No
alto da sua prepotência, o secretário-geral da Fifa volta a dar declaração bombástica
acerca da realização da Copa do Mundo de 2014, afirmando que a democracia do
Brasil pode ser um problema para a organização do torneio. Ele não se conteve e
disse: “Eu vou dizer uma coisa que é
maluca, mas menos democracia, às vezes, é melhor para organizar uma Copa.
Quando você tem um chefe de estado forte, que pode decidir, como talvez
Vladimir Putin na Rússia em 2018, é mais fácil para nós, organizadores, do que
em um país como a Alemanha, onde você tem que negociar em várias esferas. A
principal dificuldade que temos é quando entramos em um país com estrutura
política dividida, como é no Brasil, com três níveis, federal, estadual e
municipal”. Como dificuldade, foi citada a aprovação da comercialização de
bebidas alcoólicas nos estádios, no período da copa, por ter sido objeto de
acaloradas discussões entre congressistas, que decidiram pela inclusão da
matéria na Lei Geral da Copa, que ainda terá que ser aprovada individualmente
pelos 12 estados que sediarão o evento. Ele concluiu dizendo que “Há pessoas diferentes, movimentos
diferentes, interesses diferentes e é um pouco difícil organizar a Copa do
Mundo nestas condições”. Não é a primeira vez que o dirigente da Fifa se
envolve em polêmica com o governo brasileiro, porquanto, no ano passado, ele
foi bastante indelicado, ao afirmar que o Brasil precisava de "um chute no traseiro", por cobrar
agilidade das obras dos estádios de futebol e de mobilidade. Nada do que um pedido
de desculpas da Fifa para contornar a crise suscitada na ocasião. Não há dúvida de que o Brasil não tem um grão
de moral para se indignar contra as asneiras e tolices diferidas por esse
camarada, quando ele se refere às negociações com o governo brasileiro sobre as
exigências da Fifa e aos atrasos nas obras destinadas à Copa de 2014, haja
vista que o governo não teve competência para se inteirar previamente sobre os
detalhes das medidas que teriam que cumprir, o que teria evitado as indevidas
interferências da Fifa. Saltam aos olhos a incapacidade e a irresponsabilidade
do governo, que teve bastante tempo e muita folga para executar as obras da
copa, logo em seguida à escolha do país sede, mas preferiu deixar o tempo
correr para contratá-la mediante preços majorados, justamente devido à
exiguidade de tempo. Além de ser obrigado a tolerar as provocações por parte da
organização dos jogos, com a insinuação de incompetência, o país demonstra,
nesse episódio da Copa do Mundo, a total insensibilidade gerencial dos recursos
públicos, deixando patenteada a sua despreocupação com a seriedade e
austeridade, em se tratando da aplicação de dinheiros públicos. Antes de se
aventurar nessa loucura da construção de obras faraônicas dos estádios de
futebol, o país teria demonstrado maturidade e competência gerencial se tivesse
evitado os dispêndios bilionários com essas obras desnecessárias, para eventos
de apenas um mês, ficando as chamadas arenas à disposição das moscas, com
altíssimos custos de manutenção, verdadeiros elefantes inúteis como o de Brasília,
com o custo de quase 1,5 bilhão de reais. O governo tem obrigação de entender
que a construção de estádios é de interesse dos times de futebol, com recursos
próprios. Enquanto o governo se responsabiliza por obras prescindíveis, como as
arenas da copa, menospreza as obrigações do Estado, como as reais prioridades da nação e
da sociedade, a exemplo de assistência satisfatória à saúde pública; prestação
de ensino de qualidade; reestruturação do policiamento, para que haja segurança
para a população; e tantas outras atividades carentes dos recursos que foram
destinados injustificadamente para as obras da copa. Enquanto faltam verbas
para a implementação das ações de governo, que continuam pendentes de solução,
a Copa Mundial terá maciços investimentos, para a satisfação da vaidade de
governantes que ignoram as múltiplas e diversificadas mazelas brasileiras. Urge
que a sociedade se conscientize sobre a real necessidade de exigir que o governo
priorize políticas destinadas exclusivamente ao atendimento das carências
sociais. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 26 de abril de 2013
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