Em harmonia com seu peculiar
estilo de encarar as questões nacionais, a presidente da República, indignada
com as reiteradas notícias sobre constantes apagões, sentenciou, no ano
passado, que "No dia em que falarem
para vocês que caiu um raio, vocês gargalhem. Cai raio todo dia nesse país.
Raio não pode desligar o sistema, se desligou, é falha humana.". Na
verdade, ela rebatia as afirmações do diretor-geral do Operador Nacional do
Sistema Elétrico – ONS – órgão responsável pela coordenação e pelo controle da
operação das instalações de geração e transmissão de energia elétrica - e do
secretário de Energia Elétrica do Ministério de Minas e Energia, que haviam
apontado os raios como responsáveis pelas falhas. A presidente disse ainda que
teria visto o mapa da distribuição dos raios pelo país no dia em que houve o
problema e chegou à conclusão de que "Não
é sério dizer que a culpa é do raio.". Agora, o ONS, com fundamento em
relatório sobre estudos acerca dos fatos analisados, contraria as precipitadas
e infundadas afirmações presidenciais, pondo por terra a tentativa de desmentir
o órgão incumbido de avaliar as causas dos acidentes ocorridos no sistema de
distribuição de energia elétrica, ao constatar que realmente os raios podem
deixar o país às escuras. A análise técnica levada a efeito por aquele órgão revela
que, efetivamente, foi "interferência eletromagnética" que causou o
apagão que levou mais de 3,5 milhões de consumidores, em 12 Estados, a ficar
sem luz por uma hora. O órgão foi taxativo ao afirmar que "No instante da perturbação havia uma
sequência de descargas atmosféricas na região". Mais uma vez, é
desmascarada a prepotência e a incompetência como o governo enxerga a realidade,
que preferiu enfrentá-la de forma destorcida, ao se antecipar às apurações e ainda
sem fundamento técnico, para, de forma meramente política, mostrar autoridade
sobre fatos desconhecidos, na tentativa de amenizar cruel realidade, que é
exatamente a deficiência do sistema de geração, operação e distribuição de
energia elétrica, por ter como suporte equipamentos sucateados e ultrapassados,
não permitindo a prevenção das intervenções eletromagnéticas, causadoras dos
principais apagões que poderiam ser evitados se as instalações e equipamentos fossem
modernos e capacitados para suportar os objetos que dão origem aos
curtos-circuitos. É louvável o trabalho apresentado pelo ONS, mostrando, com
base em avaliações fundamentadas, o diagnóstico técnico dos graves problemas,
sem se intimidar às ingerências políticas, que somente servem para contribuir
para a ineficiência do gerenciamento do sistema de transmissão de energia. A
presidente teria prestado efetiva contribuição ao saneamento da questão se
tivesse a cautela de mandar averiguar as verdadeiras causas dos apagões e concomitantemente
determinar ao Ministério das Minas e Energia a adoção das medidas necessárias à
implantação de equipamentos modernos e eficientes, capazes de evitar novas
panes, novos vexames num setor de vital importância para as pessoas e a
economia do país. O certo é que a incompetência do governo tem servido para potencializar
as mazelas e as deficiências não somente na transmissão e distribuição de
energia elétrica, mas, de forma uniforme e abrangente, nas ações e políticas
públicas de quem gerou a ideia da perpetuação no poder, deixando o
gerenciamento do país aos cuidados e à mercê de políticos inescrupulosos e descompromissados
com os interesses públicos. A sociedade tem que se conscientizar, com urgência,
sobre a necessidade de melhor capacitação dos dirigentes do país, como
mecanismo capaz de evitar os apagões não apenas no sistema nacional de energia
elétrica, mas em todos os setores da administração pública, que se ressente da
falta de gerenciamento de qualidade e de visão de estadista preparado e
consciente sobre as graves questões nacionais. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 03 de abril de 2013
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