Em que pese o
parlamentar petista ter confessado na tribuna da Câmara dos Deputados seu sujo
envolvimento com um doleiro paranaense que se encontra preso nos porões da
Polícia Federal, por participar, segundo levantamento feito pela operação Lava
Jato, como um dos líderes do esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas
que movimentou cerca de R$ 10 bilhões, seu partido, que é o mesmo que governa o
país, apenas teve a iniciativa de constituir comissão para ouvir o acusado e de
fazer pressão para que ele renunciasse ao cargo de deputado, simplesmente sob o
argumento de que a repercussão negativa do caso venha a ter impacto na imagem
do partido e na campanha à reeleição da presidente da república, o implica se
inferir que não fosse a proximidade do pleito eleitoral, nada seria feito
contra a quebra de decoro em apreço. Percebe-se que o partido governista não considera
irregularidade o uso de avião fretado por doleiro, para viagem particular do
petista, que admitiu a existência do fato, nem que isso fira de morte o decoro
parlamentar e seja capaz de sujar completamente os princípios da ética,
moralidade e legalidade, sujeitando o envolvido a arcar incontinenti com as
consequências legais, inclusive com o afastamento do cargo, caso houvesse
seriedade na política. Se fossem observados os critérios de honestidade e moralidade,
entre outros princípios fundamentais da democracia, a partir do momento que o
deputado corrupto confessasse o grave crime, não se justifica sequer que ele
continue no usufruto do direito de representar a sociedade e muito menos de
participar das atividades parlamentares, tendo em vista que a sua conduta
indecorosa não condiz com o exercício de cargos públicos eletivos e muito menos
com a dignidade que se exige dos homens públicos. Urge que os estatutos dos
partidos estipulem que corruptos sejam excluídos automaticamente de seus
quadros, como forma ética e moral de possibilitar a depuração das sujeiras
políticas que não podem conviver com os princípios modernos de democracia. Nos
países desenvolvidos político e democraticamente, os próprios envolvidos em
atos de corrupção são os primeiros a reconhecer que a sua participação política
se encerra no momento que se tornou indigno ante aos costumes que se impõem a
observância aos saudáveis princípios da honestidade, moralidade e legalidade,
sob pena de continuar contribuindo, de maneira vergonhosa e deprimente, com a
irresponsável e criminosa impunidade, muito própria de muitos políticos sem
compromisso com os princípios democráticos. Numa verdadeira democracia, que não
admite a politicagem e os procedimentos desmoralizantes visando à continuidade
no poder, onde são permitidos os conchavos, as tolerâncias com irregularidades
e corrupção, como forma de acomodação política, a exemplo desse indecente caso
do deputado petista, os atos espúrios são punidos com a perda do mandato
eletivo, justamente porque a quebra do decoro é também a forma mais clara de
que o homem público não tem mais condição ética e moral para representar coisa
alguma, muito menos a dignidade do povo que o elegeu. Aliás, somente nas
republiquetas ainda é possível a convivência de corruptos com os partidos
políticos, com o Parlamento, com os governantes, com os empresários, com as
instituições organizadas da sociedade e com o próprio povo, que os elegeu,
tendo em vista a dificuldade de compreender que a modernidade democrática já
atingiu níveis de desenvolvimento ainda não alcançados por elas, que ainda se
encontram em estágio comparável à idade da pedra lascada. É evidente que países
que ficaram estagnados no tempo, por culpa da própria sociedade, que se
acomodou e permitiu que o anacronismo político predominasse como forma de
sistema político antagônico à modernidade contemporânea, devem pagar por seus
erros, ficando à míngua de estadistas que tenham a visão de vanguarda e de
competência para realizar as imprescindíveis e urgentes reformas estruturais do
Estado, sob pena de a nação ser obrigada a ficar eternamente administrada sob o
pensamento retrógrado do subdesenvolvimento e da pobreza político, administrativa
e democraticamente. Por tudo de ruim que vem acontecendo politicamente nos
últimos anos no país, não parece estranho que os partidos políticos considerem
normal que um deputado corrupto continue afrontando, de forma abusiva e
desmedida, a dignidade do povo brasileiro, ao impor sua “autoridade” para
permanecer exercendo importante cargo público eleitoral, sem as restrições que
deveriam ser imediatamente aplicáveis aos corruptos confessos, como no caso em
comento. Ao povo brasileiro se exige a indispensável dignidade, não somente
para repudiar os atos de corrupção como para se exigir a promoção de reforma
política que seja capaz de transformar a atual vexatória situação
político-eleitoral de plena desmoralização em sistema de dignidade e de
respeito aos princípios verdadeiramente democráticos, com a imposição da
seriedade que o país já merece há bastante tempo. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 20 de abril de 2014
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