A Comissão de Ética
da Câmara Legislativa do Distrito Federal decidiu abrir processo disciplinar
contra um deputado que teria destinado verba, mediante emenda parlamentar, para
seu reduto eleitoral, ou, ao que se pode presumir, seu beneficio, fato que
constitui quebra do decoro. Dos cinco membros dessa comissão, quatro votaram
pela abertura do processo. O político investigado teve seu mandato cassado pelo
Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal, em julho de 2011, em virtude
de gastos ilícitos de campanha e arrecadação irregular de recursos. No entanto,
logo no início de 2012, o Tribunal Superior Eleitoral reverteu a decisão em
apreço, preservando o mandato do distrital. Como não poderia ser diferente, o
deputado alega inocência e nega com veemência a inexistência de qualquer
irregularidade quanto aos fatos cuja autoria lhe é atribuída. Na ocasião, o presidente
da Comissão de Ética disse que teve acesso aos autos no Judiciário, compostos
por mais de duas mil laudas, que tratam do julgamento do distrital a ser
investigado por conduta ofensiva à atividade pública, tendo concluído que houve
quebra do decoro pelo parlamentar. No seu entendimento, “Deputado tem que ser um exemplo para a sociedade” e “A sociedade quer uma resposta. É a imagem da
Câmara que está em jogo.”. Nesse episódio, nem mesmo o mais otimista
candango poderia sequer imaginar que a tão desacreditada “Casa do povo”, como é
assim ali chamada, teria a dignidade de colocar um de seus poderosos membros no
banco dos réus, para ser investigado sobre ato inquinado que outros distritais praticam
com o mesmo ardil, se beneficiando normalmente de recursos públicos. No ensejo,
seria de bom alvitre que a Presidência da Câmara Legislativa tivesse a
relevante iniciativa de levantar não somente os casos similares aos que agora é
objeto de apuração, mas as situações consideradas antiéticas e indecorosas,
para que aquele órgão legislativo possa realmente ter o direito de ser
denominado Casa do Povo, porque, nas condições como vem funcionando, o povo do
Distrito Federal não se sente à vontade para considerá-la de sua casa, haja
vista que o brasiliense decente não concorda com o inchamento do seu Quadro de
Pessoal, com a exagerada existência de cargos em comissão e efetivos totalmente
destorcido da realidade e incompatível com as necessidades funcionais,
porquanto menos pessoal qualificado e preparado seria suficiente para desempenhar
as funções essenciais de bem servir ao público, com devida eficiência. A
sociedade também não concorda que, na sua casa, os distritais sejam remunerados
com vencimentos, auxílios múltiplos, ajudas diversificadas, verbas de
representação e outras tantas vantagens injustificáveis, principalmente se
comparados à pouca produtividade em benefício da população distrital. A
sociedade brasiliense aplaude a atitude positiva da investigação sobre atos irregulares, tendo em vista que, no passado recente, isso não seria possível devido ao indecente corporativismo
que sempre rejeitava medidas similares, porque prevalecia o entendimento segundo o qual desonestidade na atividade política era sinônimo de normalidade. Urge
que, em nome da dignidade e do decoro parlamentares, os atos considerados
irregulares sejam investigados sem condescendência, para que os envolvidos possam
ser exemplarmente penalizados, inclusive, se for o caso, com a perda do mandato
eletivo, de modo que a punição sirva de motivo inibidor da prática deletéria da
atividade pública e de atos espúrios e inescrupulosos. Acorda, Brasil!
ANTONIO
ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 18 de abril de 2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário