quinta-feira, 24 de abril de 2014

Incompreensível defesa da incompetência

A escrachada derrota do governo no Supremo Tribunal Federal, ao mandar que o Senado Federal instaure a Comissão Parlamentar de Inquérito restrita, como quer a oposição, para investigar os desmandos e a esculhambação que dominam a gestão da Petrobras, acena para enormes dificuldades que o governo terá de enfrentar ante a transparência a ser dada aos atos e fatos que levaram à quase ruína a maior empresa brasileira. Não há dúvida de que a decisão da Suprema Corte de Justiça põe por terra as injustificáveis manobras pelas quais os governistas tentaram melar a iniciativa da oposição de levantar as sujeiras existentes, há bastante tempo, nos porões da estatal, cuidadosamente camufladas e acobertadas com o beneplácito do Palácio do Planalto, que vem utilizando seu poder para acomodação de apadrinhados políticos, de ingerência quanto à política de preços dos combustíveis, para que os indispensáveis aumentos não interfiram nas campanhas eleitorais dos candidatos petistas, além de negócios malfeitos, com sensíveis prejuízos aos acionistas da empresa, fazendo com que os resultados operacionais tenham sido deficitários, há algum tempo. Agora não adiante criar novos embaraços para atrasar a instalação da CPI e a indicação de seus integrantes, porque isso evidencia cada vez mais que o governo teme a transparência que a sociedade exige sobre os fatos causadores de infortúnios ao patrimônio nacional. O certo é que o governo cometeu enorme erro ao tentar jogar a sujeira da Petrobras para debaixo do tapete do Congresso Nacional, onde encontrou ressonância nas pessoas que deveriam pensar primacialmente na importância do país, nesse momento especial por que passa a estatal, depois de ter sido objeto de indevidas e injustificáveis explorações políticas. É lamentável que somente alguns poucos maus brasileiros tenham demonstrado insensibilidade perante a notória má gestão da estatal, cuja continuidade só contribui para aumentar a criminosa sangria aos seus cofres. À toda evidência, constitui desprezo à responsabilidade cívica a atuação de pessoas em defesa da administração do país, que elegeu, como prioridade, a distribuição de renda por meio do único programa governamental, o reverenciado Bolsa Família, e mesmo assim sem ter ainda conseguido sequer cadastrar os verdadeiros beneficiários, que são as famílias carentes, na forma da sua instituição. Também é incompreensível que haja defensores para a administração que não conseguiu investir em obras de impacto, capazes de contribuir para o desenvolvimento do país, mas insiste em comparar suas realizações com o governo anterior. É induvidoso que qualquer governo de competência mediana estaria se preocupando com as prioridades que interessam a satisfação das causas da sociedade e do país, com a aprovação de programas para execução no presente e no futuro, ao invés de ficar atrelado às realizações passadas, cujas condições temporais, materiais e econômicos são totalmente diferentes da atualidade, quando a humanidade foi beneficiada com importantes conquistas pelos novos conhecimentos científicos e tecnológicos, fatores estes que contribuíram significativamente para que nenhuma comparação seja feita com relação às realizações passadas e recentes, sob pena de se incorrer em tremenda injustiça de avaliação, pela impossibilidade da utilização de parâmetros válidos e justificáveis, dada a disparidade de épocas, até mesmo com relação aos programas assistenciais, que são absolutamente necessários nos tempos atuais, ante a imperiosa exigência de o Estado, por força de incumbência constitucional, ser obrigado a promover distribuição de renda às pessoas comprovadamente carentes. Isso significa se afirmar que, qualquer governo, não importando o partido ou a ideologia política, não pode se vangloriar de manter programas assistenciais, porque isso decorre de obrigação constitucional e legal de promovê-los, assegurando assistência básica às famílias sem recursos para a subsistência. Na verdade, não existe, por parte desse governo, nenhum mérito na destinação de recursos públicos para a manutenção do programa Bolsa Família, por ser imposição constitucional que governo algum pode recusá-la. Aliás, os fatos mostram que, apesar do gerenciamento desse programa, por longos 12 anos, o governo ainda não tem certeza se as famílias assistidas são realmente os verdadeiros beneficiários carentes para os quais o programa foi instituído, ante a enorme dificuldade do cadastramento, da fiscalização e do controle pertinentes, a exemplo das constantes denúncias de irregularidades de pagamentos a seres estranhos ao seu beneficiamento, inclusive a animais, como gato, cachorro etc. Enfim, como defender a administração que foi incapaz de realizar, ainda que  minimamente, as tão necessárias reformas estruturais do Estado, que funcionariam como importante e eficiente instrumento de modernização e aperfeiçoamento da infraestrutura administrativa do país, fato esse muito prejudicial ao interesse nacional, por propiciar, de forma negligente, o distanciamento da nação ao acompanhamento do salutar desenvolvimento observado em plena consecução nos países do primeiro mundo, que conseguem contornar as dificuldades econômicas com menores esforços do que o país tupiniquim, que amarga sofrível desempenho econômico, conforme revelam os seguidos resultados do Produto Interno Bruto - PIB, que não consegue acompanhar a evolução econômica dos países emergentes. Além do mais, os brasileiros percebem, diante da clareza solar, que as questões de competência constitucional e legal do Estado estão sendo empilhadas, dia após dia, nos porões do Palácio do Planalto, à espera de imediata solução por estadista que tenha sensibilidade e competência política, social, econômica e principalmente administrativa, ante a alarmante insegurança que grassa no país, com a visível falta de combate à violência; a decadência da prestação dos serviços hospitalares, educacionais e de infraestrutura; a anárquica corrupção no serviço público; os maus exemplos de impunidade; o anacronismo da legislação do país, cujo arcabouço jurídico se encontra defasado da realidade dos fatos; o inchamento da máquina pública e o desperdício de recursos públicos, por mau gerenciamento, inclusive nas estatais; o estrangulamento da economia, por absurdos encargos tributários, previdenciários etc.; entre tantas deficiências e precariedades que somente contribuem para que não seja recomendável a defesa dos atos da administração do país, por não se ajustarem ao real interesse público. Os brasileiros devem se conscientizar de que nenhum partido será capaz de resolver sozinho os graves problemas social, político e econômico do país, salvo se houver urgente mobilização social para o entendimento de que o Brasil está acima de qualquer interesse pessoal ou partidário, como forma do estabelecimento de responsabilidades solidárias quanto à atribuição cívica que compete ao cidadão, com vistas à moralização político-administrativa e à conscientização sobre a necessidade de o país ser passado urgentemente a limpo, independentemente das ideologias partidárias e dos interesses políticos. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 23 de abril de 2014

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