terça-feira, 26 de novembro de 2013

As conveniências republicanas ou ...?

Quando houve a revelação de que o Brasil praticou espionagem contra diplomatas da Rússia, do Irá e do Iraque, nos idos de 2003 e 2004, deixando a moral da presidente da República rente ao chão, por ter criticado severamente os norte-americanos, o ministro da Justiça logo se antecipou para afirmar que esse tipo de espiolhar incursionado pelo Brasil e aquele objeto das denúncias protagonizadas pelos Estados Unidos da América são “completamente diferentes” e “absolutamente legais”. Antes do desmascaramento sobre as bisbilhotagens tupiniquins, a mandatária brasileira havia tido reações fortes, que extrapolaram o entendimento diplomático concernente às relações de cordialidade que devem imperar entre países amigos e civilizados, por não terem sido medidas as palavras para acusações, de maneira pesada, aos EUA de terem violado indevidamente a soberania de país independente, com o irregular acesso às informações consideradas de Estado, de empresa estatal, da presidente da República e de autoridades brasileiras, fatos que resultaram pedidos de justificativas e explicações minuciosas ao presidente americano e posterior cancelamento da viagem oficial que a presidente brasileira faria àquele país, como forma de represália inútil e de manifestação de sentimento exagerado sobre algo que, de verdadeiro, nada foi informado, porquanto o presidente americano não esboçou a menor sensibilidade à forma estranha como a petista conduziu os fatos, com exacerbada valorização e pitada de muita prepotência e superioridade, quase chegando a declarar a Terceira Guerra Mundial, tamanha a indignação exposta até na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas. À época, a presidente falou grosso e disse que "Não podemos conceber que o Brasil não tenha o respeito à soberania que ele merece. É impossível conceber, eu como presidente, aceitar negociar a soberania do país. Falar 'não, é possível espionar, sim', 'não, pode espionar a Petrobras'. Isso é inadmissível. Um presidente que fizer isso não merece a condição de presidente. Espionagem industrial não pode ter guarida em nações civilizadas". Não obstante, na visão das autoridades tupiniquins, o monitoramento de diplomatas nas bandas de cá é considerado legal, por ter havido interceptação normalmente autorizada e mais, segundo o ministro da Justiça: “Vejo situações completamente diferentes (ação do Brasil e dos EUA). Qualquer tentativa de confundi-las me parece equivocada. O que o Brasil sofreu foi violência do sigilo, violação de mensagens, de ligações. A violação dos Estados Unidos afronta a nossa soberania e o Brasil teve reação forte. E o mais importante, e vale ressaltar, ela (ação praticada pelo Brasil) foi feita em território nacional”. Na versão oficial, trata-se de monitoramento classificado como ação de "contraespionagem", que é procedimento que "todos os países fazem e têm de fazer", porque se trata do entendimento de que houve ação de espiões estrangeiros no Brasil e, nesse caso, exigiu-se a contraespionagem, para saber se eles estavam espionando ou não. Ou seja, a justificativa do governo, como sempre ocorre, é de que os outros países fazem a mesma contraespionagem que o Brasil fez e isso não fere a privacidade dos diplomatas espionados, mesmo porque a bisbilhotagem ocorreu dentro do país. É bastante estranho que os fatos de interesse do governo são tratados à luz das suas conveniências, a exemplo da transferência de patrimônio público para a iniciativa privada, que tem a denominação clara, quando promovida pela oposição, de privatização, procedimento completamente reprovável e inaceitável para os padrões e os costumes “ideológicos” petistas, mas, para eles, medida similar intitula-se simplesmente partilha, para não contrariar a mandatária do país, que havia dito, na campanha eleitoral que privatizar, no caso do petróleo, é crime contra o Brasil, enquanto partilhar o patrimônio dos brasileiros não o é. No caso da espionagem do Tio Sam, há, na concepção do governo tupiniquim, cristalina violação e ilegalidade às regras democráticas, ante a intromissão e violação à privacidade de autoridades e empresas brasileiras, porém o monitoramento protagonizado pelo Brasil tem o inofensivo significado de contrainteligência ou contraespionagem, com amparo na lei, sob o argumento da suspeição de que o governo brasileiro havia sido espionado, dando a entender que o povo é ingênuo e de pouca capacidade para compreender que espionagem vinda de fora é ilegal e bisbilhotagem ou contraespionagem, como queiram, produzida no Brasil é apenas mecanismo legal empregado pelos órgãos de informações para a obtenção de elementos do seu trabalho estratégico, que não fere interesses dos países envolvidos. Urge que os governantes tenham a sensibilidade e a consciência políticas suficientemente capazes de compreender que as repercussões de suas atitudes devem levar em conta, primacialmente, os interesses da nação, que não podem ser confundidos com razões de conveniências pessoais ou partidárias, com fins meramente eleitoreiros. Acorda, Brasil! 
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
                     
Brasília, em 25 de novembro de 2013

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