terça-feira, 2 de abril de 2013

Ausência de dignidade política

Dando continuidade à interminável tarefa destinada à acomodação dos partidos da coalizão no governo, o Palácio do Planalto substitui o titular do Ministério dos Transportes por um político filiado ao PR. O anúncio ocorreu logo após encontro da presidente da República com o presidente do PR, que foi ministro daquele órgão no início do governo, mas teve que se despedir do cargo após enxurrada de denúncias de corrupção contra ele, consistentes em suspeitas de direcionamento em licitações e superfaturamento em obras rodoviárias. Trata-se de mais um arranjo político, em que a presidente entrega um ministério ao PR, fazendo às pazes com seus caciques, que ficaram magoados com o afastamento do corrupto-mor da Esplanada. Com a definição do loteamento do aludido ministério, a presidente espera, agora, a reintegração do partido à base de sustentação do governo e ainda a garantia do tempo de televisão dele na sua campanha eleitoral de 2014. Esse gesto de “nobreza” do governo pretende evitar que a legenda migre para candidaturas de adversários políticos. A negociata de cargos do primeiro escalão do governo com os partidos aliados vem mostrando a firme disposição da presidente de reabilitar os políticos corruptos do seu governo, que foram obrigados a pedir exoneração dos cargos, em virtude de graves denúncias de atos irregulares, envolvendo justamente as pessoas com quem ela negocia e se reaproxima, como no caso dos presidentes do PTB e agora do PR, que voltam aos braços do governo prestigiados com o poder da força mágica do vergonhoso apoio político, representado também por algumas horas da televisão na campanha eleitoral, caracterizando o indecente, espúrio e abominável mercado política do toma lá, dá cá, de forma explícita e escancarada. Há que se notar que as mudanças não envolvem qualquer critério técnico-profissional e muito menos exigência da execução de políticas públicas específicas senão a simplista mediação de órgãos públicos importantes e estratégicos de governo em troca do vexaminoso apoio dos partidos, que, em muitos casos, se conciliam internamente com o atendimento das suas exigências. Se antes o Ministério dos Transportes, que tinha como titular um técnico conhecedor da pasta, estava emperrado na incompetência, por falta de ação capaz de fazer funcionar o sistema de transportes do país, representado pela decadência, pelo sucateamento da malha rodovia, existente ou má conservada, e pelo atraso nos seus complexos. Agora, a situação tende a se agravar ainda mais, com a sua direção por político de carreira, sem a indispensável experiência sobre o intrincado setor de extrema importância para o desenvolvimento do país. A presidente continua célere na estratégica jogada de boa discípula, no sentido de assegurar amplo apoio à sua reeleição, mediante desprezível e indigna troca da chave de importante órgão público. É muito provável que a indignidade do loteamento de ministérios e empresas estatais somente ocorra nas republiquetas das bananas, onde não há necessidade de serem cultuados os consagrados princípios democráticos da ideologia política, decência, honestidade e probidade administrativa. Nos países evoluídos, ao contrário, a prática despudorada do envolvimento de órgãos públicos como mercadoria, servindo de balcão de troca, jamais acontece, não somente por ser procedimento aviltante e antiético, por ferir os elementares princípios da democracia, pilares da dignidade e do respeito ao instituto da pureza da administração pública, onde deve repousar e sintetizar os princípios da moralidade e legitimidade da nação, símbolo máximo de um povo. A sociedade tem a obrigação de repudiar as práticas vis e deletérias da dignidade política e dos princípios construtores da democracia sadia e modeladora da decência e da moralidade, no caso dos conchavos espúrios, e exigir dos homens públicos desprendimento e desapego à satisfação de interesses pessoais no exercício de funções públicas, como forma de contribuir para o fortalecimento da moralização do sistema político e da dignidade do ser humano, em benefício das causas nacionais. Acorda, Brasil!  
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 1º de abril de 2013

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