sábado, 23 de fevereiro de 2019

Resistência ao mau-caratismo


Conforme notícia veiculada pela coluna Painel, da Folha de S. Paulo, líderes de partidos integrantes do chamado Centrão acordaram que, até o Palácio do Planalto começar a dialogar com o Congresso Nacional, a proposta de reforma da Previdência não avançará, algo que significa ultimato ao governo, no jargão político.
A insatisfação em relação à falta de interlocução com o governo ficou ainda mais clara depois da primeira derrota do Palácio do Planalto na Câmara dos Deputados, quando um decreto tratando do sigilo sobre informação oficial foi derrotado em toque de caixa e também sem razão plausível para justificar tal medida, apenas para mostrar força e intimidar o presidente do país, dando a entender de que, se não houver negociata, os projetos do governo não serão aprovados no Congresso.
Na ocasião, deputados aprovaram projeto legislativo que susta os efeitos do decreto editado pelo vice-presidente, no exercício da Presidência da República, que ampliava para funcionários comissionados e de segundo escalão o poder de impor sigilo a documentos públicos.
Segundo a referida coluna, o DEM - partido dos presidentes da Câmara e do Senado - chegou a propor ao ministro da Casa Civil que pudesse atuar diretamente na organização da base, sinalizando para a negociata sobre liberação de “benesses” para congressistas, para a facilitação da aprovação de projetos do governo.
O que não chega a ser surpreendente o vergonhoso alerta feito pela legenda do DEM, de que: só entra "na jogada" se tiver “instrumentos” (emendas parlamentares e cargos) para entregar aos parlamentares, obviamente algo que for acordado em troca do apoio aos projetos de interesse do presidente do país.
Na maior cara-de-pau, um líder do Centrão disse que “é impossível negociar com Lorenzoni, já que ele sempre ouve as demandas, mas nunca tem autonomia para garantir o atendimento por parte do governo.”.
A atuação do líder do governo na Câmara também tem sido questionada, porque ele não é visto com simpatia por dirigentes partidários, que demonstram interesse no afastamento dele do cargo de líder e isso também ficou evidenciado na derrubada do decreto que facilitava o sigilo de documentos públicos, em clara sinalização do descontentamento de parlamentares, diante da falta de canal de negociatas dentro do governo.
Todo esse jogo sujo, envolvendo ameaças, alertas e patifarias nos bastidores do submundo da política rasteira, ainda só está no começo da bandalheira, ante a demonstração da capacidade de vileza por parte da classe política que precisa receber uma traulitada na cara, para aprender a respeitar os bons princípios e as saudáveis condutas de homens públicos dignos e decentes.
Tudo isso significa dizer que, para se aprovar a reforma da Previdência, caso o governo aceite fazer parte dessa desmoralização defendida pela banda podre do Congresso, pode custar muito mais caro do que se imaginaria, podendo se intuir que os deputados despudorados vão pressionar e atazanar o governo em busca de cargos e verbas, em verdadeira demonstração de falta de caráter e de incivilidade política.
É completamente inadmissível que o governo federal ceda aos apelos do vergonhoso e degradante sistema do “toma lá, dá cá” e concorde com pressão para nomear apadrinhados de parlamentares integrantes do Centrão, o que valeria simplesmente a confirmação da traição ao eleitor, a quem foi dito que não haveria mais, no Brasil, a tristeza da prostituição por parte da representação do povo em troca de apoio a projeto do governo, visto que, nesse caso, ambos os envolvidos se enlameiam igualmente com a mesma sujeira pútrida próprias dos recintos dos porcos.
Vejam-se para que ponto as conversas já se descambaram, conforme adiantado pelo jornal O Globo, que disse, em reportagem, que deputados do Centrão já estariam estimando em uma espécie de “cota de gastos” para a garantia da aprovação da reforma.
Segundo a referida reportagem, em conversa com a publicação, o presidente de determinado partido médio, que não foi declinado o seu nome, “indicou que a estimativa é de que cada deputado tenha direito a indicar R$ 7,5 milhões em repasses e obras. Deputados reeleitos teriam direito a R$ 10 milhões.”.
Um parlamentar do Centrão disse que “A ausência dos militares no projeto enviado descontentou deputados, o que significa que a aprovação pode sair cara.”, exatamente por ser um projeto a mais para ser examinado individualmente, deixando evidente a falta de dignidade desse desavergonhado Parlamento, que atua, de forma transparente, em defesa de interesse pessoal e isso precisa ser denunciado e desmascarado, com a maior brevidade possível.
O presidente do PP, maior partido do Centrão, declarou que “Sem uma reforma que alcance também os militares, o texto apresentado não deveria sequer tramitar”.
À luz das informações vindas à lume, é fácil se intuir que há cambada de deputados dignos da qualificação de desprezíveis e imundos, que estão no exercício da representação política para se beneficiarem da influência e das benesses decorrentes do poder, que somente ainda subsistem diante de suas imposições, porque, a partir da negativa, fica caracterizada a sua imundície, em detrimento do interesse público.
A forma mais eficiente de se evitar chantagem é se dizer para o país os nomes dos partidos e seus integrantes que exigem propina para apoiar a aprovação da reforma, sem medo das consequências, porque não é atribuição do governo matéria legislativa, que compete ao Parlamento, onde não pode mais acomodar bandido e aproveitadores dos cofres públicos, diante da necessidade de moralização do Brasil, tão bem conscientizada perante o povo de boa vontade pelo presidente da República, por ocasião da sua campanha eleitoral.
É preciso desmanchar essa farsa do Centrão, por meio de recados diretos, duros, contundentes e mortíferos, no sentido de que a matéria em discussão - a reforma da Presidência - é de interesse do Brasil e a sua aprovação ou não é da competência do Poder Legislativo, ao tempo em que o Palácio do Planalto precisa deixar escancarado que o governo não vai ceder um milímetro, em termos de liberação de cargos nem de verbas, em troca de apoio parlamentar, haja vista que se trata de matéria de incumbência constitucional exclusiva do Congresso, cuja deliberação depende da sua atuação cívica, no âmbito tão somente do interesse público, não cabendo qualquer negociata, envolvendo recursos públicos.
Não há a menor dúvida de que do força do Centrão se traduz em cacife capaz de afrontar a autoridade do presidente da República, como já fez com sucesso no passado e que houve a aceitação pelos governos de então, para impor-lhe derrotas humilhantes e isso poderá se repetir se o governo atual não tiver competência para peitá-lo com a autoridade de mandatário digno e respeitável do país, que não pode, em momento algum, aceitar as ameaças de chantagem, porquanto o Palácio do Planalto precisa utilizar instrumentos com maior capacidade de persuasão em contra-ataque direto, apenas com o emprego da poderosa arma do interesse público como principal argumento para colocar no devido lugar os aproveitadores do poder, obrigando-os, no mínimo, a serem responsabilizados pelos fracassos resultantes das votações de projeto do governo, que precisa se conscientizar de que cada poder da República precisa cumprir fielmente as suas atribuições constitucionais, exatamente nos limites das suas atribuições, sem necessidade do uso indevido e desnecessário de verbas e cargos públicos.
O presidente da República precisa demonstrar que tem caráter e autenticidade como mandatário do Brasil, reafirmando a sua condição estritamente de responsável pelo Poder Executivo, exatamente no devido cumprimento da sua nobre e relevante missão institucional.
Isso vale dizer que, no caso da “Reforma da Previdência”, o presidente do Brasil deve encerrar pela raiz qualquer insinuação sobre o vergonhoso e deprimente sistema que prevaleceu, em plena atividade, nos incompetentes e irresponsáveis governos do passado, que foi consolidado como o indigno e deprimente “toma lá dá cá”, onde nenhuma das partes se ruborizavam de suas atitudes medíocres e degradantes.
É preciso que o presidente do país tenha a dignidade de dizer à nação que já foi cumprido o seu papel de apresentação do projeto da reforma da Previdência ao Poder Legislativo, em rigorosa sintonia com a sua missão institucional de zelar pelo interesse público, na conformidade das prioritárias questões do seu governo, cabendo a responsabilidade de aprovação ou não aos integrantes do referido poder, de acordo com as conveniências e compromissos com seus representados, à medida que as propostas devam atender aos interesses nacionais.
A verdade é que o presidente da República precisa ter a dignidade de mostrar ao país competência para comandar o Brasil, exatamente na forma da independência e da autonomia restritas à cartilha e à liturgia previstas na Constituição Federal, sem se imiscuir nas atribuições de nenhum outro poder da República, tendo em vista que essa forma de ficar auscultando os congressistas e ainda mais atendendo aos seus pleitos espúrios e normalmente inescrupulosos tem o condão de contribuir para a consolidação da desmoralização e do aviltamento da dignidade que precisam ser eliminados da República, com urgência, diante do imperialismo dos princípios da decência e da boa conduto que devem servir de norte para o bom funcionamento da administração pública.
Os brasileiros esperam e confiam que o presidente da República resista bravamente à fúria da indecência e da indignidade protagonizada por parlamentares inescrupulosos, aproveitadores e indignos, não somente rejeitando propostas ultrajantes e vergonhosas intentadas por antipolíticos, como aquelas que forem apresentadas por partidos e integrantes do Centrão, em troca de apoio político na aprovação, no Congresso Nacional, de projetos de interesse do governo, por serem claramente revestidas de irregularidades, mas também de ter coragem e hombridade para denunciar, com a devida comprovação, os nomes dos achacadores, para que os péssimos exemplos sejam desmascarados e execrados da vida pública, em razão do seu prejudicial mau-caratismo ao interesse público, diante da sua atitude absolutamente dissonante com os princípios da dignidade e da moralidade que se exigem no exercício de cargos públicos eletivos.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 23 de fevereiro de 2019

Nenhum comentário:

Postar um comentário