quinta-feira, 3 de abril de 2014

Humildade para o desenvolvimento

A presidente da República disse, depois de a agência de classificação de risco Standard & Poor’s ter rebaixado a nota de crédito soberano do Brasil, que “Tão pouco nos abalaremos com julgamentos apressados, com conclusões precipitadas que a realidade desmentirá. Todos sabemos que, em economia, a realidade sempre se impõe. Em alguns momentos, expectativas, especulações, avaliações e até mesmo interesses políticos podem obscurecer a visão objetiva dos fatos. Para nós, o que importa é que continuaremos a agir para manter o país no rumo certo, sem abdicar em nenhum momento do nosso compromisso fundamental com a solidez da economia e com a inclusão e o desenvolvimento social e ambiental do país”. Como é sabido, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s rebaixou a nota de crédito soberano do Brasil, que reflete a confiança de investir no país, de “BBB” para “BBB-”. A S&P também mudou a perspectiva do rating de negativa para estável. Na verdade, a nova classificação de risco de investimento ainda não é preocupante, porque mantém o país com grau de investimento, em condições de confiança recomendável para aplicações financeiras, mas é o último degrau para dar adeus a essa classificação ainda positiva. Por sua vez, a mudança havida assegura perspectiva de estabilidade, em termos de avaliação, indicando que a S&P não deve fazer novos rebaixamentos no curto prazo. Não obstante, na sua justificativa, a Standard & Poor’s apontou sinais pouco claros da política econômica do governo federal, que enfrenta um frágil quadro fiscal e também a desaceleração do crescimento do país. O S&P deixou muito claro que o rebaixamento do rating reflete a combinação de “derrapagem orçamentária”, permeada por perspectivas de “crescimento moderado nos próximos anos”, baixo volume de investimentos, “capacidade restrita” para ajustar a política antes das próximas eleições presidenciais e “algum enfraquecimento das contas externas do país”. Antes do pronunciamento presidencial, rechaçando a avaliação da economia brasileira, o Ministério da Fazenda já havia se manifestado, em resposta à S&P, classificando a decisão da S&P de “contraditória com a solidez e os fundamentos do Brasil” e “inconsistente com as condições da economia brasileira”. Embora o rebaixamento da nota de risco tenha por base fatores econômicos válidos e realistas, o governo vai continuar de mãos juntas contestando a análise feita por quem entende da matéria e tem autoridade para estabelecer orientação aos investidores do mundo, afirmando, sem apresentar elementos consistentes, que a avaliação está incorreta. Na verdade, qualquer crítica feita ao governo e à administração do país não passa de julgamento apressado e de avaliações precipitadas, quando o correto seria a presidente ter a humildade de aceitar democraticamente o resultado de avaliações sobre sua administração, com vista a adotar medidas pertinentes ao saneamento das questões suscitadas, como forma capaz de abdicar da prepotência e da superioridade que se baseiam em fundamentos destituídos de consistência fática, os quais não foram levados em consideração pela S&P, que, em estrito respeito à dignidade da sua função institucional, analisou os fatos sob à ótica da realidade da administração econômica brasileira. Na há dúvida de que o país passa por grave crise de gerenciamento, envolvendo a realização da Copa do Mundo, com possíveis turbulências sociais; alta do preço da energia elétrica; aumento da inflação; elevação dos combustíveis após eleições; incontrolável crescimento dos índices de criminalidade; indiferença com os alarmantes gastos públicos; descontrole dos fundamentos econômicos; péssima qualidade dos serviços púbicos, a exemplo da saúde, educação, segurança pública, transportes, infraestrutura, saneamento básico; entre outras precariedades que terão suas potencialidades afloradas logo após as próximas eleições, porquanto nenhuma medida antipopular poderá ser adotada antes delas, para não prejudicar o único projeto petista de perenidade no poder, que despreza as reais armadilhas preparadas intrapalacianas contra a nação e a sociedade, prestes a serem disparadas a qualquer momento. Vive-se num país em que os programas assistencialistas são utilizados para encobrir inverdades, falácias, mentiras, incompetências, politicagens, deficiências e tantas outras precariedades, todas prejudiciais aos interesses da nação, mas elas existem em nome do idealismo nefasto da continuidade do poder e do enfraquecimento e da fragilidade da dignidade das instituições sociais e dos princípios democráticos, contribuindo para que a nação se torne cega, mouca e completamente incapaz de reação contra o subdesenvolvimento socioeconômico, que vem caminhando a passos largos, com o respaldo da classe política, cada vez mais subserviente ao poder dominante e autoritário. Não se esperava da presidente outra senão interpretação distorcida da avaliação da Standard & Poor's, que na sua justa, responsável e competente avaliação, aponta sinais pouco claros da política econômica do governo brasileiro, que enfrenta frágil quadro fiscal, representado pelo frouxo controle das contas públicas, a par da nítida desaceleração do crescimento econômico do país. Na verdade, a presidente não move uma pena no sentido de enxugar os gastos do governo, que são sufocados principalmente pelo inchamento da máquina pública, pesada e inoperante, com estrutura que contraria os princípios da boa administração. Não chega a ser surpresa a reação indiferente do governo sobre a avaliação abalizada de quem tem competência para se manifestar sobre o desempenho da economia, não somente brasileira, mas mundial. A presidente desdenha sobre a avaliação do desempenho do seu governo, talvez por acreditar que a sua gestão se encontra acima de qualquer suspeita e ninguém seria capaz de fazê-la melhor. A falta de humildade tem o condão de dificultar a aceitação de possível falha e de se curvar à realidade dos fatos, que poderiam ser melhores compreendidos se houvesse compreensão quanto à sua dimensão e aos seus reflexos nos destinos da sociedade e do país. Por cento, haveria importante contribuição para os princípios democráticos e para o desenvolvimento do país se os homens públicos se dignassem a enxergar os fatos não somente sob a visão pessoal, mas na forma como eles se apresentam, sob a ótica da sua realidade, em respeito às causas estritamente nacionais, com embargo do momento político ou dos interesses político-partidários ou pessoais. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 02 de abril de 2014

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