terça-feira, 2 de agosto de 2011

Safra à deriva

O irmão do líder do governo no Senado Federal acaba de ser exonerado do cargo de diretor financeiro da Companhia Nacional de Abastecimento - Conab, após determinar o pagamento de R$ 8 milhões ao armazém Caramuru, de forma irregular, em nome de “laranjas”, ao tempo em que denuncia, em entrevista à revista "Veja", um esquema de corrupção no Ministério da Agricultura, comandado por afilhado político do vice-presidente da República, a quem acusa de retardar esse pagamento determinado pela Justiça, como tentativa para negociar um aumento artificial de R$ 5 milhões no valor original, que seria embolsado por autoridades desse órgão. Ele ainda afirmou que a Conab, sob a influência política do ministério, também teria vendido, para um amigo do senador do PTB/DF, um terreno em área valorizada de Brasília, pelo quarto do valor de mercado. Em reunião reservada com a presidente da República, o líder governista disse que "desaprova a conduta" do seu irmão, ao afirmar que "Foi um absurdo o que ele fez, eu desaprovei a sua conduta. Pedi desculpas à presidente e já tinha também conversado com o ministro Wagner Rossi [Agricultura]. Ele viajou, eu não sabia que ele daria entrevista. Tenho que discordar da sua postura". No seu entendimento, as denúncias não prejudicam o PMDB, nem vão levar a presidente da República a promover uma "limpeza" nesse ministério. Como tem sido praxe a existência de negócios escusos e escabrosos nas administrações recentes, em que os envolvidos, ironicamente, sempre levam vantagens e se beneficiam das facilidades que desfrutam da influência dentro do governo, o nobre senador apenas achou absurdo que seu irmão tivesse denunciado, dando a entender que os fatos não tinham qualquer relevância, sem nenhum reflexo na ética, na moralidade e nos costumes do serviço público. Imagine alguém se beneficiar de somente R$ 5 milhões e alienar um bem público com desvalorização de três quartos do seu preço? Será mesmo que isso é algo tão irrelevante, a ponto de merecer um simples pedido de desculpas, para resolver, sem maiores consequências, sem solução de continuidade, uma questão tão grave? Na verdade, o que se pode inferir é que os fatos trazidos à lume podem representar apenas a ponta do iceberg das muitas falcatruas praticadas nos camarins do citado ministério. Caso o Brasil fosse um país com um pouco de seriedade, essas denúncias de irregularidades deveriam servir para uma verdadeira devassa no Ministério da Agricultura, onde, segundo as denúncias, foi instalado um esquema organizado de corrupção liderado pelo todo poderoso PMDB. A sociedade espera que, para a credibilidade da administração pública e a preservação do interesse público, os fatos acima denunciados sejam objeto de profundas apurações, com extensão aos demais procedimentos de gestão dos servidores envolvidos, com vistas à sua elucidação e à atribuição, se for o caso, das responsabilidades pelas irregularidades.
  
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 1º de agosto de 2011

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