domingo, 21 de agosto de 2011

Abaixo a tolerância

Nos últimos dos anos, o Ministério do Turismo gastou R$ 351,7 milhões com projetos sem qualquer vínculo com a sua destinação legal, como obras referentes a drenagem, esgotamento sanitário, praças e pontes, sendo mais grave ainda que a maior parte dos recursos foi destinada para melhorias de cidades com pouco ou nenhum fluxo de visitantes e turistas, como o caso do  beneficiamento de um município sem nenhuma vocação turística e uma empreiteira fantasma, cuja sede fica em um conjunto habitacional na periferia de São Luís, capital do Estado do Maranhão. Como deputado federal, o atual ministro do Turismo apresentou emenda ao Orçamento da União para destinar R$ 1 milhão desse ministério à construção de uma ponte na cidade de Barra do Corda, sob o argumento de que, na sua avaliação, o turismo pode ajudar a cidade a garantir mais qualidade de vida à população local. Diante desse fato e das muitas lambanças ocorridas nesse órgão, o seu titular não tem a mínima condição de continuar no cargo, notadamente porque a sua permanência só contribui para desgastar ainda mais a já poluída imagem do governo, que vem sendo bombardeada e tragada pela série de denúncias de irregularidades graves surgidas em vários órgãos da administração. É surpreendente a forma como os fatos irregulares são avaliados por esse governo, em que, nalguns casos, há avalanche de exoneração, inclusive provocando irritação e insatisfação de aliados, e, noutros, há plena leniência e tolerância absolutamente incompreensíveis, em se tratando igualmente de atos de improbidade administrativa e de malversação de recursos públicos, independentemente de apurações, porque as falcatruas são evidentes e demonstram em todos os casos lesão ao patrimônio público. A verdade é que a disposição de assepsiar a administração estancou exatamente às portas do maior partido aliado, ficando ao seu talante a exoneração de seus colegas. É lamentável que a sociedade tenha acreditado na inicial prática da salutar tolerância zero para cuidar das denúncias de corrupção praticada nos órgãos governamentais. Contudo, as repercussões negativas e as indispensáveis apurações dos fatos e a responsabilização dos culpados forçaram reações violentas dos partidos aliados da base de sustentação, que não gostaram nem pouco do desgaste dos seus membros, obrigando o lastimável recuo governista. Urge que haja firmeza na imprescindível assepsia da administração pública, com verdadeira vontade política e combate vigoroso e imparcial à corrupção e à impunidade, em benefício do interesse público. Acorda, Brasil!

ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 20 de agosto de 2011

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