segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Patrocínio suspeito

A telefônica Oi, que tempo atrás prestou socorro financeiro à empresa do filho do ex-presidente da República, suscitando suspeita de irregularidade, vai, agora, financiar parcialmente uma peça teatral cujo elenco contará com uma neta desse político. A peça "Megera Domada", de Shakespeare, foi orçada em R$ 639,4 mil e receberá ajuda de R$ 300 mil, quase metade do seu custo. A produção buscava patrocínio há um ano e três meses, porém a ajuda foi conseguida rapidinha após a promoção na mídia da participação da jovem atriz de apenas 16 anos. O produtor da peça disse que o convite da atriz para participar do elenco tinha o objetivo de atrair a atenção do público, porém sem qualquer intenção de obter ajude no patrocínio. Por sua vez, o Ministério da Cultura informou que a prorrogação do prazo para a captação de recursos obedeceu aos trâmites legais. É simplesmente curioso que, até agora, a Oi seja a única empresa de telecomunicações a patrocinar projeto via Lei Rouanet. Questionada, a referida empresa disse que "é uma das maiores patrocinadoras de projetos culturais do país”, que "não opina no processo de seleção do elenco" e que não se beneficiou por decisões do governo. Embora os envolvidos na transação neguem, fica muito claro para qualquer espectador de pouca cultura que esse patrocínio exala cheiro fétido, por evidenciar nitidamente a participação, sem escrúpulo, de empresa reincidente em caso suspeito beneficiando família do ex-presidente. No patrocínio em apreço, não comporta a mínima possibilidade de ser afastada a isenção de favorecimento com recursos públicos (Lei Rouanet), em virtude da absurda espera de quinze meses para a obtenção da ajuda financeira, que somente foi viabilizada, imediatamente, com a inclusão da neta do ex-presidente no elenco. Não tem como disfarçar a farsa desse novo escândalo protagonizado contra a frágil democracia brasileira, envolvendo avanço no dinheiro do contribuinte, cujo patrocínio tem toda pinta de fraude, enrustida em ardil muito bem preparado. Esse é mais um fato que demonstra, de forma escancarada, a inconsistência dos controles dos recursos públicos, cabendo à sociedade acompanhar e fiscalizar o comportamento dos políticos brasileiros e dos empresários, quanto à grandeza do espírito público e de seus procedimentos que eles são obrigados a seguir, nas suas áreas de atuação, como regra de conduta e de dignidade.

ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 1º de agosto de 2011

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