A presidente da República disse, depois de a agência de classificação de
risco Standard & Poor’s ter rebaixado a nota de crédito soberano do Brasil,
que “Tão pouco nos abalaremos com
julgamentos apressados, com conclusões precipitadas que a realidade desmentirá.
Todos sabemos que, em economia, a realidade sempre se impõe. Em alguns momentos, expectativas,
especulações, avaliações e até mesmo interesses políticos podem obscurecer a
visão objetiva dos fatos. Para nós, o que importa é que continuaremos a agir
para manter o país no rumo certo, sem abdicar em nenhum momento do nosso
compromisso fundamental com a solidez da economia e com a inclusão e o
desenvolvimento social e ambiental do país”. Como é sabido, a agência de
classificação de risco Standard & Poor’s rebaixou a nota de crédito
soberano do Brasil, que reflete a confiança de investir no país, de “BBB” para
“BBB-”. A S&P também mudou a perspectiva do rating de negativa para estável. Na verdade, a nova classificação
de risco de investimento ainda não é preocupante, porque mantém o país com grau
de investimento, em condições de confiança recomendável para aplicações
financeiras, mas é o último degrau para dar adeus a essa classificação ainda
positiva. Por sua vez, a mudança havida assegura perspectiva de estabilidade,
em termos de avaliação, indicando que a S&P não deve fazer novos
rebaixamentos no curto prazo. Não obstante, na sua justificativa, a Standard
& Poor’s apontou sinais pouco claros da política econômica do governo federal,
que enfrenta um frágil quadro fiscal e também a desaceleração do crescimento do
país. O S&P deixou muito claro que o rebaixamento do rating reflete a
combinação de “derrapagem orçamentária”,
permeada por perspectivas de “crescimento
moderado nos próximos anos”, baixo volume de investimentos, “capacidade restrita” para ajustar a
política antes das próximas eleições presidenciais e “algum enfraquecimento das contas externas do país”. Antes do
pronunciamento presidencial, rechaçando a avaliação da economia brasileira, o
Ministério da Fazenda já havia se manifestado, em resposta à S&P,
classificando a decisão da S&P de “contraditória
com a solidez e os fundamentos do Brasil” e “inconsistente com as condições da
economia brasileira”. Embora o rebaixamento da nota de risco tenha por base
fatores econômicos válidos e realistas, o governo vai continuar de mãos juntas
contestando a análise feita por quem entende da matéria e tem autoridade para
estabelecer orientação aos investidores do mundo, afirmando, sem apresentar
elementos consistentes, que a avaliação está incorreta. Na verdade, qualquer
crítica feita ao governo e à administração do país não passa de julgamento
apressado e de avaliações precipitadas, quando o correto seria a presidente ter
a humildade de aceitar democraticamente o resultado de avaliações sobre sua administração,
com vista a adotar medidas pertinentes ao saneamento das questões suscitadas,
como forma capaz de abdicar da prepotência e da superioridade que se baseiam em
fundamentos destituídos de consistência fática, os quais não foram levados em
consideração pela S&P, que, em estrito respeito à dignidade da sua função
institucional, analisou os fatos sob à ótica da realidade da administração
econômica brasileira. Na
há dúvida de que o país passa por grave crise de gerenciamento, envolvendo a
realização da Copa do Mundo, com possíveis turbulências sociais; alta do preço
da energia elétrica; aumento da inflação; elevação dos combustíveis após
eleições; incontrolável crescimento dos índices de criminalidade; indiferença
com os alarmantes gastos públicos; descontrole dos fundamentos econômicos;
péssima qualidade dos serviços púbicos, a exemplo da saúde, educação, segurança
pública, transportes, infraestrutura, saneamento básico; entre outras
precariedades que terão suas potencialidades afloradas logo após as próximas
eleições, porquanto nenhuma medida antipopular poderá ser adotada antes delas,
para não prejudicar o único projeto petista de perenidade no poder, que despreza
as reais armadilhas preparadas intrapalacianas contra a nação e a sociedade,
prestes a serem disparadas a qualquer momento. Vive-se num país em que os
programas assistencialistas são utilizados para encobrir inverdades, falácias,
mentiras, incompetências, politicagens, deficiências e tantas outras
precariedades, todas prejudiciais aos interesses da nação, mas elas existem em
nome do idealismo nefasto da continuidade do poder e do enfraquecimento e da
fragilidade da dignidade das instituições sociais e dos princípios
democráticos, contribuindo para que a nação se torne cega, mouca e completamente
incapaz de reação contra o subdesenvolvimento socioeconômico, que vem
caminhando a passos largos, com o respaldo da classe política, cada vez mais
subserviente ao poder dominante e autoritário. Não se esperava da presidente outra senão
interpretação distorcida da avaliação da Standard & Poor's, que na sua justa,
responsável e competente avaliação, aponta sinais pouco claros da política
econômica do governo brasileiro, que enfrenta frágil quadro fiscal,
representado pelo frouxo controle das contas públicas, a par da nítida
desaceleração do crescimento econômico do país. Na verdade, a presidente não
move uma pena no sentido de enxugar os gastos do governo, que são sufocados
principalmente pelo inchamento da máquina pública, pesada e inoperante, com
estrutura que contraria os princípios da boa administração. Não chega a ser
surpresa a reação indiferente do governo sobre a avaliação abalizada de quem
tem competência para se manifestar sobre o desempenho da economia, não somente
brasileira, mas mundial. A presidente desdenha sobre a avaliação do desempenho do
seu governo, talvez por acreditar que a sua gestão se encontra acima de
qualquer suspeita e ninguém seria capaz de fazê-la melhor. A falta de humildade
tem o condão de dificultar a aceitação de possível falha e de se curvar à
realidade dos fatos, que poderiam ser melhores compreendidos se houvesse
compreensão quanto à sua dimensão e aos seus reflexos nos destinos da sociedade
e do país. Por cento, haveria importante contribuição para os princípios democráticos
e para o desenvolvimento do país se os homens públicos se dignassem a enxergar
os fatos não somente sob a visão pessoal, mas na forma como eles se apresentam,
sob a ótica da sua realidade, em respeito às causas estritamente nacionais, com
embargo do momento político ou dos interesses político-partidários ou pessoais.
Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 02 de abril de 2014
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