sábado, 27 de abril de 2013

Irresponsabilidade gerencial


No alto da sua prepotência, o secretário-geral da Fifa volta a dar declaração bombástica acerca da realização da Copa do Mundo de 2014, afirmando que a democracia do Brasil pode ser um problema para a organização do torneio. Ele não se conteve e disse: “Eu vou dizer uma coisa que é maluca, mas menos democracia, às vezes, é melhor para organizar uma Copa. Quando você tem um chefe de estado forte, que pode decidir, como talvez Vladimir Putin na Rússia em 2018, é mais fácil para nós, organizadores, do que em um país como a Alemanha, onde você tem que negociar em várias esferas. A principal dificuldade que temos é quando entramos em um país com estrutura política dividida, como é no Brasil, com três níveis, federal, estadual e municipal”. Como dificuldade, foi citada a aprovação da comercialização de bebidas alcoólicas nos estádios, no período da copa, por ter sido objeto de acaloradas discussões entre congressistas, que decidiram pela inclusão da matéria na Lei Geral da Copa, que ainda terá que ser aprovada individualmente pelos 12 estados que sediarão o evento. Ele concluiu dizendo que “Há pessoas diferentes, movimentos diferentes, interesses diferentes e é um pouco difícil organizar a Copa do Mundo nestas condições”. Não é a primeira vez que o dirigente da Fifa se envolve em polêmica com o governo brasileiro, porquanto, no ano passado, ele foi bastante indelicado, ao afirmar que o Brasil precisava de "um chute no traseiro", por cobrar agilidade das obras dos estádios de futebol e de mobilidade. Nada do que um pedido de desculpas da Fifa para contornar a crise suscitada na ocasião. Não há dúvida de que o Brasil não tem um grão de moral para se indignar contra as asneiras e tolices diferidas por esse camarada, quando ele se refere às negociações com o governo brasileiro sobre as exigências da Fifa e aos atrasos nas obras destinadas à Copa de 2014, haja vista que o governo não teve competência para se inteirar previamente sobre os detalhes das medidas que teriam que cumprir, o que teria evitado as indevidas interferências da Fifa. Saltam aos olhos a incapacidade e a irresponsabilidade do governo, que teve bastante tempo e muita folga para executar as obras da copa, logo em seguida à escolha do país sede, mas preferiu deixar o tempo correr para contratá-la mediante preços majorados, justamente devido à exiguidade de tempo. Além de ser obrigado a tolerar as provocações por parte da organização dos jogos, com a insinuação de incompetência, o país demonstra, nesse episódio da Copa do Mundo, a total insensibilidade gerencial dos recursos públicos, deixando patenteada a sua despreocupação com a seriedade e austeridade, em se tratando da aplicação de dinheiros públicos. Antes de se aventurar nessa loucura da construção de obras faraônicas dos estádios de futebol, o país teria demonstrado maturidade e competência gerencial se tivesse evitado os dispêndios bilionários com essas obras desnecessárias, para eventos de apenas um mês, ficando as chamadas arenas à disposição das moscas, com altíssimos custos de manutenção, verdadeiros elefantes inúteis como o de Brasília, com o custo de quase 1,5 bilhão de reais. O governo tem obrigação de entender que a construção de estádios é de interesse dos times de futebol, com recursos próprios. Enquanto o governo se responsabiliza por obras prescindíveis, como as arenas da copa, menospreza as obrigações do Estado, como as reais prioridades da nação e da sociedade, a exemplo de assistência satisfatória à saúde pública; prestação de ensino de qualidade; reestruturação do policiamento, para que haja segurança para a população; e tantas outras atividades carentes dos recursos que foram destinados injustificadamente para as obras da copa. Enquanto faltam verbas para a implementação das ações de governo, que continuam pendentes de solução, a Copa Mundial terá maciços investimentos, para a satisfação da vaidade de governantes que ignoram as múltiplas e diversificadas mazelas brasileiras. Urge que a sociedade se conscientize sobre a real necessidade de exigir que o governo priorize políticas destinadas exclusivamente ao atendimento das carências sociais. Acorda, Brasil!

 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

 
Brasília, em 26 de abril de 2013

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