sábado, 13 de agosto de 2011

Falta de calmante

As surpreendentes enxurradas de escândalos de corrupção no governo têm contribuído para aflorar o descontrole emocional da presidente da República, chegando a aparentar grande irritação com a prisão, pela Polícia Federal, dos servidores envolvidos na Operação Voucher, que apura irregularidades no Ministério do Turismo, a ponto de classificar de acintoso o uso de algemas nas pessoas detidas. A fúria foi demonstrada diante das eficientes operações, a toda hora, do aludido órgão, que vem criando problemas políticos junto aos aliados. Diante do tamanho da contaminação do fisiologismo institucionalizado pelo governo anterior, fica difícil controlar a calma quando a gravidade das denúncias de corrupção e de repressão dos arrastões nos ministérios loteados entre os partidos da base política ameaça seriamente a aliança de sustentação de seu governo. Não há qualquer dúvida de que a harmonia que possibilitou essa união, no último governo, foi exatamente o espírito de aceitação construído durante os oito anos, em que ninguém tinha coragem de denunciar os malfeitos uns dos outros, diferentemente do que está ocorrendo agora. No caso, compete à presidente da República a sublime missão, em consonância com a liturgia do cargo que exerce, de apoiar, com total isenção, as ações da Polícia Federal contra essa corja de saqueadores dos cofres públicos, ao invés de manifestar contrariedade com os denunciados. São funções básicas desse órgão a realização das investigações cabíveis e a repressão dos delitos, com vistas ao julgamento de competência do Judiciário. Ocorre que a reação presidencial pode corresponder exatamente em igual intensidade à irresistível pressão que seus aliados vêm fazendo, por não admitirem, com razão, as apurações e repressões adotadas à altura da sucessão de escândalos como nunca vistos em tão curto tempo de gestão presidencial. O certo é que a base se uniu para dizer, em alto e bom som, que não suporta tanta medida moralizadora e que isso poderia prejudicar os entendimentos vergonhosos da aliança de sustentação do governo. Como as medidas corretivas podem realmente azedar os interesses dos partidos aliados, que consideram consolidado o seu jeitinho de “cooperar” com o Brasil, resta ao governo ter o “bom senso” e fechar os olhar às denúncias, acabar as operações policiais e mostrar para a mídia e a sociedade que doravante passa a funcionar como no governo anterior, em que as irregularidades com dinheiros públicos eram entendidas como coisas inventadas pela oposição. Com isso, a presidente da República jogaria às favas as causas de interesse público e satisfaria a sua base de sustentação, com o que jamais voltará a se irritar por “bobagens”. Acorda, Brasil!

ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 12 de agosto de 2011

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