quinta-feira, 18 de abril de 2013

Os lençóis do poder

Conforme reportagem veiculada pelo jornal Folha de S. Paulo, o presidente da Câmara dos Deputados, em pouquíssimo tempo após a sua posse, não resistiu à pomposa promessa, apresentada no início da sua gestão, de recuperar a imagem do Legislativo e conter gastos, ao mandar instalar uma cobertura ao lado da piscina na sua residência oficial e adquirir roupas de cama de alto padrão, estas no montante de R$ 4 mil. Somente um jogo de lençol para casal custou a cifra de R$ 599,00, que corresponde ao preço de lençol 600 fios, toque acetinado e puro algodão. Como faz parte da praxe, sempre que autoridade assume cargo no alto escalão, nada mais importante do que satisfazer suas paixões mediante a realização das reformas no seu gabinete e na sua luxuosa mansão que ela faz jus. No caso, a mansão destinada ao parlamentar tem 800 metros quadrados de área útil, quatro quartos, escritório, sala de jantar, piscina etc. As reformas, as mudanças e o reequipamento das instalações sempre são promovidos logo imediatamente à sua ocupação, sendo considerados absolutamente necessários, tendo em vista que as despesas pertinentes são pagas pelos bestas dos cidadãos. Considerando a vasta experiência na vida política de Sua Excelência, com longa carreira de mais de quarenta anos de atividade congressista, sendo o mais antigo na Câmara, onde progrediu politicamente e construiu “modesto” império no setor de comunicações, esses gastos com reformas e reequipamento da residência funcional não devem passar de bobagem, justamente por serem atendidos pelos cofres públicos, que sempre têm sido costumeiro manancial para a satisfação das vontades, das mordomias e dos abusos dos políticos inescrupulosos, que ignoram os sadios princípios da economicidade que deveriam ser exigidos dos homens públicos. A atitude do parlamentar potiguar representa verdadeiro acinte à realidade do povo brasileiro, que recente de assistência médico-hospitalar, pela precariedade do atendimento à saúde púbica, sempre carente de recursos; de ensino de qualidade, ante a falta de investimentos na educação; de segurança pública, diante do descaso das autoridades quanto à deficiência reinante no conjunto policial; de infraestrutura, saneamento básico; e de tantas outras mazelas que se espraiam pelos brasis afora, exatamente por falta de recursos. Nada disso é levado em conta pelas autoridades públicas, que gastam com supérfluos e com arranjos dispensáveis, ante a insensibilidade quanto às necessidades básicas de muitos brasileiros. Além da notaria escassez de recursos para a execução de políticas públicas essenciais, que, por si só, já não justificaria a farra com dinheiro público, as atividades executadas pelos parlamentares ficam longe de corresponder aos altíssimos vencimentos, aos auxílios diversos, às verbas de representação, às ajudas abundantes e às demais mordomias, todos despendidos de forma desmedida, em razão de não produzirem o suficiente para o atendimento dos objetivos para os quais tenham sido eleitos, quais sejam, trabalhar com exclusividade para o benefício do país e da sociedade. Ainda conspira contra os deputados o foto de eles terem aprovado o seu comparecimento ao trabalho semanal somente de terça a quinta-feira, enquanto os demais servidores públicos são obrigados a trabalhar 40 horas semanais. A sociedade tem o dever cívico de repudiar o esbanjamento de recursos públicos pelos congressistas e exigir que eles primem pela austeridade na execução das despesas, que devem ser despendidas exclusivamente com as atividades essenciais do serviço público. Acorda, Brasil!

ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 17 de abril de 2013

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