quarta-feira, 16 de abril de 2014

Negócio bom, pra quem?

A presidente da Petrobras não titubeou em afirmar, em audiência no Senado Federal, que a aquisição da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), "não foi um bom negócio" para a estatal. Ela disse que, do custo total de US$ 1,25 bilhão, houve significativo prejuízo à Petrobras da ordem de US$ 530 milhões, ou seja, pouco menos da metade da compra foi jogado pelo ralo, em cristalino desperdício de recursos públicos, que a presidente da República resiste à apuração de responsabilidades. A presidente da estatal afirmou que “Hoje, olhando aqueles dados, não foi um bom negócio, não pode ser um bom negócio. Quando você tem de tirar do seu resultado, não há como reconhecer que tenha feito um bom negócio. Isso é inquestionável do ponto de vista contábil. Na época, a aquisição foi aprovada por unanimidade e estava dentro da diretriz da estatal de expandir o refino de óleo no exterior. Trata-se de contradição do que foi dito pelo antecessor dela, em audiência na Câmara dos Deputados, quando classificou a aquisição como "bom negócio", coincidindo com explicações dadas pela presidente da República, quando justificou o fato de ter aprovado a compra da refinaria em 2006, cujo Conselho de Administração da Petrobras era presidido pela mandatária do país. Não deixa de ser intrigante que a principal empresa brasileira tenha passado por processo de evidente perda patrimonial e negligência gerencial, com expressivos prejuízos decorrentes de ingerência palaciana, má gestão, corrupção, empreguismo político e uma série de operações desastrosas, mas o governo tem a indecência e a irresponsabilidade de atribuir à oposição de querer fazer uso da estatal para fins eleitoreiros, quando deveria ter a dignidade de se associar àqueles que estão querendo passar a limpo o mar de sujeira que resultou na quebra patrimonial da empresa e determinar a imediata apuração das irregularidades, para os fins de responsabilização dos culpados, que fatalmente irá recair também sobre a pessoa da presidente do país, que não teve competência gerencial para frear expressivo rombo nos cofres da estatal. As investigações no Senado devem cuidar de averiguar quem realmente se beneficiou da malversação de recursos públicos, haja vista que o rombo de quase a metade do negócio alguém certamente levou vantagem financeira na negociata, em se tratando que a compra da refinaria ocorreu em 2006 e ninguém teve a dignidade de denunciar o prejuízo causado à Petrobras, dando a entender que o silêncio seria benéfico ao esquecimento do negócio mal sucedido e prejudicial ao país. A confirmação do mau negócio acena para a necessidade de profunda e abrangente investigação na gestão anterior, como forma de se verificar a regularidade dos seus atos. Pelo menos com relação à compra da refinaria de Pasadena, a oposição não precisa se preocupar em investigar o tamanho do rombo, porque o valor do prejuízo foi dado de bandeja pela presidente da Petrobras, se é que ele está correto, que atingiu a bagatela de pouco mais de meio milhão de dólares. Também já são sabidos os culpados pelo dano causado aos cofres da estatal, que são a presidente da República e seus pares no Conselho de Administração da empresa, por terem autorizado o negócio. A menos que a oposição queira checar se a presidente da estatal está realmente falando a verdade, mas, na dúvida e por cautela, é preferível investigar os fatos a fundo. Há aproximadamente uma semana, o ex-presidente da Petrobras afirmou, na Câmara, que a compra da refinaria de Pasadena foi um bom negócio para a estatal, em contraposição ao que se afirma, agora, a presidente da empresa, com a maior convicção de que a estatal contabilizou o prejuízo de US$ 530 milhões. Esse é o retrato fiel da falta de sentimento de sinceridade, quando não deveria haver hipocrisia e falsas afirmações, em se tratando da aplicação de recursos públicos. Veja-se que o então presidente sabia que se tratava de mau negócio, mas preferiu mentir descaradamente, ao assegurar o contrário, para fugir da responsabilidade. Seria o caso não somente de responsabilização dos culpados, mas também de cadeia para os aproveitadores do dinheiro público. Não há a menor dúvida de que é devido à mentalidade despreparada e à menor consciência cívica da maioria dos brasileiros que o país se encontra atolado em corrupção, mentiras e mediocridades, sem perspectiva de sair dessa lastimável situação de penúria administrativa. A incontrolada e indiscriminada distribuição de renda, como o Bolsa Família, tem contribuído para a formação de bolsões de brasileiros parasitas, incapazes de produzir, trabalhar e arranjar emprego, bem assim de aquilatar a eficiência da administração do país, porquanto existe a certeza do benefício, ainda que minguado, no final do mês. Qualquer governo mediano, que nem precisa ter índole socialista, percebe com clareza que o Estado, não o partido, tem obrigação constitucional e legal de assistir as famílias carentes, mas não na forma ineficiente, destrambelhada e descontrolada, como vem ocorrendo com a desorganização do cadastramento dos beneficiários. A sociedade precisa se conscientizar sobre a conveniência e a necessidade de o país ser administrado por estadista que tenha responsabilidades estritamente democrática e republicana de enxergar senão a realidade dos fatos e de ser intransigente com as irregularidades na administração pública. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 15 de abril de 2014

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