quinta-feira, 28 de novembro de 2013

A vergonha dos maus políticos

Uma filha do deputado federal licenciado e ex-presidente do PT, condenado pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do mensalão, no momento, cumprindo pena de prisão, criticou severamente o laudo médico expedido por cardiologistas, que concluíram que a doença do petista não é grave. O documento servirá para embasar a decisão do presidente da aludida corte sobre o pedido de prisão domiciliar do parlamentar. Em outro parecer, pedido pela Câmara dos Deputados, os médicos também decidiram que não foi constatada invalidez no deputado, o que impossibilitará a concessão da sua aposentadoria, que evitaria a cassação do seu mandato. Com base no resultado dos exames médicos, a nominada cidadã disse que “Finalmente Barbosa tem o que queria: um laudo médico, feito com meu pai já alimentado corretamente e medicado, e ao lado da família, dizendo que não, ele não tem nada grave. Ele quase morreu em julho”. Ela, que é não médica, mas como se dominasse amplamente a Ciência Médica, até mesmo mais do que os cardiologistas que assinaram o laudo, rechaça o documento, a par de discriminar a extrema precariedade das condições humanas oferecidas pelo Complexo Penitenciário da Papuda. A severa critica aos médicos extrapola o bom senso e o equilíbrio, no momento de dificuldade, ao ameaçá-los: “Vocês um dia sentirão na pele o que é agir com falta de humanidade e sem vergonha na cara”. Diante do desolador quadro delineado na sua nota, ela, final, arremata, in verbis: “No entanto, apesar de ser difícil, eu acredito que a justiça, não a dos homens, não falha jamais, e que vocês um dia sentirão na pele o que é agir com falta de humanidade e sem um mínimo de vergonha na cara. TENHO VERGONHA DO MEU PAÍS, QUE DEIXA QUE SE CONDENE UMA PESSOA À PENA DE MORTE ENQUANTO SEU ÚNICO ERRO FOI NÃO TER MEDO DE LUTAR PELOS DEMAIS”. Diante da situação, até parecem compreensíveis as incisivas e desatinadas declarações em comento, em especial em face do sentimento de puro amor filial, embora, de sã consciência, não assiste a menor razoabilidade para que ela diga, em virtude da expedição do laudo em questão, que tem vergonha do país, que permite a condenação do seu pai à pena de morte, apesar de o único erro dele ter sido a luta pelos demais (“cumpanheiros”, cidadãos, necessitados, guerrilheiros, comunistas...?). O certo é que o conteúdo da nota revela total truculência, intolerância e indelicadeza incompatíveis com os padrões de civilidade que se exigem do ser humano, mesmo em casos de extrema aflição, que jamais justificam tanta agressividade graciosa às pessoas, com colocações que procuram desqualificá-las e denegri-las tão somente pelo fato de terem cumprido fielmente seus deveres funcionais e deixado de satisfazer os interesses pessoais dela. Não se pode ignorar a indignação de quem tem o dever filial de defender seu pai, mas isso não dá direito para o emprego de argumentos fora do foco da realidade. É mais do que notório de que os médicos não poderiam se dobrar aos apelos das conveniências políticas nem pessoais, à vista de o quadro clínico do paciente indicar situação de menor gravidade, à luz dos exames clínicos, laboratoriais e demais perícias especializadas empregadas, não sinalizando para incapacidade em definitivo dele, que pode ser tratado com medicação e cuidados adequadamente acompanhados. A propósito da alusão ao único erro cometido pelo deputado ter lutado pelos demais, impende ressaltar que os fatos constantes do processo do mensalão contradizem essa assertiva. Na verdade, a soberana e indiscutível conclusão dos ministros do Supremo Tribunal Federal, notórios conhecedores das ciências jurídicas e constitucionais, mostra que o então presidente do PT também participou efetivamente da criminosa quadrilha que teve a vil engenhosidade de desviar dinheiros públicos para pagamento de propina a parlamentares, para aprovar projetos do governo no Congresso Nacional. Os elementos constantes dos autos, robustecidos por provas documentais, testemunhais, periciais e demais componentes legalmente válidos fundamentaram o veredicto definitivo da Excelsa Corte de Justiça, que o condenou pelos crimes de formação de quadrilha e corrupção passiva, fato este que demonstra, à toda evidência, que ele não é inocente sobre os atos irregulares que lhe são atribuídos, a exemplo das suas assinaturas dos contratos falsos ou irregulares para dar cobertura aos empréstimos de fachada, para garantir os recursos que alimentavam o caixa do mensalão. Na verdade, fazendo paródia à filha do parlamentar, com supedâneo nos fatos pertinentes ao julgamento do mensalão, parece lícito se concluir que o povo brasileiro tem vergonha dos homens públicos que desonraram e desprezaram os princípios da moralidade, do decoro e da dignidade, incluindo-se entre eles, por dever de justiça, o mensaleiro-mor objeto do laudo em comento, que não teve a dignidade de preservar a intransigente confiança da sua família, que continua acreditando que a sua participação no esquema que fraudou os cofres públicos, destinado à efetivação de atos irregulares, teve por propósito lutar pelos demais, quando, na realidade, a sua ação ou omissão contribuiu para a existência do maior escândalo da história republicana, mesmo que ele não tenha se beneficiado financeiramente, pois, no caso, a sua participação foi fundamental para que os fatos acontecessem de verdade. A sociedade deve rechaçar as frágeis tentativas de inabilitar os trabalhos construídos com competência e fundamentados em elementos capazes e indiscutivelmente irrefutáveis por meros sentimentos de antipatia à verdade. Acorda, Brasil!           
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 27 de novembro de 2013

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