quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Exemplo de dedicação e amor


Um colunista do jornal espanhol El Pais perguntou por “Por que não dar o Nobel da Paz este ano aos bombeiros de Brumadinho que conquistaram simpatia e admiração dentro e fora do país com seu exemplo de abnegação?”.
No texto, o jornalista lembra que o Brasil, “coração econômico do continente”, nunca ganhou a premiação da Academia Sueca.
O colunista justifica a sua proposta, dizendo que “Foram esses bombeiros anônimos, mal pagos, que não hesitaram em arriscar a própria vida para salvar a dos outros, que nos ofereceram um pouco de oxigênio quando começávamos a desconfiar de tudo e de todos. Tínhamos experimentado, de fato, primeiro em Mariana e agora em Brumadinho, que o lucro selvagem das empresas em conivência com os políticos acaba engendrando esses novos campos de extermínio ambiental e humano”.
Também consta do texto que o jornalista defende que o trabalho dos bombeiros tem extraordinária importância, pelo fato da localização de mais de centena de mortos, em consequência da inevitável onda de rejeitos de mineração, tendo afirmado, verbis:Milhões de brasileiros, de fato, se identificaram, sem diferenças políticas, em um movimento de solidariedade com os bombeiros salva-vidas que conseguiram criar um clima de alento em um contexto de polarização asfixiante. Os bombeiros conseguiram o milagre de unificar por um instante um país quase em guerra”.
O colunista ressaltou que “Se conceder ao Brasil o Nobel da Paz, não poderia ser neste momento a um político, mesmo que seja o popular Lula. A política não é, certamente, o que hoje entusiasma os brasileiros céticos de um lado e do outro. A política, com todas as suas corrupções e ambiguidades, não está sendo no Brasil um catalisador de esperanças”.
Em conclusão, o jornalista disse que “O que o país precisa é acreditar que ainda é possível encontrar pessoas comuns e anônimas capazes de oferecer um exemplo de abnegação e de luta para salvar vidas e não para humilhá-las e sacrificá-las”.
No mérito, convém aduzir, por dever de justiça, que o colunista comente dois gravíssimos equívocos, quando faz menção somente aos bombeiros, quando, além dos bombeiros, tinham e possivelmente ainda têm outras pessoas envolvidas na busca de sobreviventes e corpos, como militares e civis, todos embrenhados na lama contaminada, em sacrifício da própria vida, que são igualmente merecedores do reconhecimento.
A outra menção, considerada inadmissível, por não ser verdadeira, diz respeito à afirmação do colunista de que “Os bombeiros conseguiram o milagre de unificar por um instante um país quase em guerra.”.
À toda evidência, essa estado de guerra nunca existência, salvo se ele considera manifestação de repúdio e tristeza por tão infausto acontecimento como sendo estado de guerra, quando o máximo que houve foi intensa onda de protestos e insatisfação pela incompetência tanto do Estado, que foi omissão na fiscalização, como dos empresários, que deixaram de adotar as necessárias medidas visando se evitar a desgraça.
Quanto ao mérito da proposição, não poderia haver sugestão mais justa e pertinente do que essa do colunista espanhol, que soube captar, com muita propriedade, o extremo da dedicação espontânea de bombeiros, militares e civis que estão no campo de batalha, se sacrificando em cooperação essencialmente humanitária, em cumprimento de missão extremamente difícil, diante das circunstâncias da destruição.
Não obstante, convém que se atente, sobretudo, para a real finalidade da concessão do nobilitante e majestoso prêmio, que por ele sugerido, porquanto, segundo a vontade e o pensamento do seu criador, o notável cientista Alfred Nobel, inventor da dinamite, o prêmio deverá distinguir, ipsis litteris: "a pessoa que tivesse feito a maior ou melhor ação pela fraternidade entre as nações, pela abolição e redução dos esforços de guerra e pela manutenção e promoção de tratados de paz".
O prêmio o Nobel da Paz pode ser concedido a pessoas ou organizações que estejam envolvidas em processo de resolução de conflitos de guerra e problemas sociais, sem correlação com a distinção com causas estritamente humanitárias, como é o caso específico da tragédia Brumadinho, que, salvo melhor juízo, não satisfaz à essencialidade da destinação do prêmio em comento, diante das características próprias e bem definidas da sua finalidade.
Ou seja, a sua descrição fundamental, como finalidade precípua, tem como objeto alvo: “Pessoas que contribuíram com a manutenção na Paz no mundo.”, no sentimento do seu criador.
É evidente que a concessão do Nobel da Paz não se aplica propriamente ao caso da tragédia de Brumadinho, porque não teve nada com conflito de guerra ou ameaça à paz mundial, no exato sentido preconizado por seu instituidor.
O mais apropriado, como premiação específica, seria a concessão de espécie em sentido e fazendo às vezes de nobel, que poderia ser denominado Herói Humanitário, tendo por finalidade o reconhecimento pelo trabalho desenvolvido por voluntários e especialistas, com o exclusivo propósito de resgatar vítimas de tragédias, como as de Brumadinho.
Convém que seja instituída, em princípio, pela Organização das Nações Unidas – ONU, premiação específica para a concessão de quantos tenham se dedicado ao trabalho voluntário, à dedicação e ao esforço em prol de causa humanitária, como forma de reconhecimento às pessoas, no caso de Brumadinho, de bombeiros militares, policiais e civis, por sua bravura em benefício do seu semelhante, em cristalina demonstração de puro amor.
É óbvio que a concessão do prêmio Herói Humanitário poderia ser também anual, mas os beneficiários seriam certamente todos aqueles que tivessem histórico de colaboração e ajuda em mutirões destinados ao resgate de vítimas de tragédias, como as de Brumadinho, que são realmente merecedores tanto do reconhecimento, não somente com as devidas láureas, mas também em forma especial de promoção, por bravura, no caso de militares, como incentivo ao desempenho de suas nobres e importantes missões institucionais.
Diante das circunstâncias, não há a menor dúvida de que a concessão do Nobel da Paz aos guerreiros que, diuturna e intensamente, se sacrificaram e se sacrificam no lamaçal contaminado de Brumadinho, como os bombeiros militares, policiais militares e civis, é forma mais do merecida e justa de reconhecimento à bravura e ao altruísmo, pelo trabalho essencialmente humanitário por eles executado, que serve de exemplo de dedicação e amor ao próximo.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 7 de fevereiro de 2019

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