quinta-feira, 21 de novembro de 2013

O povo não aceita humilhação

A cúpula do mensalão petista que se encontra cumprindo pena na Papuda/DF expediu carta, que foi mostrada à imprensa, contendo denúncia de maus tratos na cadeia, exigindo "respeito à lei" e deixando consignada sua indignação por não aceitar "humilhação", ao preferir o "risco e a dignidade da luta". O ex-ministro da Casa Civil da Presidência da República, o ex-presidente do PT e atual deputado federal e o ex-tesoureiro do PT não estão usufruindo os privilégios que esperam na prisão, os quais cumprem pena em regime semiaberto, mas ainda não receberam autorização para a reclusão durante a noite e os finais de semana e dias não úteis. Talvez, por isso, eles estejam reclamando de humilhação e injustiças, embora os trâmites prisionais estejam transcorrendo observadas às praxes legais e regulamentares, com relação aos presos que se encontram nos locais destinados àqueles com direito ao cumprimento de penas no regime semiaberto. Não há dúvida de que, quando a pessoa política perde a liberdade à cidadania de ir, vir e agir, é normal a presunção do sentimento de real humilhação, considerando principalmente a relevância da posição que ela ocupa na sociedade, sempre merecedora das maiores deferências nos palácios, nas repartições públicas e no âmbito da sociedade e do empresariado, que se esforçaram para o merecimento da sua atenção e do seu prestígio. Não há dúvida de que essa humilhação não restitui nem repara os danos causados ao povo brasileiro, que foi obrigado a passar por alguma forma de privação e até de humilhação, em face do desvio dos dinheiros que alimentaram os cofres do mensalão, destinados à mera satisfação do governo para manter sob seu controle a consciência de alguns parlamentares, que se colocaram em posição de fidelidade aos caprichos do governo, na votação de seus projetos importantes. Para a sociedade, causa não somente humilhação o desvio de verbas públicas, mas a percepção da inexistência de determinação para os beneficiados do dinheiro da gatunagem não terem sido ainda obrigados a devolvê-lo, devidamente atualizado, às suas verdadeiras destinações, que poderiam ter sido à educação, saúde pública, segurança pública ou a outro programa de suma importância para a satisfação do interesse público, tão prejudicado pela falta de recursos. Embora os petistas, tanto os que estão presos como a sua cúpula, neguem com veemência, a existência dos fatos delituosos do mensalão, a sociedade mais conscientizada tem enorme dificuldade de desacreditar na altíssima competência dos ilustrados ministros do Supremo Tribunal Federal, que não tiveram a menor dúvida de dar seu veredicto sobre a culpabilidade dos réus integrantes do volumoso processo de milhares de laudas, com extensos depoimentos acusatórios, comprovados por incontestáveis provas circunstanciais, técnicas e legais acostadas aos autos, confirmando a veracidade das apurações. Não há dúvida de que, em atenção aos direitos humanos, a pessoa não pode nem deve ser humilhada quanto ao usufruto dos seus direitos de cidadania. No entanto, consoante confirmação pelas pessoas envolvidas e pelos elementos devidamente levantados, realmente houve pagamentos de propinas aos parlamentares, que se sujeitaram a dar apoio aos projetos do governo no Congresso Nacional, autorizadas pelos petistas presos, o que parece justificar as punições. Veja-se que as investigações concluíram, com base em substanciais provas materiais, testemunhais, periciais e outras revestidas de legalidade, que houve desvios de recursos públicos para o mensalão, gerenciado exatamente pelos líderes petistas que estão trancafiados, em razão de seus atos prejudiciais à sociedade. Há de se reconhecer que as verdadeiras humilhações existem nos corredores lotados dos hospitais, na péssima qualidade do ensino público, na exigência de absurdas burocracias das repartições públicas, na falta de segurança pública, nas estradas esburacadas e sucateadas, no transporte de pessoas e de cargas e nas demais políticas públicas da incumbência do governo, que, apesar das evidentes deficiências gerenciais do país, ainda consegue se manter na vanguarda das pesquisas de intenção de voto para a Presidência da República, o que bem demonstra o nível dos cidadãos brasileiros, que não têm dignidade para perceber o tamanho dos maus tratos e da falta de zelo para com o patrimônio público. O povo tem o dever cívico e moral de repudiar as mazelas causadas pela ineficiência da administração das verbas públicas e exigir que os governantes sejam capazes de estabelecer prioridades às políticas públicas, como forma possível de se evitar que a sociedade continue em estado de permanente humilhação, ante aos indecentes desvios dos recursos destinados à saúde, educação, segurança pública... Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 20 de novembro de 2013

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