Um colunista do jornal espanhol El Pais perguntou por “Por que não dar o Nobel da Paz este ano aos
bombeiros de Brumadinho que conquistaram simpatia e admiração dentro e fora do
país com seu exemplo de abnegação?”.
No texto, o jornalista lembra que
o Brasil, “coração econômico do
continente”, nunca ganhou a premiação da Academia Sueca.
O colunista justifica a sua
proposta, dizendo que “Foram esses
bombeiros anônimos, mal pagos, que não hesitaram em arriscar a própria vida
para salvar a dos outros, que nos ofereceram um pouco de oxigênio quando
começávamos a desconfiar de tudo e de todos. Tínhamos experimentado, de fato,
primeiro em Mariana e agora em Brumadinho, que o lucro selvagem das empresas em
conivência com os políticos acaba engendrando esses novos campos de extermínio
ambiental e humano”.
Também consta do texto que o
jornalista defende que o trabalho dos bombeiros tem extraordinária importância,
pelo fato da localização de mais de centena de mortos, em consequência da
inevitável onda de rejeitos de mineração, tendo afirmado, verbis: “Milhões de brasileiros, de fato, se
identificaram, sem diferenças políticas, em um movimento de solidariedade com
os bombeiros salva-vidas que conseguiram criar um clima de alento em um
contexto de polarização asfixiante. Os bombeiros conseguiram o milagre de
unificar por um instante um país quase em guerra”.
O colunista ressaltou que “Se conceder ao Brasil o Nobel da Paz, não
poderia ser neste momento a um político, mesmo que seja o popular Lula. A
política não é, certamente, o que hoje entusiasma os brasileiros céticos de um
lado e do outro. A política, com todas as suas corrupções e ambiguidades, não
está sendo no Brasil um catalisador de esperanças”.
Em conclusão, o jornalista disse
que “O que o país precisa é acreditar que
ainda é possível encontrar pessoas comuns e anônimas capazes de oferecer um
exemplo de abnegação e de luta para salvar vidas e não para humilhá-las e
sacrificá-las”.
No mérito, convém aduzir, por
dever de justiça, que o colunista comente dois gravíssimos equívocos, quando
faz menção somente aos bombeiros, quando, além dos bombeiros, tinham e
possivelmente ainda têm outras pessoas envolvidas na busca de sobreviventes e
corpos, como militares e civis, todos embrenhados na lama contaminada, em sacrifício
da própria vida, que são igualmente merecedores do reconhecimento.
A outra menção, considerada
inadmissível, por não ser verdadeira, diz respeito à afirmação do colunista de
que “Os bombeiros conseguiram o milagre
de unificar por um instante um país quase em guerra.”.
À toda evidência, essa estado de
guerra nunca existência, salvo se ele considera manifestação de repúdio e
tristeza por tão infausto acontecimento como sendo estado de guerra, quando o
máximo que houve foi intensa onda de protestos e insatisfação pela
incompetência tanto do Estado, que foi omissão na fiscalização, como dos
empresários, que deixaram de adotar as necessárias medidas visando se evitar a
desgraça.
Quanto ao mérito da proposição,
não poderia haver sugestão mais justa e pertinente do que essa do colunista
espanhol, que soube captar, com muita propriedade, o extremo da dedicação
espontânea de bombeiros, militares e civis que estão no campo de batalha, se
sacrificando em cooperação essencialmente humanitária, em cumprimento de missão
extremamente difícil, diante das circunstâncias da destruição.
Não obstante, convém que se
atente, sobretudo, para a real finalidade da concessão do nobilitante e
majestoso prêmio, que por ele sugerido, porquanto, segundo a vontade e o
pensamento do seu criador, o notável cientista Alfred Nobel, inventor da
dinamite, o prêmio deverá distinguir, ipsis litteris: "a pessoa que tivesse feito a maior ou melhor
ação pela fraternidade entre as nações, pela abolição e redução dos esforços de
guerra e pela manutenção e promoção de tratados de paz".
O prêmio o Nobel da Paz pode ser
concedido a pessoas ou organizações que estejam envolvidas em processo de
resolução de conflitos de guerra e problemas sociais, sem correlação com a
distinção com causas estritamente humanitárias, como é o caso específico da
tragédia Brumadinho, que, salvo melhor juízo, não satisfaz à essencialidade da
destinação do prêmio em comento, diante das características próprias e bem
definidas da sua finalidade.
Ou seja, a sua descrição fundamental,
como finalidade precípua, tem como objeto alvo: “Pessoas que contribuíram com a manutenção na Paz no mundo.”, no
sentimento do seu criador.
É evidente que a concessão do
Nobel da Paz não se aplica propriamente ao caso da tragédia de Brumadinho,
porque não teve nada com conflito de guerra ou ameaça à paz mundial, no exato
sentido preconizado por seu instituidor.
O mais apropriado, como premiação
específica, seria a concessão de espécie em sentido e fazendo às vezes de
nobel, que poderia ser denominado Herói Humanitário, tendo por finalidade o
reconhecimento pelo trabalho desenvolvido por voluntários e especialistas, com
o exclusivo propósito de resgatar vítimas de tragédias, como as de Brumadinho.
Convém que seja instituída, em
princípio, pela Organização das Nações Unidas – ONU, premiação específica para
a concessão de quantos tenham se dedicado ao trabalho voluntário, à dedicação e
ao esforço em prol de causa humanitária, como forma de reconhecimento às
pessoas, no caso de Brumadinho, de bombeiros militares, policiais e civis, por
sua bravura em benefício do seu semelhante, em cristalina demonstração de puro
amor.
É óbvio que a concessão do prêmio
Herói Humanitário poderia ser também anual, mas os beneficiários seriam
certamente todos aqueles que tivessem histórico de colaboração e ajuda em
mutirões destinados ao resgate de vítimas de tragédias, como as de Brumadinho,
que são realmente merecedores tanto do reconhecimento, não somente com as
devidas láureas, mas também em forma especial de promoção, por bravura, no caso
de militares, como incentivo ao desempenho de suas nobres e importantes missões
institucionais.
Diante das circunstâncias, não há
a menor dúvida de que a concessão do Nobel da Paz aos guerreiros que, diuturna
e intensamente, se sacrificaram e se sacrificam no lamaçal contaminado de
Brumadinho, como os bombeiros militares, policiais militares e civis, é forma
mais do merecida e justa de reconhecimento à bravura e ao altruísmo, pelo
trabalho essencialmente humanitário por eles executado, que serve de exemplo de
dedicação e amor ao próximo.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 7 de fevereiro de 2019
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