quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Arrogância

Em entrevista concedida nesta data, o presidente do Senado Federal alegou que "Não prejudicou ninguém" e negou que tivesse cometido irregularidades pelo fato de ter usado, por duas vezes, para atividade particular, um helicóptero da Polícia Militar do Estado do Maranhão, que foi adquirida, com recursos dos governos estadual e federal, para combater o crime e socorrer as emergências médicas. Essa autoridade não quis se referir acerca do fato de que, no momento em que utilizava a aeronave, numa das viagens, um paciente precisava de atendimento com urgência, por ter sido lesionado com traumatismo craniano e clavícula quebrada. As suas declarações demonstram visível prepotência, quando afirma: "Eu estou como chefe do Poder Legislativo, eu tenho direito a transporte e segurança em todo o país; de representação, não somente a serviço" e conclui: "O presidente não é chefe de um poder? Aonde ele vai, ele não tem direito a transporte, segurança pública? Eu também sou chefe". Um ardoroso defensor do senador, deputado estadual do Maranhão, para não qualificá-lo com apropriado adjetivo, se arvora ao indagar: "Queria que o presidente [do Senado] fosse andar em jumento?... Esse helicóptero, é claro, tem que servir os doentes, mas tem que servir as autoridades, esta é a realidade (sic).". É claro que isso não seria confortável, mas um tremendo desrespeito à autoridade, quando se poderia disponibilizá-lo melhor acomodação, como, por exemplo, cavalo. Com isso, o helicóptero não seria utilizado de forma abusiva e a sociedade teria um pouco mais de amparo, tratando de estado mais carente do país. As declarações acima mostram que o entendimento dos políticos, quanto aos fatos irregulares por eles cometidos, é sempre no sentido de que os seus atos são revestidos de lisura e de isenção de máculas. Seria absolutamente estranho se políticos viessem a público, usando o bom senso, para reconhecer sua falha, aceitando a sua falibilidade e se posicionando como seres passíveis de culpa ou suspeita. Esquecem essas autoridades que o uso de bens públicos, por força de lei, somente deve ser nos fins para os quais tenham sido destinados. Diferentemente disso, que é o caso denunciado quanto à indevida utilização de aeronave, não há a mínima dúvida de que houve desvio de finalidade a que ela se destina, qual seja combate ao crime e socorro às emergências médicas, não constando na sua destinação o transporte de autoridade. A sociedade anseia por que os políticos abdiquem da sua arrogante autoridade, desçam do seu pedestal de todo poderoso e voltem a ser povo igualmente aos demais cidadãos, porquanto a única diferença que os separa destes é apenas uma outorga concedida pelo sufrágio universal, para representá-los. Afora isso, os políticos são iguais em direito e obrigações a qualquer cidadão, fazendo jus tão somente às prerrogativas dos cargos que ocupam, ficando obrigados à observância dos princípios da administração pública, em especial quanto à legalidade, ética e moralidade.

ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 23 de agosto de 2011

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