segunda-feira, 21 de abril de 2014

A indecorosidade em ação

Em que pese o parlamentar petista ter confessado na tribuna da Câmara dos Deputados seu sujo envolvimento com um doleiro paranaense que se encontra preso nos porões da Polícia Federal, por participar, segundo levantamento feito pela operação Lava Jato, como um dos líderes do esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas que movimentou cerca de R$ 10 bilhões, seu partido, que é o mesmo que governa o país, apenas teve a iniciativa de constituir comissão para ouvir o acusado e de fazer pressão para que ele renunciasse ao cargo de deputado, simplesmente sob o argumento de que a repercussão negativa do caso venha a ter impacto na imagem do partido e na campanha à reeleição da presidente da república, o implica se inferir que não fosse a proximidade do pleito eleitoral, nada seria feito contra a quebra de decoro em apreço. Percebe-se que o partido governista não considera irregularidade o uso de avião fretado por doleiro, para viagem particular do petista, que admitiu a existência do fato, nem que isso fira de morte o decoro parlamentar e seja capaz de sujar completamente os princípios da ética, moralidade e legalidade, sujeitando o envolvido a arcar incontinenti com as consequências legais, inclusive com o afastamento do cargo, caso houvesse seriedade na política. Se fossem observados os critérios de honestidade e moralidade, entre outros princípios fundamentais da democracia, a partir do momento que o deputado corrupto confessasse o grave crime, não se justifica sequer que ele continue no usufruto do direito de representar a sociedade e muito menos de participar das atividades parlamentares, tendo em vista que a sua conduta indecorosa não condiz com o exercício de cargos públicos eletivos e muito menos com a dignidade que se exige dos homens públicos. Urge que os estatutos dos partidos estipulem que corruptos sejam excluídos automaticamente de seus quadros, como forma ética e moral de possibilitar a depuração das sujeiras políticas que não podem conviver com os princípios modernos de democracia. Nos países desenvolvidos político e democraticamente, os próprios envolvidos em atos de corrupção são os primeiros a reconhecer que a sua participação política se encerra no momento que se tornou indigno ante aos costumes que se impõem a observância aos saudáveis princípios da honestidade, moralidade e legalidade, sob pena de continuar contribuindo, de maneira vergonhosa e deprimente, com a irresponsável e criminosa impunidade, muito própria de muitos políticos sem compromisso com os princípios democráticos. Numa verdadeira democracia, que não admite a politicagem e os procedimentos desmoralizantes visando à continuidade no poder, onde são permitidos os conchavos, as tolerâncias com irregularidades e corrupção, como forma de acomodação política, a exemplo desse indecente caso do deputado petista, os atos espúrios são punidos com a perda do mandato eletivo, justamente porque a quebra do decoro é também a forma mais clara de que o homem público não tem mais condição ética e moral para representar coisa alguma, muito menos a dignidade do povo que o elegeu. Aliás, somente nas republiquetas ainda é possível a convivência de corruptos com os partidos políticos, com o Parlamento, com os governantes, com os empresários, com as instituições organizadas da sociedade e com o próprio povo, que os elegeu, tendo em vista a dificuldade de compreender que a modernidade democrática já atingiu níveis de desenvolvimento ainda não alcançados por elas, que ainda se encontram em estágio comparável à idade da pedra lascada. É evidente que países que ficaram estagnados no tempo, por culpa da própria sociedade, que se acomodou e permitiu que o anacronismo político predominasse como forma de sistema político antagônico à modernidade contemporânea, devem pagar por seus erros, ficando à míngua de estadistas que tenham a visão de vanguarda e de competência para realizar as imprescindíveis e urgentes reformas estruturais do Estado, sob pena de a nação ser obrigada a ficar eternamente administrada sob o pensamento retrógrado do subdesenvolvimento e da pobreza político, administrativa e democraticamente. Por tudo de ruim que vem acontecendo politicamente nos últimos anos no país, não parece estranho que os partidos políticos considerem normal que um deputado corrupto continue afrontando, de forma abusiva e desmedida, a dignidade do povo brasileiro, ao impor sua “autoridade” para permanecer exercendo importante cargo público eleitoral, sem as restrições que deveriam ser imediatamente aplicáveis aos corruptos confessos, como no caso em comento. Ao povo brasileiro se exige a indispensável dignidade, não somente para repudiar os atos de corrupção como para se exigir a promoção de reforma política que seja capaz de transformar a atual vexatória situação político-eleitoral de plena desmoralização em sistema de dignidade e de respeito aos princípios verdadeiramente democráticos, com a imposição da seriedade que o país já merece há bastante tempo. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 20 de abril de 2014

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