Causa estranheza que, em pleno século XXI, a par dos
significativos e importantes avanços e conquistas do ser humano, em que os
conhecimentos científicos, tecnológicos, cibernéticos etc. revolucionaram
completamente a compreensão quanto à valorização da humanidade, ainda se pense
em ideias arcaicas e ultrapassadas de criação de cotas para proteção de
determinada classe social, em prejuízo de outras, como essa que acaba de ser
instituída para a reserva de 20% para negros no serviço público federal. Diante
disso, é totalmente inconcebível que, na atualidade, a etnia negra seja tratada
como sub-raça, colocada em condições de inferioridade em relação às demais pessoas,
como se estas fossem possuidoras de dons intelectuais superiores a outras
raças. Causa espécie que os negros aceitem pacificamente a condição de gentes incapacitadas,
ineptas, a galgar, em igualdade de condições, posições e colocações acessíveis
às demais raças, a revelar patente inferioridade humana, respaldada sempre por
atos das autoridades republicanas, que deveriam, ao contrário, promover medidas
socioculturais no sentido de valorização, de maneira uniforme, das pessoas,
indistintamente de raças, cor ou qualquer sentimento de sociabilidade. Ao invés
de incentivar e estimular a mediocridade sobre a aceitação da condição de
desqualificação e de inferioridade, o governo deveria se sensibilizar que as
cotas estigmatizam e denigrem a imagem dos beneficiários, pela tentativa de reconhecer
que eles são realmente incapazes de competição. Causa perplexidade se verificar
que a criação de cotas trata-se de motivação estritamente eleitoreira, por
servir de inspiração nada edificante como iniciativa de cunho visivelmente discriminatório,
em contrariedade aos princípios que solidificam os direitos humanos. Na concepção
atual de modernidade dos recursos humanos, compete aos governantes promoverem
políticas públicas visando à eliminação de desigualdade e de discriminação
entre as pessoas, como forma de fortalecimento do crescimento humanitário. Essa
estupidez da criação de cotas contribui, de forma irresponsável, para estigmatizar
o paradigma de que o negro, tendo sido castigado, no passado, pelo homem
branco, foi prejudicado pela sociedade e deve continuar sendo eterna vítima
desse passado tenebroso, como marca indelével que não faz sentido permanecer
pesando na consciência da atual geração, que não teve participação nos eventos
escravagistas nem deles se beneficiou. A nova geração tem o dever de mudar e
mentalidade daqueles que ainda defendem erroneamente a necessidade de reparação
histórica, como se os afrodescendentes fossem seres inferiores, despreparados e
incapazes de enfrentar seus conflitos, que não diferem em nada daqueles encarados
pelos demais seres humanos. O mais grave dessas cotas é que o governo as
utiliza em proveito próprio, a título da indevida reparação de algo que a sociedade
não deve, mas é eternamente cobrada, como se ela devesse em nome de geração que
não herdou qualquer benefício. Na verdade, as cotas só aumentam a dependência e
a exigência de mais facilidades injustificáveis, quando o correto seria a promoção
de políticas contemplando educação de qualidade, especialização, profissionalização
e, principalmente condições favoráveis à concorrência, em igualdade de
preparação, no mercado de trabalho público e privado, para os brasileiros,
porque ninguém, em harmonia com os princípios fundamentais dos direitos
humanos, pode ser considerado inferior nem carente de intelectualidade, a
exigir que haja essa famigerada reserva de cotas no serviço público ou noutras
situações, por revelarem nítidas discriminação e incapacidade de competição
entre os seres humanos. A continuar nessa injustificável linha protecionista,
os negros vão permanecer com o sentimento de eternos perseguidos e carentes de
exclusivas ajudas do Estado, como se somente eles tivessem a primazia de se
beneficiar das indevidas e infindáveis cotas governamentais, que contribuem
cada vez mais para a falta de interesse ao preparo e à qualificação das gerações
de determinadas raças. Compete ao governo estudar, com urgência, medidas que
consolidem, de forma séria e responsável, mecanismos que possibilitem a melhoria
das condições de vida das classes realmente carentes, sem que isso implique
violação aos princípios fundamentais dos direitos humanos, em especial quanto à
igualdade de oportunidade de ascensão no trabalho para todos, indistintamente.
Não há dúvida de que as vergonhosas cotas raciais são forma de pobreza criativa,
retrocesso histórico e irracionalidade, pela evidência da odiosa e repugnante divisão
dos brasileiros em brancos e negros, contribuindo para fortalecer o distanciamento
que jamais deveria ser estimulado com medida antagônica aos saudáveis princípios
humanitários, que têm por propósito a união, integridade e harmonia nas
relações entre as pessoas, independentemente, em especial, da cor da pele, que
não deveria servir para motivar privilégios, segregações e discriminações. A
sociedade tem o dever cívico e humanitário de recriminar a adoção do abominável
e retrógrado paradigma da cultura protecionista, na vã e enganosa tentativa de
reparação de algo do passado que não diz respeito à atual geração, quando se
trata mesmo de satisfação de objetivo político, em prejuízo da adoção de medidas
visando à preparação intelectual, ao apoio moral e à ajuda do Estado para que
os brasileiros de quaisquer raças possam participar desse plano e se beneficiar
sem discriminação, mas em harmonia com os princípios verdadeiramente republicanos
e humanitários, com a garantia de serem assegurados direitos e obrigações em igualdade
para os brasileiros. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 10 de novembro de 2013
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