sexta-feira, 12 de abril de 2013

Confissão de indignidade

O ex-ministro da Casa Civil da Presidência da República, condenado pelo Supremo Tribunal Federal a mais de dez anos no julgamento do mensalão, declarou em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo que o guitarrista, quando fazia campanha para ingressar no STF, lhe "assediou moralmente". Na sua versão, eles se reuniram num escritório de advocacia de conhecidos comuns, onde, sem nada haver perguntado, o então candidato a ministro "tomou a iniciativa de dizer que ia me absolver", "ele, de livre e espontânea vontade, se comprometeu com terceiros, por ter conhecimento do processo, por ter convicção". Embora não tivesse se manifestado sobre a imoral e indigna participação de outros ministros do Supremo, nitidamente simpatizantes da causa petista, o ex-ministro foi enfático ao dizer que o guitarrista "já deveria ter se declarado impedido de participar desse julgamento". Ao que tudo indica, o encontro do ex-ministro, totalmente sem ética, absolutamente desprovido de pudor e plenamente convicto que havia se convencido das vãs promessas de quem estava ávido para ser ministro do Supremo, faria qualquer sacrifício para tanto, mesmo que significasse seu comprometimento com a prática de ato sórdido, consistente na absolvição logo do arquiteto da mais famosa quadrilha da história republicana, daquele que, sob a firme orientação palaciana, dirigiu com singular maestria as operações pertinentes à compra da consciência de parlamentares, para votarem no Congresso projetos de interesse do governo. O certo é que diante da sublime importância do cargo em disputa, o guitarrista demonstrou que seria capaz de prometer o possível e impossível, inclusive empenhar sua alma ao demo. Convencido o ex-ministro sobre seus planos maquiavélicos, o guitarrista se tornou ministro da Excelsa Corte de Justiça, no início de 2011, por obra e graça da caneta presidencial, que teria sido, naturalmente, induzida pelas firmes orientações do então todo-poderoso petista. Não obstante, após a posse, o ministro do Supremo foi acometido de amnésia, jogou para o espaço as indecentes e levianas promessas e votou em coerente com os elementos constantes dos autos, impregnados de abundantes sujeiras e fatos apurados sobre a mais expressiva corrupção com recursos públicos, tendo se manifestado pela condenação do seu mais forte padrinho para a investidura na Suprema Corte de Justiça. O ex-ministro tem motivos mais do que justos para chorar a desilusão e decepção de ter sido enganado por alguém que demonstrou mais experiência e soube estrategicamente dá tapa de pelica àquele que construiu sua vida política circunstanciada por artimanhas e atos espúrios, nada dignos para os homens públicos, a exemplo da sua ativa participação no mensalão, que manchou a honra do povo brasileiro, e ainda nessa suja reunião com um candidato a ministro do Supremo, onde foi entabulada negociata para ele se livrar das suas imundícies praticadas contra a administração pública, conforme sua versão, que foi contada sem o menor constrangimento, como se isso fosse normal entre as pessoas honestas. O episódio tem o condão de evidenciar a falta de zelo e a indignidade das pessoas dos participantes do encontro para tratar de interesses promíscuos, porque os fins sórdidos para eles justificavam os meios, não importando suas consequências. A sociedade, estarrecida e indignada com o lamentável ocorrido, anseia por que os homens públicos aproveitem essa vergonhosa lição de falta de caráter, para se conscientizem sobre a necessidade de serem observados fielmente, nos seus atos, os princípios da administração pública, mesmo que seus interesses sejam o cerne das discussões, como forma de contribuir para a preservação da ética e da moralidade e a construção de um país decente e livre de corrupção. Acorda, Brasil!      
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 11 de abril de 2013

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