Dando continuidade à interminável tarefa destinada
à acomodação dos partidos da coalizão no governo, o Palácio do Planalto
substitui o titular do Ministério dos Transportes por um político filiado ao PR.
O anúncio ocorreu logo após encontro da presidente da República com o
presidente do PR, que foi ministro daquele órgão no início do governo, mas teve
que se despedir do cargo após enxurrada de denúncias de corrupção contra ele,
consistentes em suspeitas de direcionamento em licitações e superfaturamento em
obras rodoviárias. Trata-se de mais um arranjo político, em que a presidente
entrega um ministério ao PR, fazendo às pazes com seus caciques, que ficaram
magoados com o afastamento do corrupto-mor da Esplanada. Com a definição do loteamento
do aludido ministério, a presidente espera, agora, a reintegração do partido à
base de sustentação do governo e ainda a garantia do tempo de televisão dele na
sua campanha eleitoral de 2014. Esse gesto de “nobreza” do governo pretende evitar
que a legenda migre para candidaturas de adversários políticos. A negociata de
cargos do primeiro escalão do governo com os partidos aliados vem mostrando a
firme disposição da presidente de reabilitar os políticos corruptos do seu
governo, que foram obrigados a pedir exoneração dos cargos, em virtude de
graves denúncias de atos irregulares, envolvendo justamente as pessoas com quem
ela negocia e se reaproxima, como no caso dos presidentes do PTB e agora do PR,
que voltam aos braços do governo prestigiados com o poder da força mágica do
vergonhoso apoio político, representado também por algumas horas da televisão
na campanha eleitoral, caracterizando o indecente, espúrio e abominável mercado
política do toma lá, dá cá, de forma explícita e escancarada. Há que se notar
que as mudanças não envolvem qualquer critério técnico-profissional e muito
menos exigência da execução de políticas públicas específicas senão a simplista
mediação de órgãos públicos importantes e estratégicos de governo em troca do
vexaminoso apoio dos partidos, que, em muitos casos, se conciliam internamente
com o atendimento das suas exigências. Se antes o
Ministério dos Transportes, que tinha como titular um técnico conhecedor da
pasta, estava emperrado na incompetência, por falta de ação capaz de fazer
funcionar o sistema de transportes do país, representado pela decadência, pelo
sucateamento da malha rodovia, existente ou má conservada, e pelo atraso nos
seus complexos. Agora, a situação tende a se agravar ainda mais, com a sua direção
por político de carreira, sem a indispensável experiência sobre o intrincado
setor de extrema importância para o desenvolvimento do país. A presidente continua
célere na estratégica jogada de boa discípula, no sentido de assegurar amplo apoio
à sua reeleição, mediante desprezível e indigna troca da chave de importante
órgão público. É muito provável que a indignidade do loteamento de ministérios e
empresas estatais somente ocorra nas republiquetas das bananas, onde não há
necessidade de serem cultuados os consagrados princípios democráticos da ideologia
política, decência, honestidade e probidade administrativa. Nos países
evoluídos, ao contrário, a prática despudorada do envolvimento de órgãos
públicos como mercadoria, servindo de balcão de troca, jamais acontece, não
somente por ser procedimento aviltante e antiético, por ferir os elementares
princípios da democracia, pilares da dignidade e do respeito ao instituto da
pureza da administração pública, onde deve repousar e sintetizar os princípios da
moralidade e legitimidade da nação, símbolo máximo de um povo. A sociedade tem a obrigação de repudiar as práticas vis e deletérias da
dignidade política e dos princípios construtores da democracia sadia e
modeladora da decência e da moralidade, no caso dos conchavos espúrios, e
exigir dos homens públicos desprendimento e desapego à satisfação de interesses
pessoais no exercício de funções públicas, como forma de contribuir para o
fortalecimento da moralização do sistema político e da dignidade do ser humano,
em benefício das causas nacionais. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 1º de abril de 2013
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