quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

A reforma para o Brasil


A reforma da Previdência tem tudo para ser a última cartada do governo para resolver o alarmante e crônico déficit desse sistema e não é à toa que ele tem despertado as atenções dos mundos político e empresarial, tendo de um lado apoiadores, ainda nem tanto, e do outro, por enquanto, a maioria dos parlamentares que ainda não estão convencidos sobre a real aderência dela à realidade das contas governamentais.
Em princípio, a primeira impressão deixada pelos técnicos do governo é a de que as propostas constantes do projeto têm consistência e coerência, com vistas ao atendimento das necessidades prementes de saneamento das sangrias dos gastos previdenciários, como forma de tapar os ralos dos privilégios e também de se promover a correção das injustiças entre os regimes de seguridade, onde algumas categorias se beneficiam, em detrimento de outras.
Ao que se pode perceber, e isso é mais do que evidente, é que a reforma em apreço sinaliza que o Estado precisa, urgentemente, encontrar a parta de saída do gargalo da eterna insolvência, temendo para o pior se nada for feito ou o que for adotado não seja suficiente para se evitar a continuidade dos gastos previdenciários absolutamente fora de controle.
Não há a menor dúvida de que a reforma da Previdência se funda em projeto complexo, completo e abrangente, que já deveria ter sido implantado desde o início da década de noventa, quando o sistema previdenciário já dava fortes sinais de envelhecimento e degeneração de suas finanças e os retalhos pontuais de reformas implementados ao longo desse tempo não passaram de paliativos infrutíferos que somente empurraram o problema para os dias atuais, com o agravante de robusteza cavalar, em termos de déficit público.
Ao ponto de tamanha encruzilhada, não existe sinalização nem possibilidade para outra alternativa, i.e., ou se faz reforma da seguridade e de todo seu complexo conjunto, ou então o caos será definitivamente instalado, de forma irreversível, com prejuízos para os trabalhadores brasileiros, que, ao contrário, precisam pagar ônus pesado pela incompetência dos governos passados, que não tiveram a clarividência de perceber a ingente necessidade da reforma que se propõe pelo atual governo, que teria se evitado o sufoco com as contas previdenciárias sempre a descoberto.
O certo é que o grave problema dos desequilíbrios progressivos da Previdência tem origem de longa data, sendo que as mudanças, em forma de perfumarias localizadas, jamais tiveram a devida profundidade que o sistema exigia, porque os retoques aqui e ali somente mexiam em casos específicos, deixando que os pontos nevrálgicos do sistema ficassem intocáveis, entre os quais as aposentadorias precoces e especiais e o extraordinário desnível entre os benefícios pagos aos assalariados do setor privado e do funcionalismo público, especialmente em alguns casos de privilegiados.
Urge sim que a Previdência seja aperfeiçoada e modernizada, mediante a reformulação abrangente, que possa responder, independentemente de ideologia partidária, aos anseios da eficiência e da efetividade do sistema, no seu conjunto, tendo por base o regime que seja justo, não permitindo a existência de privilégios de nenhuma categoria, principalmente no setor público, onde algumas categorias, principalmente aquela que tem a competência constitucional de aprovar a reforma, de modo que ninguém seja beneficiado e muito menos prejudicado, salvo nos ajustes que forem indispensáveis para que o sistema passe a funcionar com as melhores perspectivas de equilíbrio das contas ou até melhor resultado superavitário, como forma satisfatória de se garantir o pagamento das aposentadorias, sem prejudicar as contas públicas, que são pagas normalmente pela sociedade.
Já há quem critique a longevidade para a obtenção da aposentadoria, com previsão de 65 anos para o homem e 62 para a mulher, o que não deixa de ser terrível incômodo, diante do inexorável envelhecimento, por restar muito pouco tempo para o desfrute da vida, no ócio da inatividade, mas se trata de composição que não seria possível a montar o quebra-cabeça capaz de se encontrar o ponto ideal para se assegurar a superatividade das contas inerentes ao sistema previdenciário, posto que sem isso seriam preciso outras alternativas certamente igualmente não satisfatórias, em termos do pagamento da aposentadoria, ou seja, as contas não fechariam no azul.
Há de se lamentar que a proposta da revolucionária Previdência foi entregue pelo governo ao Congresso Nacional ao meio de mais uma crise política, que foi originada no seio da família do próprio presidente do país, que culminou com a exoneração do ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, que vinha se entrosando com congressistas e certamente poderia contribuir para facilitar a sua tramitação e aprovação pelo Poder Legislativo.
Não obstante, é preciso que o governo tenha preparo e competência administrativa para dizer claramente aos brasileiros, com ênfase para a classe política, que a “Reforma da Previdência” não se trata, em absoluto, de projeto pessoal, nem partidário e muito menos da base de governo, mas sim da nação, do Brasil, de modo que é necessário que a sua equipe econômica tenha igualmente capacidade para mostrar aos brasileiros, de forma didática, o exato estrago do desequilíbrio que a atual situação vem causando às contas públicas e quais as consequências com a obtenção de recursos para tapar os rombos decorrentes, se tudo continuar como antes, no quartel de Abrantes.
O governo precisa dizer, de maneira muito cristalina, que a imperiosa necessidade da reforma oferecida ao Congresso, tal como consta do projeto, não diz respeito e mero exercício de alquimia previdenciária, com o propósito de satisfazer o ego de quem quer seja, mas sim por extrema conveniência do equilíbrio das contas públicas, que qualquer governo, não importando a sua ideologia política, seria igualmente obrigado a implementá-la, não pelo simples momento de início de governo, mas sim pela imperiosidade da medida.
O presidente da República precisa deixar explícito, com a maior clarividência possível, que, quem for contra a reforma em pauta estará sendo contrário aos interesses nacionais e passível à responsabilização por seus atos pela sociedade, se não tiver condições de apresentar solução viável e razoável para o problema de tamanha gravidade, ante a agudeza do seu comprometimento não somente das contas públicas, mas, em especial e mais importante, do próprio desenvolvimento do Brasil.  
Ao tempo em que são feitas as lapidares e clássicas críticas a qualquer reforma previdenciária, por certo, feitas por aqueles que pretendem manter os vergonhosos privilégios e as anomalias do sistema de seguridade, o governo já se antecipou aos movimentos com exigências sobre as medidas de cobranças das dívidas bilionárias ao INSS, tendo preparado resposta à altura, com a promessa de apresentação de projeto de lei para facilitar a cobrança do passivo previdenciário e coibir os conhecidos "devedores contumazes”, que normalmente são responsáveis por grandes déficits previdenciários.
Em termos comparativos, a reforma idealizada pelo governo anterior, constante do seu projeto original, sinalizava para a meta de economia de R$ 800 bilhões, em dez anos, enquanto a reforma em apreço mira a economia de R$ 1,072 trilhão, cifra um pouco mais ambiciosa, que é essencial para inverter a tendência de crescimento do peso da dívida pública no Produto Interno Bruto, que representou 50% no primeiro governo da presidente da República afastada, que, em razão das sucessivas falhas de gestão, se aproxima dos 80%, ou seja, contribuindo, de forma significativa, para a elevação das dívidas e dos juros públicos.  
Para que a reforma se complete, o governo prometeu que a equiparação das regras entre os diversos regimes, com a reforma do sistema dos militares, será promovida por meio de projeto de lei, que será incluído o princípio de que quem tem maior remuneração vai contribuir mais para o sistema, como forma de coerência com o que foi chamado de princípio de justiça social, embora fica a nítida impressão de que alguém precisa ser sacrificado, em se tratando de reforma.  
É importante que, no calor dos debates e das opiniões, não se perca o foco da real significância do conjunto da reforma em comento e que o governo tenha condições suficientes para realmente justificar as suas proposições, porque elas, em síntese, vão precisar do aperto do cinto da sociedade, dos trabalhadores, para que o seu resultado concorra para eliminar os graves gargalos e sinalizar para a melhoria das contas previdenciárias, de modo que é exatamente esta a especial oportunidade para que se vislumbre novo horizonte para o progresso do Brasil.
O aspecto extremamente positivo da reforma da Previdência é, indiscutivelmente, a percepção, quase generalizada, especialmente diante dos fatos que mostram muito claramente os progressivos rombos nas contas previdenciárias, de que os políticos e a sociedade convergem em entendimentos para a real compreensão sobre a gravidade do problema quanto aos recursos da Previdência, de modo que depende urgentemente dos seus equacionamento e saneamento para que a economia, arejada com a eficiência administrativa, possa voltar aos trilhos  do crescimento, por meio da geração de empregos e do aumento da produtividade, que tanto tem sido ansiado pelos brasileiros, no presente momento.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 21 de fevereiro de 2019

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