes sobre a vinculação do ex-presidente com os objetos relacionados com as questionadas reformas, impossibilitando qualquer convencimento que tudo isso não tem nada a ver com a pessoa dele.
Na verdade, é preciso muita ingenuidade para se acreditar na negação do recebimento de algo devidamente atestado e confirmado, mediante fatos incontestáveis, por quantos participaram da reforma do sítio, que teve razoável duração que o ex-presidente jamais poderia desconhecer, porque em período no qual ele nunca deixou de frequentá-lo, a ponto de se aceitar a negação de que tudo não se passava sob o conhecimento dele.
Outro fato esclarecedor diz respeito à afirmação do dito proprietário do imóvel, quando deixou muito claro, ao afirmar que não pagou nada das despesas pertinentes às reformas e de igual modo também não houve pagamento por parte do principal beneficiário e usufrutuário das dependências da casa ali existente, ficando os gastos por contas de empreiteiras, por meio de dinheiro de propina.
É até possível que, no caso da primeira condenação, houvesse a possibilidade da existência de conversarias quanto à materialidade sobre a autoria dos crimes denunciados, em que pese a apelação sobre o caso ter sido confirmada em segunda instância, por outros três juízes, mas, no presente caso, as provas parecem muito mais sobejas, diante, sobretudo, das confissões dos empreiteiros que promoveram as reformas, reafirmando o pagamento das despesas com dinheiro de propina e a documentação e demais elementos probantes as chancelam, pondo a salvo qualquer celeuma sobre os fatos objeto da ação em causa.
Diante dos fatos vindos à lume, parece cada vez mais fragilizadas a insistência e a veemência da surrada alegação da tese da “perseguição política”, basicamente na vã tentativa de se mostrar que, se há culpa nesse imbróglio, é da Justiça, que fecha os olhos para a robusteza dos elementos de defesa apresentados, que não foram levados em conta, de modo a isentar o ex-presidente de qualquer culpa sobre os fatos denunciados.
A verdade é que, diante das condenações já aplicadas pela Justiça e ainda, à vista das investigações em curso, o petista precisa se conscientizar de que ele, mesmo com o respeito pelo seu passado de presidente da República brasileira, a sua condição, agora, é de criminoso que não conseguiu provar a sua inocência nos casos já julgados, conquanto as acusações sobre perseguições políticas, parcialidade de julgamento e outras formas de acusações para denegrirem a imagem das pessoas precisam ser substituídas por algo cuja consistência apresentem plausibilidade compatível com a realidade sobre os fatos em si, caso seja a intenção do resgate da autenticidade que os homens públicos precisam demonstrar e comprovar perante a opinião pública.
É consabido que o respeito e o acatamento à autoridade reservada legalmente ao ex-presidente da República somente prevalece se o homem público demonstrar condições morais para tanto e essa honraria e outras conquistas decorrentes do poder advindas do seu governo não se confundem com a obrigação de se livrar dos próprios crimes, eis que as situações são distintas entre si, o que vale dizer que mais condenação à prisão, menos força política tem o homem público e isso é preciso que a sociedade perceba, diante dos princípios republicano e democrático, que se assentam nos conceitos de ética, moralidade, honorabilidade, dignidade, entre outros que são essenciais na estrutura da administração pública.  
Causa enorme perplexidade que a decadência moral do ex-presidente já era mais do que visível mesmo antes das últimas eleições, mas ele queria loucamente mostrar que não estava errado, mas sim errado era quem o julga, tendo ele jogado suas fichas políticas na sua popularidade, evidentemente para tentar recuperar o seu poder político e ainda resgatar a força do PT, só que muitos brasileiros se despertaram para a realidade sobre os fatos e demonstraram o seu desejo de mudanças, que passa pela eliminação da vida pública de muitos políticos cuja moralidade é incompatível com esse sentimento de transformação do Brasil.
A nova condenação reforça ainda mais o sentimento de que a corrupção para algum partido é algo que não se pode levar tudo tão a sério assim, quando seu líder, que se tornou símbolo-mor da corrupção, foi capaz de ter olhar generoso para com a pobreza, como isso fosse viés abonador de ato contrário aos princípios republicanos, dando a entender que outros partidos também têm corruptos e muitos dos quais estão livres, leves e soltos, no mundo do crime, o que até pode ser verdade, mas, no mundo jurídico, um erro não justifica outro.
Embora as condenações ao petista-mor tenham visível conotação direta com o imprescindível combate à corrupção, não é comum que as lideranças do partido dele se manifestarem em veemente condenação ao câncer da corrupção, o que teria, como consequência, necessariamente, a expulsão da agremiação de quem se encontra preso justamente pela prática de graves crimes de corrupção contra a administração pública, o que se demonstraria coerência com a defesa dos conceitos salutares de ética, moralidade, dignidade, decoro, honestidade, entre outros que precisam ser cultuados na vida pública.
Infelizmente, ao contrário, a história do partido mostra cabalmente que muitas de suas lideranças, condenadas pela Justiça, pela prática de corrupção, são, inexplicavelmente, aplaudidas e saudadas pela militância como verdadeiros heróis brasileiros, em cristalina demonstração da dificuldade sobre a compreensão acerca do verdadeiro sentido ecumênico e óbvio do que seja moralidade incondicional, não importando, para ela, como se comportam os homens públicos do sua agremiação, que também somente deveria ter uma única alternativa de seguir fielmente os princípios éticos e morais.
Vejam-se o acentuado contraste existencial do PT, que é considerado, em termos nacionais, uma federação de diferentes tendências, mas que tem única e poderosa influência do ex-presidente, condenado à prisão pela segunda vez, em torno do qual todos se unem e se esforçam na consistência partidária, mesmo que a força política dele, em termos de moralidade e credibilidade, já não seja a mesma de quando os fatos deletérios eram somente do domínio de poucos, fato esse que bem evidencia que ele precisa ser tratado exatamente na condição de criminoso e não de líder político, diante do sentido da moralidade que exigem as atividades políticas, por força da sua vinculação com a satisfação do bem comum e do interesse público.
Urge que os brasileiros, em nome da dignidade do sistema político-eleitoral, não somente repudiem, com veemência, os homens públicos que se envolvam em casos irregulares com recursos públicos, mas exijam o aperfeiçoamento e a modernidade da legislação pertinente ao aludido sistema, de modo que não seja mais permitido que partidos políticos possam manter como filiados políticos investigados, denunciados ou condenados, em razão de atos contrários aos princípios republicanos da ética, do decoro, da moralidade, da dignidade, entre outros que desabonem as condutas próprias da representação política, inclusive não permitindo que eles se manifestem em nome de partido político.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 8 de fevereiro de 2019

Nenhum comentário:

Postar um comentário