Em
tom de desabafo e de irritação, o ex-presidente da República petista criticou,
com severidade, o destaque que a imprensa dá às suspeitas – nunca às irregularidades,
às corrupções, às falcatruas - envolvendo o Partido dos Trabalhadores. Ele foi
enfático, ao dizer que "Se alguém do
PT desviar um tostão, darão manchete maior do que se o outro lado roubar um
milhão. Essa mesma gente que nos
critica hoje puxava o saco de outros governos quando a inflação estava a 12%.".
O petista fez comentário sobre as condenações no julgamento do mensalão,
afirmando que "É por conta do nosso
sucesso. É por conta do ódio disseminado contra nós. Temos companheiros
condenados. Temos sentença dada. A pena de cada companheiro está determinada. O
que não pode é tripudiar sem respeitar o histórico das pessoas e a lei. O que
nós queremos é que a decisão seja cumprida tal como foi determinada.”. Na
ocasião, ele aproveitou para criticar a maneira como o partido é perseguido: “Para mim todo e qualquer cidadão deve ser
inocente até prova em contrario. A lei é para todos. Isso vale para nós e vale
para eles. Me parece (sic) que a lei
só vale para o PT.". O ex-presidente não se conforma que o histórico
das pessoas não seja sopesado no julgamento dos crimes por elas praticados,
como se o histórico fosse capaz, por si só, de imunizá-las, numa espécie de
endeusamento que pode tudo, inclusive participar de esquema de corrupção e
formação de quadrilha para desviar recursos públicos para pagamento de propina
a parlamentares, sem sofrer qualquer punição. A valorização do histórico
pessoal não se impõe, como insinua o petista, porquanto a sua pureza se
manifesta naturalmente pelos atributos heroicos de seus detentores, mas o direito
de decantá-la foi derrogado automaticamente para aqueles arrolados no mensalão,
que tiveram a reputação arruinada diante dos fatos evidenciados pela Excelsa Corte de Justiça, sendo
enquadrados nos crimes de formação de quadrilha e de corrupção passiva. Infelizmente,
o povo é responsável por delegar superpoderes aos maus políticos deste país,
que se acham superiores às leis e aos princípios institucionais da ética e da
moral, além de considerar soberanos e inquestionáveis seus atos, mesmo que eles
não se coadunem com os preceitos do decoro e da dignidade, ante a
impossibilidade de haver desvinculação entre si. Há evidente insatisfação da
cúpula petista pelo fato de os seus correligionários terem sido questionados, censurados
e punidos, justamente por se envolverem em atos irregulares e delituosos da
maior gravidade contra os interesses do país, pela caracterização da maior
torpeza e monstruosidade na figura do abominável mensalão, causando enorme abalo
às estruturas republicanas, que o “moralismo” governista se recusa a
compreender como falha grave. O ex-presidente expõe completo sentimento de
onipotência e de prepotência jamais visto na história deste país, contrastando
com a liturgia a ser necessariamente seguida pelos homens públicos conscientes
da responsabilidade de cultuar e respeitar, com o devido rigor, os princípios
democráticos e constitucionais, em especiais os deveres cívicos da dignidade,
decência e probidade no trato com a coisa pública, como forma de contribuir
para o engrandecimento da nação. Nos países evoluídos e desenvolvidos, os
ex-presidentes são venerados e respeitados ao extremo por seus atos dignificantes
de exemplo e de defesa dos bons costumes, com incitação ao povo para a salutar
prática do bem e da honestidade. No
país onde ainda se desfruta da liberdade de manifestação e de imprensa e os
meios de comunicação ainda são livres, por força de disposições
constitucionais, para publicar e denunciar os casos de corrupção e de irregularidades
com recursos públicos, é graças à imprensa que a sociedade fica conhecendo e
acompanhando as falhas, as falcatruas, as negociatas, as alianças indecentes e
os danos causados ao seu patrimônio, que somente ocorrem fruto da falta de
capacidade administrativa do Estado para controlar a execução do orçamento da
União, que exige competência dos governantes para evitar desvio de recursos
públicos. Mesmo cometendo graves irregularidades com dinheiros públicos, a
exemplo do monumental escândalo do mensalão, com a sua engenhosidade montada
para desvio de verbas públicas, conforme chancela da Suprema Corte de Justiça,
para alimentar o esquema da propina paga a parlamentares, para votar nos
projetos do governo, nada disso tem significância como desabono aos princípios
éticos, morais e de decoro, evidentemente, à luz da visão "moralista"
petista, que dá entendimento de que enxerga a administração pública como
patrimônio a serviço da politicagem, a exemplo das coalizões fisiológicas e das
alianças espúrias, em troca de alguns minutos no horário eleitoral da TV, e de
outros atos indignos. A ilação que se pode extrair da indignação do
ex-presidente é que a imprensa deveria se alinhar ao seu arcaico e indecente pensamento,
no sentido de nada ver e nada perceber, como se os erros fizessem parte do dia
a dia da sociedade, que deve fechar os olhos para irregularidades e corrupção
na administração pública, imaginando-se que os cofres públicos pertencem a
todos e não há necessidade de probidade para administrar o país, que, quanto
mais desgovernado, melhor para se perceber que o desenvolvimento é algo
inalcançável depois da linha do Equador e que o povo menos evoluído e sem
instrução aceita facilmente que o país prescinde de competência gerencial e de
seriedade. A sociedade precisa se conscientizar, com urgência, sobre a
premência de serem excluídos da política os homens públicos que fazem apologia
à impunidade pelas práticas de irregularidades com recursos públicos, em que
pese isso caracterizar flagrante desprezo aos salutares princípios do decoro,
da probidade, da ética, da moral, da dignidade e do respeito às normas constitucionais
e legais, sob o conceito de democracia hodierna que as nações evoluídas fazem questão
de preservar e de observar como regra de Estado. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 24 de novembro de 2013
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