O ex-ministro da Casa Civil da Presidência da
República, condenado pelo Supremo Tribunal Federal a mais de dez anos no
julgamento do mensalão, declarou em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo que o guitarrista, quando fazia campanha para
ingressar no STF, lhe "assediou
moralmente". Na sua versão, eles se reuniram num escritório de
advocacia de conhecidos comuns, onde, sem nada haver perguntado, o então candidato
a ministro "tomou a iniciativa de
dizer que ia me absolver", "ele,
de livre e espontânea vontade, se comprometeu com terceiros, por ter
conhecimento do processo, por ter convicção". Embora não tivesse se
manifestado sobre a imoral e indigna participação de outros ministros do Supremo,
nitidamente simpatizantes da causa petista, o ex-ministro foi enfático ao dizer
que o guitarrista "já deveria ter se
declarado impedido de participar desse julgamento". Ao que tudo
indica, o encontro do ex-ministro, totalmente sem ética, absolutamente
desprovido de pudor e plenamente convicto que havia se convencido das vãs
promessas de quem estava ávido para ser ministro do Supremo, faria qualquer
sacrifício para tanto, mesmo que significasse seu comprometimento com a prática
de ato sórdido, consistente na absolvição logo do arquiteto da mais famosa
quadrilha da história republicana, daquele que, sob a firme orientação
palaciana, dirigiu com singular maestria as operações pertinentes à compra da
consciência de parlamentares, para votarem no Congresso projetos de interesse
do governo. O certo é que diante da sublime importância do cargo em disputa, o
guitarrista demonstrou que seria capaz de prometer o possível e impossível,
inclusive empenhar sua alma ao demo. Convencido o ex-ministro sobre seus planos
maquiavélicos, o guitarrista se tornou ministro da Excelsa Corte de Justiça, no
início de 2011, por obra e graça da caneta presidencial, que teria sido,
naturalmente, induzida pelas firmes orientações do então todo-poderoso petista.
Não obstante, após a posse, o ministro do Supremo foi acometido de amnésia, jogou
para o espaço as indecentes e levianas promessas e votou em coerente com os
elementos constantes dos autos, impregnados de abundantes sujeiras e fatos apurados
sobre a mais expressiva corrupção com recursos públicos, tendo se manifestado
pela condenação do seu mais forte padrinho para a investidura na Suprema Corte
de Justiça. O ex-ministro tem motivos mais do que justos para chorar a
desilusão e decepção de ter sido enganado por alguém que demonstrou mais
experiência e soube estrategicamente dá tapa de pelica àquele que construiu sua
vida política circunstanciada por artimanhas e atos espúrios, nada dignos para
os homens públicos, a exemplo da sua ativa participação no mensalão, que
manchou a honra do povo brasileiro, e ainda nessa suja reunião com um candidato
a ministro do Supremo, onde foi entabulada negociata para ele se livrar das
suas imundícies praticadas contra a administração pública, conforme sua versão,
que foi contada sem o menor constrangimento, como se isso fosse normal entre as
pessoas honestas. O episódio tem o condão de evidenciar a falta de zelo e a
indignidade das pessoas dos participantes do encontro para tratar de interesses
promíscuos, porque os fins sórdidos para eles justificavam os meios, não
importando suas consequências. A sociedade, estarrecida e indignada com o
lamentável ocorrido, anseia por que os homens públicos aproveitem essa
vergonhosa lição de falta de caráter, para se conscientizem sobre a necessidade
de serem observados fielmente, nos seus atos, os princípios da administração
pública, mesmo que seus interesses sejam o cerne das discussões, como forma de
contribuir para a preservação da ética e da moralidade e a construção de um
país decente e livre de corrupção. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 11 de abril de 2013
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