segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Sentimento de eterna onipotência

Em tom de desabafo e de irritação, o ex-presidente da República petista criticou, com severidade, o destaque que a imprensa dá às suspeitas – nunca às irregularidades, às corrupções, às falcatruas - envolvendo o Partido dos Trabalhadores. Ele foi enfático, ao dizer que "Se alguém do PT desviar um tostão, darão manchete maior do que se o outro lado roubar um milhão. Essa mesma gente que nos critica hoje puxava o saco de outros governos quando a inflação estava a 12%.". O petista fez comentário sobre as condenações no julgamento do mensalão, afirmando que "É por conta do nosso sucesso. É por conta do ódio disseminado contra nós. Temos companheiros condenados. Temos sentença dada. A pena de cada companheiro está determinada. O que não pode é tripudiar sem respeitar o histórico das pessoas e a lei. O que nós queremos é que a decisão seja cumprida tal como foi determinada.”. Na ocasião, ele aproveitou para criticar a maneira como o partido é perseguido: “Para mim todo e qualquer cidadão deve ser inocente até prova em contrario. A lei é para todos. Isso vale para nós e vale para eles. Me parece (sic) que a lei só vale para o PT.". O ex-presidente não se conforma que o histórico das pessoas não seja sopesado no julgamento dos crimes por elas praticados, como se o histórico fosse capaz, por si só, de imunizá-las, numa espécie de endeusamento que pode tudo, inclusive participar de esquema de corrupção e formação de quadrilha para desviar recursos públicos para pagamento de propina a parlamentares, sem sofrer qualquer punição. A valorização do histórico pessoal não se impõe, como insinua o petista, porquanto a sua pureza se manifesta naturalmente pelos atributos heroicos de seus detentores, mas o direito de decantá-la foi derrogado automaticamente para aqueles arrolados no mensalão, que tiveram a reputação arruinada diante dos fatos evidenciados pela Excelsa Corte de Justiça, sendo enquadrados nos crimes de formação de quadrilha e de corrupção passiva. Infelizmente, o povo é responsável por delegar superpoderes aos maus políticos deste país, que se acham superiores às leis e aos princípios institucionais da ética e da moral, além de considerar soberanos e inquestionáveis seus atos, mesmo que eles não se coadunem com os preceitos do decoro e da dignidade, ante a impossibilidade de haver desvinculação entre si. Há evidente insatisfação da cúpula petista pelo fato de os seus correligionários terem sido questionados, censurados e punidos, justamente por se envolverem em atos irregulares e delituosos da maior gravidade contra os interesses do país, pela caracterização da maior torpeza e monstruosidade na figura do abominável mensalão, causando enorme abalo às estruturas republicanas, que o “moralismo” governista se recusa a compreender como falha grave. O ex-presidente expõe completo sentimento de onipotência e de prepotência jamais visto na história deste país, contrastando com a liturgia a ser necessariamente seguida pelos homens públicos conscientes da responsabilidade de cultuar e respeitar, com o devido rigor, os princípios democráticos e constitucionais, em especiais os deveres cívicos da dignidade, decência e probidade no trato com a coisa pública, como forma de contribuir para o engrandecimento da nação. Nos países evoluídos e desenvolvidos, os ex-presidentes são venerados e respeitados ao extremo por seus atos dignificantes de exemplo e de defesa dos bons costumes, com incitação ao povo para a salutar prática do bem e da honestidade. No país onde ainda se desfruta da liberdade de manifestação e de imprensa e os meios de comunicação ainda são livres, por força de disposições constitucionais, para publicar e denunciar os casos de corrupção e de irregularidades com recursos públicos, é graças à imprensa que a sociedade fica conhecendo e acompanhando as falhas, as falcatruas, as negociatas, as alianças indecentes e os danos causados ao seu patrimônio, que somente ocorrem fruto da falta de capacidade administrativa do Estado para controlar a execução do orçamento da União, que exige competência dos governantes para evitar desvio de recursos públicos. Mesmo cometendo graves irregularidades com dinheiros públicos, a exemplo do monumental escândalo do mensalão, com a sua engenhosidade montada para desvio de verbas públicas, conforme chancela da Suprema Corte de Justiça, para alimentar o esquema da propina paga a parlamentares, para votar nos projetos do governo, nada disso tem significância como desabono aos princípios éticos, morais e de decoro, evidentemente, à luz da visão "moralista" petista, que dá entendimento de que enxerga a administração pública como patrimônio a serviço da politicagem, a exemplo das coalizões fisiológicas e das alianças espúrias, em troca de alguns minutos no horário eleitoral da TV, e de outros atos indignos. A ilação que se pode extrair da indignação do ex-presidente é que a imprensa deveria se alinhar ao seu arcaico e indecente pensamento, no sentido de nada ver e nada perceber, como se os erros fizessem parte do dia a dia da sociedade, que deve fechar os olhos para irregularidades e corrupção na administração pública, imaginando-se que os cofres públicos pertencem a todos e não há necessidade de probidade para administrar o país, que, quanto mais desgovernado, melhor para se perceber que o desenvolvimento é algo inalcançável depois da linha do Equador e que o povo menos evoluído e sem instrução aceita facilmente que o país prescinde de competência gerencial e de seriedade. A sociedade precisa se conscientizar, com urgência, sobre a premência de serem excluídos da política os homens públicos que fazem apologia à impunidade pelas práticas de irregularidades com recursos públicos, em que pese isso caracterizar flagrante desprezo aos salutares princípios do decoro, da probidade, da ética, da moral, da dignidade e do respeito às normas constitucionais e legais, sob o conceito de democracia hodierna que as nações evoluídas fazem questão de preservar e de observar como regra de Estado. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 24 de novembro de 2013

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